CAPÍTULO 12

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PASSARAM-SE EXATAMENTE uma semana desde que cheguei a Londres, eu estava hospedado em um hotel, quando em uma visita ao meu pai, ele insistira habilmente e com sucesso, que eu ficasse em sua casa e não em um hotel.
Era meio intrigante como eu me sentia um hóspede em uma casa que já fora minha e também de minha mãe. Em uma casa, onde num passado longínquo, já fomos uma família.

A cicatriz ainda era latejante em minha mãe, mas pelo jeito, meu pai já havia fechado a ferida há muito tempo, visto que o remédio possuía um rosto juvenil e curvas acentuadas.
Meu pai tinha uma nova namorada.
E eu tinha uma madrasta que parecia uma irmã.
Não pude deixar de notar em como ela também tinha cara de encrenca.

—Ângela me faz bem. Fique feliz por mim. -Ele dissera, quando eu o questionara sobre a incômoda diferença de idade.

Resolvi não questioná-lo novamente.

Quando disquei o número de minha mamãe para contatá-la dos acontecimentos decidi também omitir o que se passava na vida de meu pai. Sem danos a ninguém.

As coisas estavam um tanto tumultuosas, parecia que nada conspirava, parecia que nunca era o momento certo para fazer a pergunta que eu almejava tanto que saísse de minha boca.
 Eu havia comentado com Christian, Maite e Anahí sobre o pedido, pedindo ajuda. Não sabia como fazê-lo, queria torná-lo inesquecível.
Depois de gritinhos histéricos por parte de Anahí e Christian e lágrimas de Maite, eles tiveram uma ideia.
Claro que aquilo nunca iria passar pela minha cabeça, mas eles pensaram em cada detalhe em minutos, entusiasmados. Meus olhos brilharam ao imaginar, e eu tenho certeza que Dulce irá amá-la.

Dulce anda meio impassível em relação ao fato de eu não querer tocá-la, ela não entendia o porquê. Nem eu, exatamente. Só sabia que queria fazer isso depois que eu demonstrasse que a amo de verdade. Parte de mim ainda sentia-se culpado por tê-la deixado ir, não ter contado à ela o que ocorria com Natália, anos atrás.
Então eu estava tentando a todo custo manter meu autocontrole na linha, desde aquele momento em que Dulce e eu quase fizemos amor. Mas a saudade já estava ultrapassando essa margem, me causando certos pensamentos irracionais visto que Dulce também não colaborava, usando aqueles vestidos que colavam perfeitamente às curvas de seu corpo, mas que deixavam muito espaço para a minha imaginação.
Muitas coisas haviam mudado nela, fisicamente falando. Coisas haviam crescido, mudado, amadurecido. Quer dizer, a altura dela continua a mesma, nada se alterara. Mas em seu corpo...estava diferente, embora eu não tenha a visto despida, porém a mudança era nítida.
Eu acompanhara a mudança de seu corpo no ápice da puberdade, na adolescência, e achava que conhecia cada ponto, curva e sarda que poderia alí existir. Agora já não tinha tanta certeza, então eu estava louco para redescobrir seu corpo outra vez e relembrar cada ponto perfeito.

A admiro pela fresta da porta entreaberta de seu quarto, a expressão concentrada, os cabelos castanhos caindo em seu rosto enquanto ela lê um livro, vez ou outra dá um sorrisinho de canto ou uma careta. Sempre gostei de ver como ela se envolvia profundamente com cada palavra de uma história, como se a estivesse vivendo, dentro dela.

Sem que eu perceba, estou sorrindo também.

—Ei -Ela diz, pela primeira vez me notando em seu céu particular. —Há quanto tempo está aí?

Ela pinta outro sorriso em meus lábios.

—Não o suficiente para admirá-la por inteiro.

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora