O céu estava nublado, como de costume naquele lugar. As nuvens eram um roxo sujo e opaco que ameaçavam uma tempestade elétrica. O chão era feito de uma terra dura. Minha irmã sempre disse que aquele lugar tinha cheiro da morte, quando eu estive lá com ela compreendi o que ela queria dizer. Aquele lugar era o habitat dos chamados Bandersnatch – você pode pensar em Alice no País das maravilhas porque esse conto, assim como esse animal tem base nas coisas de minha época. Minha irmã, a qual liderava o exército, tinha a missão de exterminar aquela raça odiosa, eles estavam quase em extinção, aquele era para ser o último. ela queria me ensinar a matar monstros e a me defender.
Eu nunca pensei que a primeira vez que eu acompanharia ela ao campo de batalha fosse a última...
Aquelas bestas eram enormes: do tamanho de uma casa ou talvez mais dependendo da idade; recém-nascidos tinham no mínimo tamanho de carro ou um pouco mais; pelos brancos, com manchas roxas em variado lugares; olhos negros feito tinta nanquim; mas o principal era sua mandíbula que, ao contrário do resto do seu corpo era transparente como vidro, graças a isso era possível ver os dentes que se afiavam como agulhas com pontas íngremes. Os dentes que um dia foram brancos agora tinham a carne de todos que ele já havia dilacerado ali, da boca escorria um suco que se revelava sangue.
Era uma carnificina.
Nele, não havia nada que o defendesse, até mesmo sua personalidade era formada por sede de sangue, sadismo, irracionalidade, entre outras mais crueldades.
Vestida com uma espécie de armadura, que realçava seu corpo, cobrindo o tórax, os bíceps e os joelhos, da cor branca com detalhes em ouro, a armadura em si era feita de uma mistura de diamante com aço, isso deixava um efeito de um prata esbranquiçado brilhante acompanhada disso ela usava uma saia magenta escuro com uma meia calça preta e botas de couro com salto e amarra. Uma roupa que a maioria das pessoas pensaria não ser adequada para se lutar com um daqueles monstros, mas digamos apenas que o meu tempo desafia as leis do seu mundo.
Ela me deu uma espada dizendo "me de cobertura", ela sorria, enquanto eu estava apavorada, mas mesmo assim concordei. Ela começou a correr me dando antes um sinal para esperar quieta. Ela estava tão foca, afinal o primeiro golpe era decisivo, acerte-o no olho e a dor o cegará o deixando vulneráveis; a audição deles é o único ponto forte por ser um pouco mais elevada que a nossa, por isso desde pequenos todos aprendem a correr sem fazer barulho, claro que se pode usar magia, mas as pessoas mais fortes utilizam apenas das próprias habilidades. Pessoas como a minha irmã, que foi um prodígio em combate desde pequena, e a maioria daqueles no exército.
Com seus pés se movendo como a luz ela saltou, e quase voando no ar ela ergue a espada feita de diamante negro. Mas era minha primeira vez, e todas essas coisas que eu expliquei a vocês eu não sabia, então cometi um erro, um erro trágico.
Eu gritei, e gritei "cuidado"
Ela virou-se para me olhar, e essa fração de segundo gasta foi o suficiente para que ele a notasse e a prendesse em sua boca. Todos os soldados estavam longe demais para fazer algo. Eu fui obrigada a ver minha esbelta irmã ser dilacerada; ela pedia ajuda e tentava lutar, mas era tudo inútil, suas pernas e braço direito já haviam se tornado liquido que corria à garganta dele, quando sua cabeça foi finalmente perfurada por um dos dentes ela parou de se mover; o monstro a engoliu com prazer, como se não fosse nada.
Eu estava paralisada, amaldiçoando meus olhos que pareciam dar zoom a todo o ato. Em minha mente eu gritava "se mexa, faça alguma coisa, qualquer coisa, mas faça algo", mas eu fui incapaz de fazer. Miku que estava no mesmo corpo que eu se sentia igual – inútil.
Mas algo em meu sangue o fazia ferver, uma raiva que até então desconhecia, e eu finalmente entendi o significado de sede de sangue e de vingança. Correndo desesperada, mesmo sabendo que era tarde demais, eu levei a espada que recebera antes, preparada para o combate, gritando. O meu luto foi algo que até hoje espero nunca mais sentir. A besta me notava, olhava e se preparava, mas ninguém sabe o que esperar de um ódio nunca sentido.