CAPÍTULO 3

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Cancún, México
Janeiro de 2013.

...Três, dois um!
A contagem regressiva acabara e dávamos as Boas-Vindas para o novo ano. As pessoas estavam animadas, abraçando umas as outras  (inclusive desconhecidos!) sorrindo e desejando um "Feliz Ano Novo" para todos que avistavam.
Umas pulavam as ondas do mar em uma espécie de ritual para trazer sorte e prosperidade.
Outras se mantinham sentadas sobre a areia branca e fofinha, observando os fogos de artifício voarem até o céu e explodirem no ar. Ou, senão, estavam de pé, consumindo alguma bebida alcoólica - o que é o meu caso.

Levo uma taça de champanhe na mão, enquanto seguro meu vestido longo e branco nas pontas dos dedos e caminho até a água. A areia está umida e gélida, e meus pés afundam se fico parada nela por mais de um segundo.
Ergui meu olhar da areia para o mar, hesitante entre ir ou ficar afundando na areia. Prefiro a primeira opção. Voltei a caminhar e meu coração saltitou no peito ao avistar uma silhueta familiar de costas para mim, tive a impressão de que conhecia aquele homem de algum lugar.
Aproximei-me mais, ele é estranhamente familiar e me lembra Christian -Meu amigo de infância.
Mas não pode ser ele, Christian sempre manteve seu estilo autêntico de camaleão; ora com o cabelo de uma cor e ora de outra! E entretanto, o homem que está a alguns metros de mim tem o cabelo preto, como o céu sobre o mar, será que ele pintou o cabelo recentemente? De preto? Isso se fosse Christian mesmo.

Por impulso caminhei até ele, sem pensar muito, para não voltar atrás.
E quando estava próxima o suficiente, toquei em seu ombro e ele se virou como reflexo. É ele mesmo!
Avistei um sorriso crescer em seu lábios e fiquei aliviada por sua reação.
De costas ele parecia um homem sério e quase irreconhecível, mas de frente ele é o sorridente Christian de sempre -Tirando o fato de que ele já não tem o cabelo Arco - íris e já não é aquele menino magrelo das minhas lembranças de adolescentes ;
Ele tem músculos, músculos que eu fiz questão de notar.
(Mas é claro!)

-Dulce! Oh, meu deus! -Ele me abraçou e me girou no ar.

Ele realmente está forte demais!

-Você tá ótima, garota! -Sorriu.

Ri de sua empolgação, realmente feliz por vê-lo.

-Você também está ótimo, digo, você está bem forte, bonito e...-Fiz uma careta- com o cabelo preto! -ri.

-Ah, eu sei! Fico deplorável de cabelo preto, né? -Ele faz uma careta e sorri- é tão sem graça! Mas onde eu trabalho não permitem que eu pinte o cabelo de colorido. -Ele sacode a cabeça em repreensão.

-Absurdo! -Exclamo.

-Tenho de concordar. Então, você por aqui? Não esperava te ver, realmente é uma surpresa...

-Murmurei incapaz de dar mais explicações.

-Então...-Ele puxou assunto depois de uns segundos em silêncio - está há quanto tempo aqui?

-Há alguns dias. -Falo e dou um gole em minha bebida.

-E quanto tempo pretende ficar?

-Apenas alguns dias. Só vim para passar o réveillon e, talvez, eu vá embora daqui a dois dias, no máximo. E você? -Perguntei, interessada.

-Bom, vim para o réveillon também. Mas vou ficar o restante das férias aqui...-Ele sorriu malicioso - com meu namorado.

Dei um gritinho histérico e o abracei. Christian enfim havia assumido sua homossexualidade. Mas logo refleti , eu não estava nesse momento para apoiá-lo e nem para ampará-lo, caso ele precisasse. Estava á milhas enquanto o meu melhor amigo de infância assumia sua identidade e dava o passo que mudaria sua vida para sempre.
Ele deveria ter raiva de mim, mas não tinha.
E eu sou grata à ele. Muito grata.

Do Outro Lado Da Chuva | VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora