CAPÍTULO 1

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Paris, França
Dezembro de 2012.

JÁ FAZEM QUATRO ANOS que ele se fora.
Que eu me fui.
Que o deixei.
Eu deveria ter seguido minha vida adiante, como uma pessoa normal.
Mas minha felicidade sem ele é inalcançável.
Simples assim; sem cor, sem sabor, sem aroma, sem...motivo.

Sem razão.

Esboço um sorriso ao perceber a foto dele no meio de minhas coisas já embaladas para a mudança, ele sorrindo, apoiado em uma parede de pedras em umas de suas viagens á
Espanha -onde brevemente estarei-
Os cabelos castanhos claros -quase loiros- penteados de um jeito elegante e moderno, os olhos  castanhos com um brilho evidente em contraste com o sorriso maravilhoso estampado em seus lábios e...

fecho meus olhos e suspiro.

Não é o momento.

Não é o momento.

Não é.

Guardo sua foto em minha caixinha de lembranças e a ponho em uma mala.
Levanto da cama e aprecio a vista deslumbrante da janela que dá direto para colossal Torre Eiffel. Outra despedida.

Sorrio de minha vida de nômade; ora em um país diferente, ora em outro.
Tudo para esquecer sua lembrança, para tirá-lo de mim, para entender de uma vez que ele nunca mais voltará para mim. Nunca.
Embora eu leve essa vida por sua causa, para esquecê-lo, vivendo de avião em avião; de país em país; de apartamento em hotel, eu nunca lembrava de esquecê-lo. Apenas lembrava de sua lembrança. Lembrava dele.

E tudo isso para amenizar -ao menos um pouco- esse vazio sem precendetes que se hospedou no meu peito sem meu consentimento.
Porque, por mais que eu tente a todo custo, esquecê-lo, apagá-lo da minha mente eu não consigo; é como remar contra a maré em uma tempestade.
É como se uma chama de esperança ainda estivesse acesa dentro de mim, recorrendo ao meu coração para não desistir, para não renunciar.
Para crer, pois o tempo cura todas as feridas.
E uma parte de mim ainda espera por ele, ainda espera dolorosamente que ele não desista de mim, que fique comigo e que assim, possamos selar o nosso "Felizes para sempre" como no conto de fadas. Mas eu sei que não é fácil assim...pelo menos não em um mundo onde não existe fadas madrinhas e gnomos.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que luto para manter a luz acesa, sinto que ela está exausta, cansada de lutar, cansada de resistir ao inevitável, ao irreversível.
Eu estou cansada.
Mas continuo lutando com esta última luz em meu interior, porque algo me diz que tudo ficará bem. Algum dia, tudo estará em calma outra vez.

Suspiro com minhas malas e pertences em mãos, olhando tudo ao meu redor pela última vez, sorrio um sorriso triste me despedindo do apartamento que me abrigou durante os dois meses situada na nostalgica França.

E a razão pela qual vou embora é simples:
Paris, a cidade conhecida mundialmente por seus ares românticos, feita e desenhada para os amantes apaixonados que percorrem as ruas entre beijos, carícias e sorrisos bobos e dolorosamente indiscretos demais para o meu gosto e, admito para minha pontada de inveja.
Mas eles são alheios à minha infelicidade, e a única culpada sou eu
Por não me permitir prosseguir.

Mas isso não é tudo, nos últimos quatro anos eu simplesmente vago pelo mundo, como um corpo sem alma e vazio , na esperança de preencher meu coração com algo, ou mais claramente com alguém. Alguém que enteda minhas loucuras, minhas súbitas vontades de percorrer o mundo, de conhecer as histórias e diversas culturas , que não me ache uma louca compulsiva que não agüenta ficar no mesmo ambiente por mais de dois meses, ou até mesmo que fique comigo em uma casa fixa, em um inverno, em frente á uma fogueira, falando sobre como o dia tá frio e inundado de neve lá fora.

Mas não, meu coração segue clamando por ele. Dia e noite. Noite e dia.
Como se o mesmo não tivesse utilidade alguma e só estivesse empoleirado em seu lugar para me lembrar dele.

Neguei com a cabeça afastando tais pensamentos.

Eu quase nunca pensava nele, quero dizer, não mais que meras lembranças que surgiam em minha mente quando algo me recordava dele.
Mas hoje em especial, hoje dia 21 de dezembro , não posso deter meus pensamentos, porque inexplicavelmente nesta mesma data eu o deixei, quatro anos atrás, em Londres, o deixei na chuva, desnorteado, literalmente no fundo do poço.

E antes que eu pudesse detê-las, as imagens ecoavam por minha mente tão deliberadamente que pareciam tão nítidas e eu tive a impressão de não tê-las vivenciado quatro anos atrás, mas sim, ontem.

Meus olhos ficaram marejados, deixando turva a minha vista.
As lágrimas que foram reprimidas por tanto tempo estão ansiosas para cair, e eu as deixo lavar minha alma, acariciar meu rosto, limpar minha áurea.
E depois de chorar rios, eu me sinto bem, estou mais leve e tenho a sensação de ter tirado uma mochila pesada das costas. Aliviada.
Levei as mãos ao rosto esfregando o olho com os punhos, e então lembrei-me que tenho um vôo em alguns instantes e nem sequer estou no aeroporto.

Típico de mim esquecer as coisas.

Caminho até a porta, olhando de relance ao meu redor para ver se não estou esquecendo de nada, porque como eu disse: é típico de mim esquecer as coisas.
Destranco a porta, saio e a tranco de volta, convencida de que não sentirei tanta falta de Paris -pelo menos não como sinto de Londres, então é razoável.

Entro no elevador e aperto o botão do térreo, me olhando no espelho para ver se minha cara aparenta choro, mas o que acabei fazendo mesmo foi retocar o batom.
O elevador se abriu e eu caminhei até Dylan -o porteiro.

—Bonjour.-disse.

Lhe entreguei as chaves com um sorrisinho de despedida sincero.
Dylan era o meu único conhecido por aqui, vou sentir falta dele, ele é um rapaz simpático. E sem mencionar sua beleza que -para mim- é sobrenatural.
Acho graça quando ele faz uma careta fingindo tristeza, e seus olhos azuis-turquesa semicerram fazendo com que suas Sombrancelhas negras quase se tocassem, como se ele tivesse certeza que eu iria voltar.
Talvez eu volte mesmo. Nunca se sabe.

—Te Extrañaré!-Ele disse, se arriscando no espanhol (minha Língua nativa).

E mexendo no cabelo negro que caia constantemente como uma franja em seu rosto. Ele realmente é lindo, e sem exageros.
Então eu disse que também sentirei sua falta e que talvez eu volte, depois do tour pela Espanha. Ele assente e me deseja boa sorte, enquanto fecha a porta do táxi que chamou para mim.

Au revoir, Paris!

(Tchau, Paris!)

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora