CAPÍTULO 13

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D U L C E   M A R I A


E pensei até buscar-lhe em outros lábios

Sentir-lhe em outras mãos 

E borrar nosso passado 

E já não dar-te atenção 

Esse coração que mente

E que tenta parecer valente

Mas não pode deixar-te de pensar 

Esse coração que mente

Lembra-me que não sou tão forte

Pois não consigo deixar-te de amar

De amar.


Leio e releio, recito, repito como um mantra. Tento me lembrar das coisas que sentia quando o escrevi, e é claro que lembro, tão vívido que queima.

Impossível não ler este poema e não lembrar do dia em que Rodrigo me disse verdades que na época não via, ou não queria ver. Furiosamente o escrevi, pensando em Christopher outra vez e em todo aquele pesadelo que eu vivia, acorrentada em aviões que me levavam a mil lugares diferentes me dando a superficial sensação de liberdade, até eu me ver sozinha novamente em algum quarto de hotel ou apartamento, com a alma vazia e o coração gelado.

É reconfortante saber que tudo passa.


Há dois anos atrás...


-Você sabe que ainda o amo. -Digo, me afastando e fechando os botões de minha blusa e cobrindo meu busto exposto. -Desculpe, não consigo.

Rodrigo suspira.

Aproxima-se de mim e contorna meu rosto entre suas mãos. Olhando bem em meus olhos, com o rosto cansado, me diz:

-Eu sei. Eu sei. -Dá outro suspiro longo- você sabe que te respeito, não lhe obrigaria a nada.

-Não tenho dúvidas quanto à isso. -Me apresso em dizer- Eu gosto muito de você, mas...

-Já sei o que vai dizer.

Fecho os olhos com força. Sei que o que estou fazendo com ele é errado, dando-lhe esperanças quando não sinto nada, sendo rasa enquanto ele quase me afoga com sua compreensão; é desesperador não poder ser-lhe recíproca, sobretudo, quando sei que ele mais que merece toda uma coisa real.

-Não posso mais. -Digo, por impulso completo, apesar de que em meu consciente, seja verdade.- Não consigo sentir o mesmo que você.

O desapontamento preenche sua face, seus olhos azuis escurecendo como o céu num dia chuvoso.

-Você nem sequer tentou, eu sei que não estava disposta, mas tudo bem. Ao menos foi franca comigo o tempo todo. -Ele fala, passando a mão em sua camiseta, a desamassando, olhando pra qualquer ponto do meu apartamento que não fosse o meu rosto pintado pelo constrangimento.

-Rodrigo...

-Você está se privando por algo que não pode acontecer agora, mas que ainda tem esperanças que aconteça algum dia...Que ele volte pra você, tal como você idealiza todos os dias, nos seus poemas, nos sonhos, nos pensamentos e até quando está comigo, você deseja que fosse ele a estar te tocando.

Ele sai disparando palavras como se fossem balas mirando em mim, acertando-me em cheio. No primeiro instante penso em me defender, dizer à ele que está errado, que minha vida não gira em torno de Christopher e que não, não estou à espera dele, que não estou esperando que ele chegue em um cavalo branco e que sejamos feliz para sempre, anulando um mundo sem passado, sem um casamento com minha irmã, sem que eu tenho fugido dele e de todos naquele dia, enquanto o céu caía em forma de água em Londres e meu mundo perfeito desmoronava. E no instante seguinte desisti, aquela mentira nem sequer convencia a mim mesma.

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora