CAPÍTULO 8

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LEVOU MAIS TEMPO do que eu esperava para conseguir comprar as passagens via Internet. O vôo para Londres estava quase esgotado, para minha sorte -ou azar?- consegui comprar uma para daqui a três dias.
Se eu já tinha ficado frustrado pelo vôo para a Espanha ter sido adiado por dois dias, que dirá ter de esperar  vinte e quatro horas a mais.
Pensando pelo lado positivo de tudo, Dulce não estava na Espanha, portanto o bem que fizera sobre o adiamento do vôo foi imensurável.

Decidi ir ao jornal, afinal eu não estava oficialmente despedido. E o trabalho sempre fora uma válvula de escape para distrair a maldita ansiedade.

Quando cheguei, tudo ocorreu como de costume, tomei um café expresso, fui recebido com um sorriso simpático e um bom dia de minha secretária e adentrei o escritório, como todos os dias na semana.
Sentei-me na cadeira giratória e busquei no meu bolso a melancólica caixinha de veludo e, como deja vú, me vi novamente abrindo-a e fechando-a frenéticamente, num movimento uniforme.
Fiquei um tempo sem piscar, olhando o anel brilhante.
E meus olhos marejaram. Mas era porque eu estava sem piscar, certo? Ou eram simplesmente as lembranças?

Dulce encarava o céu nublado, encantada.
De repente, voltou-se para mim, perguntando:

-Será que do outro lado da chuva é onde nasce o sol?

As gotas da chuva pingavam de suas marias chiquinhas para o seu rosto angelical.
Acompanhei cada uma das gotas, até que terminassem na linha de seu queixo.

-Eu acho que sim. -Respondi, sem ter certeza, apenas admirando-a.

Ela não se contentou com uma única pergunta.

-Será que o arco-íris tem fim também? Porque ele parece bem grande, infinito. -Ela encarou-me com o rosto repleto de dúvidas.

-Eu acho que ele é infinito. -Afirmei, balançando a cabeça.

E ergui os olhos por um minuto para encontrar o arco-íris, quando ela voltou a falar.

-Que nem o céu. -Afirmou.

Eu confirmei com a cabeça outra vez.

-Um dia, quando eu crescer, eu vou viajar de avião até o céu e vou seguir o arco-íris. -E suspirou, sonhadora, as bochechas rosadas.- Ah! E também vou ver onde nasce a chuva e onde nasce o sol.

-E vai me deixar, Dul? -Perguntei, a voz num fio.

-Nunca! -Ela exclamou- você vem comigo também. Juramos nunca nos separar, lembra?

Eu balancei a cabeça pela terceira vez.

-Lembro. Mas você promete de novo?

Ela ri, sua risada melodiosa e infantil em contraste com o som da chuva caindo no gramado.

-Eu juro juradinho! -Ela cruzou os dedos e os beijou como juramento.

Meu deu um beijo na bochecha esquerda e voltou a admirar as gotas da água fria que caía das nuvens carregadas.

Ela se encantava com coisas que para mim, até então, eram banais.
Até a chuva ganhar outro significado.

Fiz o mesmo, algumas gotas caíam em meus olhos e ela ria. E então, algum tempo incontável depois, ela disse:

-Eu amo você arco-íris. -Murmurou.

Eu olhei para o céu outra vez, mas nele não havia nenhum arco-íris visível para mim.

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora