Tarde demais

#16 - Nosso segredo

       Sophie encomendou muitas roupas para o bebê de Elizabeth à uma costureira para crianças no vilarejo. Mrs. Dorrit, uma velha que possuía um grande ateliê, com as rendas mais modernas vindas de Paris, não se fez de modesta na hora de orçar sua encomenda. Minha irmã quase implorou para que eu a acompanhasse naquela tarde de verão. O mês de setembro estava quase chegando e este era o último detalhe para os preparativos de sua viagem. Ela e papai partiriam dali à dois dias. 
       - Sentirei sua falta Sophie. - choramingou Anastácia, enquanto abraçava minha irmã, ao encontrá-la quando saíamos da loja. - Tem certeza de que não vai viajar, Joana? - me perguntou de forma carinhosa. 
       - Não irei. - respondi. - A senhorita será sempre bem vinda para me visitar! Quando quiser! - Pisquei um dos olhos tentando parecer amigável. 
       Então percebi que ela não estava sozinha. Mr. Sharman vinha logo atrás e parecia estar escutando toda a conversa. Ele fez uma reverência para nós e retribuímos em cortesia.
       - Vocês poderiam ir para Woodcottage, para termos um chá da tarde hoje. - convidou Anastácia. - Assim, ficarei com uma boa recordação de minha amiga, enquanto estiver longe!
       Sophie animou-se, mas logo desfez o sorriso. Percebeu que eu não iria para Woodcottage. A última coisa que eu queria era dar de cara com Jane como Mrs. Sharman e ter que fazer-lhe companhia durante toda a tarde. 
       - Acho que não poderei ir hoje. Prometi que ajudaria o nosso pai com uns afazeres. - menti. - Mas Sophie deve aceitar, sim. Ficará um mês fora, deixará muitas saudades!
        Os olhos de Sophie brilharam e ela concordou em acompanhar Anastácia à Woodcottage.              - Eu e Edward não estamos com a carruagem hoje. Viemos no cavalo dele, para tentar chegar mais rápido ao vilarejo. - disse Anastácia, tentando aparentemente, calcular como elas poderiam ir à Woodcottage e eu retornar para Clarence Hill. 
       - Preciso da carruagem para carregar as roupas do bebê de Elizabeth. - Sophie disse, também pensando no que poderia fazer. 
       - Sem problemas. Vocês podem ir com a carruagem, já que só possuem um único cavalo aqui. - retruquei. - Eu posso caminhar até a propriedade. O dia está quente e me fará bem caminhar um pouco.
       - Não é seguro caminhar por este caminho. - falou Anastácia em tom dramático. - Soube de assaltos e coisas horríveis com senhoritas caminhando desacompanhadas por toda a Inglaterra.   
      - Eu já fiz este caminho antes e é perfeitamente seguro. - falei com veemência. - Em pouco mais de meia hora já estarei em casa. 
       - Acredito que Edward pode levá-la em seu cavalo. - falou com um sorriso travesso, enquanto encurralava o irmão com essa afirmação. 
       Edward assentiu, enquanto encarava o sorriso da irmã.
      - Não é necessário! Obrigada! - falei decidida. Fiz uma reverência e apressei o passo, me distanciando dos três. 
       Pouco tempo depois, já deixava o vilarejo, rumo ao bosque, tentando percorrer o caminho mais longo para chegar em casa. Precisava pensar em muita coisa. Talvez não fosse tão ruim visitar Elizabeth, me distanciar daquele lugar um pouco me faria bem.
      Gotas grossas de chuva começaram a cair com uma força impressionante. Chuvas de verão não eram tão comuns assim naquela região, mas esta caiu torrencialmente, me deixando encharcada em menos de dois minutos. Minhas botas eram fortes, aguentavam uma boa chuva, mas meu vestido logo amoleceu como se fosse feito de papel. O vento, me deixava com frio, embora o tempo estivesse quente. O céu nublara repentinamente. 
       O barulho de uma carruagem se aproximava, me fazendo caminhar para o lado da trilha, abrindo passagem. Pensei que passaria direto, mas a carruagem diminuiu o ritmo, enquanto uma voz conhecida chamou o meu nome. O cocheiro e os cavalos completamente molhados.
       - Joana. - Edward disse. Vendo que ignorei, chamou mais alto. 
       - Joana, você pode entrar, por favor?
       - Não é necessário. - falei, tentando não olhar para o lado. - Vá embora. 
       Ele desceu da carruagem que se movimentava lentamente. Seus cabelos logo ficaram encharcados pela chuva e gotas de água pingavam de seu nariz. Segurou o meu braço e falou ainda mais alto para que eu pudesse ouvi-lo através da chuva. 
       -Tem algo que preciso dizer. - disse, fazendo meu coração saltitar. Parou de caminhar, enquanto aproximava seu corpo do meu, diminuindo a distância entre nós.