PRÓLOGO

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Londres, Inglaterra
Dezembro de 2008.

D U L C E   M A R I A

EU SÓ SEI QUE ESTOU correndo.
As lágrimas se misturam com as gotas da chuva, a tempestade que fora anunciada no jornal mais cedo, dava seus primeiros sinais.
A rua está deserta, e meu coração acelerado.
Minhas pernas ameaçam ceder e minha respiração está descompassada.
Eu não posso acreditar, ele sabia o tempo todo e não me avisou.
Ninguém me avisou.
Porém como eles poderiam me avisar? Afinal, não sabiam de nada, tampouco.
A data do casório já estava marcada. Nós estávamos juntos.
Mas o casamento não era meu.
Era da minha irmã...com ele.
Os dois juntos. Os prometidos.
E eu, onde me encaixava nisso?
Simplesmente em nenhum lugar.

Na hora, eu não queria acreditar...

Busquei os olhos de Christopher, procurando por algum vestígio de que meu pai e o dele não estavam falando sério sobre ele ter de se casar com minha irmã, só para herdar o posto de seu pai na empresa da família.
Mas ele só abaixou a cabeça, e não pude ver seus olhos. E foi nesse instante que eu tive a certeza de que eles estavam realmente falando sério, nada além da verdade.
E essa verdade me doeu como uma faca atravessada no peito.
Ele relutou, gritou, disse que não poderia casar com Natália, porque não a amava, porque me amava.
Ele até sugeriu se casar comigo e, assim assumir o comando da empresa, mas foi negado.
Ele só poderia casar com uma filha legítima dos saviñón, de sangue.
E eu não era. Natália era a única.
Eu era adotada.

Eu apenas fiquei calada, como uma covarde, me sentindo -pela primeira vez- uma intrusa na família. Uma inútil.

Ele não tinha argumentos.
Ele não queria se casar com ela, eu sabia, mas não iria desistir de seu sonho de comandar a empresa, ser o orgulho do pai.
Àquela situação era patética, casar-se para herdar algo em pleno século XXI. Realmente patético.

E agora que o nosso relacionamento secreto fora revelado aos quatro ventos da maneira mais humilhante possível, não havia motivos para ficar alí. Não havia razões para ficar.

E foi assim que saí em disparada para as ruas de Londres.
E agora, estou assim, correndo em plena chuva.
E como se nada pudesse piorar, a chuva se intensificou.
Meu cabelo está pingando, minha roupa enxarcada e amassada, minhas botas de cano alto ameaçam escorregar no asfalto à qualquer momento .
Paro de correr, estou ofegante, mas não pela respiração entrecortada, e sim pela dor que se hospedeu em meu peito.
Me apóio em uma porta de vidro de uma loja que está à espreita e já está fechada, para tentar recuperar o fôlego, certa de que Christopher não me seguiu.
É melhor assim, sem despedidas.

-Dulce, você tem que me ouvir...-Uma voz distante murmurou.

É ele.

Fechei os olhos, os apertando com força, relutante entre virar ou não.

-Eu não queria que fosse assim...eu sinto muito. -Ele disse com amargura em sua voz.- Me perdoa.

Eu me viro. Ele não tem culpa de nada.

-Tinha de ser assim -digo- você não tem culpa de nada.

-Eu deveria ter te contado antes disso acontecer. -retruca.

Seus cabelos loiros ensopados caem em sua testa, sua roupa enxarcada e seus olhos castanhos estão escuros e vermelhos.
Queria não ter olhado para ele, porque isso me doeu.

-Tinha de ser assim -Repeti, desviando de seu olhar.

-Nós podemos...-Ele começou, mas eu o interrompi.

-Eu vou embora. -Disse abaixando a cabeça.

Não posso arruinar seu futuro, não posso impedí-lo de realizar seu sonho e deixá-lo destruir sua própria vida por minha causa.
-Repeti mentalmente.

Porque eu sei que ele seria capaz.
Mas eu não poderia conviver com essa culpa de ter arruinado o que ele mais queria na vida.
E se isso significava deixá-lo, por mais que me doa, eu o farei.
Por ele. Por seu futuro.

-Embora...?-Ele repetiu, sem acreditar.

-Vou para Madrid. você sabe, é meu sonho. -Menti.

-Madrid? O quê? Por quê? -Suas palavras são confusas.

-Você vai se casar agora. Com minha irmã. -O lembrei, em tom sarcástico.

-Não! Dulce, eu não vou me casar com Natália. -Ele disse apressado, enquanto procura meus olhos- você sabe que eu não vou.

Neguei com a cabeça em sinal de repreensão.

-Você precisa fazer isso. É seu sonho ser editor-Chefe da empresa, não é? Eu sei que é. -Falei, tentando sorrir e aceitar minha idéia.

-Sim, mas...Não vou casar com alguém que não amo! -Ele falou com as mãos nas têmporas e os olhos fechados.

Ele está desnorteado. Preciso ir.

-É necessário...-Falei- é o único jeito de realizar seu sonho.

Ele me olha de forma acusativa.

-Você não se importa que eu me case com ela? -Ele esbravejou, irritado- não se importa de não podermos ficar mais juntos?

Eu me importo, Christopher.
Eu me importo muito...

Era o que eu queria dizer, mas não disse.

Fechei os olhos.

-Não quero estragar seu futuro, Christopher. -Disse num fio de voz- Temos que pensar no que é melhor para nós dois. -Completei.

-O melhor para nós dois é ficarmos juntos. Você não vê? -Ele retrucou.

Eu sei.

-Não, não é o melhor para você! Pois estou destruindo seu futuro, Christopher! -Gritei na esperança que ele compreendesse.

Ele cerra os olhos por um segundo e respira fundo, e então diz:

-Dulce, só diga que vai ficar comigo. -Ele pega meu rosto com as mãos em conchas- diga que vai ficar comigo e eu deixarei tudo e todos para trás, sem hesitar. Basta você dizer que vai ficar comigo e o resto deixamos para depois. Porque nada é mais importante que nós dois. Nada.

Meus olhos Marejaram.

Ele me olha nos olhos, e eu estou quase cedendo, quase dizendo sim. Quase.

-Não posso, Christopher. -Falei me desvencilhando de suas mãos- Nós não podemos. Eu sinto muito.

Minhas lágrimas rolam livremente por meu rosto, a chuva continuava a cair e não parece que vai parar tão cedo.

Christopher ficou estático, como se tivesse levado um tiro no peito.
Ele não esperava isso de mim, mas é o certo a se fazer, é por ele. Só por ele.
E espero que, algum dia, ele compreenda. Espero que ,algum dia, ele me perdoe.
Ele continuava me olhando, sem dizer nada, sua boca abria e fechava, mas dela não saía nenhuma palavra.

Decidi que era hora de ir, antes que ele resolvesse tentar me convecer e, ligeiramente, conseguisse.

-Adeus, Christopher. -Eu disse, enquanto o olhava bem, gravando sua fisionomia (como seu eu pudesse esquecer!) .

Virei-me e caminhei, sem pressa, apenas sentindo um vazio sem precedentes crescer dentro de mim, e a sensação da perda se expandir em meu peito.
Senti meu coração sendo tatuado por uma metade de um adeus, pois ele não se despediu de mim.
E sua lembrança senda guardada em minha mente, como cenas de um filme.
E quando estava longe o suficiente para que ele não ouvisse, murmurei:

-Eu te amo, Christopher Uckermann. E sempre vou te amar.

E segui meu caminho, sem olhar para trás.
Era só eu e meu coração partido agora.

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora