CAPÍTULO 6

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Guadalajara, México.
Janeiro de 2013.

CHRISTOPHER UCKERMANN

ME ENCLINO NA CADEIRA nada confortável do escritório.
Meus dedos brincam com a caixinha de veludo em minhas mãos; Abrindo-a e fechando-a. Admiro a jóia cintilando e sinto um vazio no peito.
Essa caixinha estava há anos escondida em minha gaveta de meias, soterrada nas minhas lembranças - o por que disso eu não sei bem.
E por algum motivo, hoje a trouxe comigo.
E desde que cheguei ao trabalho não fazia outra coisa senão abrí-la e fechá-la frenéticamente.

Como se fosso algo que eu não devesse tocar.

Até alguns dias atrás tudo estava em ordem.
Porém, desde o telefonema de minha mãe, no Natal, tudo havia virado do avesso.
Minhas certezas ja não pareciam tão certas, eu já não tinha certeza de nada mais na minha vida desde àquela fatídica noite.

A notícia de que Dulce estava na Espanha, na casa da minha mãe, me fez ter um choque de realidade.
E tudo que eu acreditava estar morto reviveu dentro de mim naquele instante.

Fazia quatro anos que eu não ouvia o nome doce dela, e ouvi-lo da boca de minha mãe, soletrando cada letra, foi mais que um banho de água fria.

-Quem está aí? -Perguntei atônito, temendo ter ouvido errado.

-D-U-L-C-E. -ela soletrou do outro lado da linha.

Lembro de ter congelado no celular e ter deixado minha mãe falar sozinha enquanto eu tentava recuperar a voz e algum resquício da minha sanidade mental.

Eu sabia que ainda tinha sentimentos que se rebelavam para ela, senão, por que pensaria tanto nela?
Sabia que eles estavam escondidos dentro de mim, enclausurados em alguma espécie de prisão que eu criei em minha mente e em meu coração.

Mas não esperava que eles ressurgissem com tanto fervor e queimasse meu peito dessa maneira. A dor lancinante ainda pulsava desde o telefonema de minha mãe.

Inalei e soltei o ar, que saiu queimando minha garganta.

Olhei para o computador em cima de minha mesa, eu tinha que escrever uma reportagem para o jornal, sobre o índice de suicídio entre jovens, mas não havia sequer escrito uma só palavra.

 Minha mente estava à quilômetros de distância.

Meu celular tocou pela enésima vez no dia;
Belinda não parava de me ligar desde que saí de sua casa, véspera de natal - depois de ter recebido o telefonema de minha mãe- correndo, sem justificar minha súbita reação.

Estávamos juntos há cinco meses. Belinda é super atenciosa e extrovertida. Eu realmente a estimo, mas não há como negar que o que sinto por ela não chega nem aos pés do que um dia senti -e sinto- por Dulce.
E pela primeira vez, me senti péssimo com isso.
Eu realmente acreditei que podia amá-la tal como amo Dulce, mas me equivoquei.

Preciso colocar um ponto final nessa história de Belinda e eu. Não era justo com ela nem tampouco comigo.

Recusei a chamada.
Mas também não faria isso por telefone.

Ela provavelmente não estaria boa para conversa, levando em conta todas as ligação recusadas, eu entendo; eu mesmo não iria querer olhar para minha própria cara.

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora