CAPITULO 19

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AO ENTARDECER, EM FAVOR DA MINHA ANSIEDADE, Christopher finalmente pareceu se lembrar de mim, sua voz parecia meio cansada através do telefone  e eu tentava não demonstrar meu descontentamento por sua saída repentina logo pela manhã. Depois dele explicar detalhadamente com argumentos dignos de uma redação dissertativa, consegui afastar o tom meio seco da minha voz e ser mais compreensível para com ele e sua rotina carregada de trabalho, afinal eu -digo, nós- é algo novo em sua rotina, teríamos que nos adaptar a isso.  Mesmo com seu visível cansaço ele me convidou para jantarmos juntos na casa de seu pai, algo casual, dissera ele. Aceitei o convite, não devia ser tão difícil encarar seu pai depois de tanto tempo, mesmo que ele fosse o principal responsável por nossa separação. Pelo menos não devia ser tão difícil quanto fora encarar Natália, encorajei-me.

Foi esse pensamento que mantive durante o trajeto de minha casa até a casa de Christopher, ele insistira para me buscar, mas pedi para papai que me levasse, o que ele fez sem questionar, mesmo que sua expressão tenha ficado estranhamente ilegível diante de meu pedido.  Eu esperava que Christopher não estivesse agindo como que para afrontar seu pai sobre nossa relação sem rotulo, - eu ainda não sabia como nos definir- era tudo o que eu menos queria nessa noite.

Christopher nos esperava na entrada de sua casa, com um jeans e camiseta preta meio amarrotada, não pude deixar de suspirar com aquela visão e minha barriga protestou no mesmo instante, sôfrega. Também agradeci por não ter me arrumado tanto; vestia também um jeans e camiseta branca por debaixo da minha jaqueta, já que fazia frio.                                                           Pude ver Christopher se inclinar sobre a janela aberta de meu pai e perguntar a ele se não queria ficar para o jantar, meu pai educadamente recusou o convite, alegando demasiado trabalho para fazer e Christopher assentiu meneando sua mão como se os dois falassem a mesma língua e se entendessem. Mas pude sentir meu pai relaxar, enquanto Christopher abria a porta do passageiro para mim e me puxava para um abraço apertado logo em seguida. Também tive a oportunidade de sentir meu corpo descontrair em meio ao contato com o corpo dele. A sensação sempre parecia nova e revigorante.

-Senti saudades- Ele disse, seu peito oscilando por sua respiração acelerada. 

Eu sorri. 

-Eu também. Demais. 

Fiquei nas pontas dos pés e lhe dei um beijo.

Ouvi um ruído estranho logo atrás de nós, por um instante havia esquecido que meu pai ainda estava alí. Escondi o rosto no pescoço de Christopher e dei uma gargalhada, podia imaginar o rosto dele um pouco corado agora e meu pai um tanto quanto desconcertado.

-Bom -disse meu pai, cauteloso- tenham uma noite agradável. Se cuide, Dulce.

Eu assenti e lhe pedi que não se preocupasse. 

-Ela está em boas mãos. -Respondeu Christopher.

-Não tenho dúvidas. 

Pensei ter visto um pequeno esboço de um sorriso nos lábios de meu pai, quando ele foi embora.

Entramos de mãos dadas e eu havia esquecido todo o nervosismo anterior.

A casa de Christopher havia mudado muito desde a ultima vez em que pus os pés lá. A primeira coisa que dei por falta fora os grandes quadros de fotografia de Alexandra que, talvez num universo paralelo, ocupavam quase que cada espaço nas imensas paredes da mansão dos Uckermann. A ausência de Alexandra alí era esmagadora, me perguntava  se Christopher poderia estar compartilhando da mesma sensação que eu, ao mesmo tempo em que conseguia imaginar os quadros de Alexandra empacotados e esquecidos no porão da casa dela, como uma má lembrança. Será que ela sentia a falta do ex-marido mesmo depois de tanto tempo? E ele?

Meus pensamentos se dispersaram quando chegamos na ampla sala- também bem diferente do que eu costumava lembrar- e pude ouvir duas risadas vindo do sofá, uma masculina e outra feminina. Uma das perguntas na minha mente se responderam automaticamente. 

-Boa noite. -Disse e tentei um sorriso, que saiu amarelo.

-Oh, Dulce, querida! boa noite...meu Deus, como você mudou! - Victor exclamou.

A dona da voz feminina pertencia à mulher que estava em seu colo, loira e esbelta, que de pronto se levantou para que Victor viesse me dar um abraço, que não sei definir exatamente como foi. Logo a bela moça viera também me dar um abraço bem caloroso, como se já nos conhecêssemos e não pude evitar retribuir, e pensei se talvez fosse uma traição com Alexandra, mas logo tratei de expulsar isso da mente.  Não pude deixar de notar também como ela parecia tão jovem que facilmente poderia ter crescido conosco, minha testa vincou, incrédula, mas tentei não parecer muito surpresa.                                                                                                                            Olhei para Christopher que deu de ombros, aparentemente neutro com a situação.

- O tempo também fez bem ao senhor. -Respondi ao seu elogio, sincera.

Os Uckermann tinham um charme inegável. Apesar da idade de Victor, até os cabelos totalmente grisalhos o deixavam com um quê pra lá de atrativo, além dos traços que Christopher herdara, os dois eram muito parecidos.

-Sem formalidades, Dulce Maria. É Victor. -Ele falou, rindo- Esta é Ângela, minha companheira.

-É um prazer, Dulce. -Ela também sorri. 

-O prazer é todo meu, Ângela. -Sorrio também, porque ela parece ser simpática, além de linda.

Ouço uma risadinha contida de Christopher ao meu lado e relaxo.

A noite será, no mínimo, cômica. 




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