O Livro Lá De Cima

Cap 3

___ Coraline querida, acorde, você tem que ir pra escola ___ falou Danana batendo na porta. Eu já havia acordado a alguns minutos, mas fiquei vagando em meio a pensamentos e perdi a noção do tempo.

___ Eu já acordei, vou tomar banho e desço em um minuto ___ falei já me levantando e indo em direção ao banheiro. Ao sair fui até o meu closet e peguei meu uniforme. Eu detesto estudar em uma escola particular mas agora que os meus pais morreram eu estou sob custódia do meu tio, irmão da minha mãe e atual presidente da editora River que antes era comandada pela minha mãe, ela era dona de uma editora e o meu pai um escritor, o casal perfeito. Ele foi chamado para publicar seu livro lá e foi assim que eles se reencontraram.

Já pronta eu desci as escadas e tomei meu café da manhã, peguei minhas coisas e o Rerold, meu motorista, me levou para escola.
Ao chegar na mesma eu fui diretamente para sala onde me sentei na cadeira da frente como de costume e enquanto esperava pelo professor terminei de ler meu livro. Eu sempre fui uma garota estudiosa e bem articulada na escolha de palavras por conta dos diversos livro que li, mas eu não tenho amigos aqui, o único amigo que eu tive nessa escola já terminou o ensino médio e está na faculdade agora, ele se chama Kevin e veio me consolar no velório dos meus pais, mas ele teve que voltar para a Alemanha alguns dias depois. Apesar da diferença de idade ele era meu vizinho e eu sempre ia na casa dele para brincarmos juntos. Para falar a verdade eu já fui muito apaixonada por ele, mas agora as coisas estão diferentes e eu já não sinto mais aquela alegria de viver, nem sei mais se tenho razões para continuar vivendo.

No fim da aula eu fui andando lentamente pelos corredores de cabeça baixa em direção a biblioteca. Já que eu não tinha amigos. Eu costumo passar o intervalo inteiro em meio aos livros.

___ Bom dia Dona Rosa, eu vim pegar um livro ___ falei parada em frente à mesa de Rosa. Rosa é uma senhora de meia idade que é responsável pelos livros da biblioteca da escola, ela é muito simpática sorridente, seus filhos, até onde eu sei, estão fazendo faculdade e somente o mais velho dos três já está trabalhando como veterinário.

___ Fique a vontade minha flor ___ disse ela em um tom suave e sorridente. Eu concordei e comecei a andar por entre as prateleiras de livros antigos e meio empoeirados.

A coleção mais antiga de livros sempre fica na parte mais alta das prateleiras; meu pai sempre me ensinou que os melhores livros são os mais antigos, o problema é que eu sou um pouco baixinha e por tanto, tenho uma certa dificuldade para alcançar os livros.
Ao me esticar o máximo possível para alcançar o livro, alguém claramente mais alto pegou o livro que eu queria, eu me virei rapidamente e esbarrei na pessoa que segurava o livro bem próximo a mim com um sorriso divertido nos lábios.

___ Brian!? ___ exclamei surpresa. Ele usava o uniforme da escola porém com a camisa de botões mais aberta e larga com uma jaqueta preta, seus cabelos estavam desalinhados como sempre e seus olhos brilhavam conforme o sorriso. " Mas se ele estuda aqui por que eu nunca o vi antes? Se bem que eu sempre ando de cabeça baixa pelos corredores".

___ É bom saber que estudamos juntos ___ disse ele me devolvendo o livro. Eu o peguei e fiquei encarando o mesmo.

___ A quanto tempo você estuda aqui? ___ perguntei o encarando e ele alargou o sorriso.

___ Eu vim pra cá esse ano. Eu morava com o meu pai em Londres mas decidi voltar pra casa da minha mãe e terminar os estudos aqui ___ apesar do sorriso ele desviou o olhar e parecia um pouco inseguro de suas palavras.

___ Entendo ___ falei abraçando o livro e o encarando. Ficamos em silêncio por alguns segundo, segundo esses que foram como horas, horas em um mundo desconhecido e misteriosos, horas perdida no fundo daquele azul, horas tentando emergir novamente para o meu corpo. Seu olhar é cheio de sentimentos confusos e emaranhados, posso ver alegria, mas também vejo dor e medo. O brilho do seu sorriso é como um escudo para a escuridão que há por dentro, me pergunto se essa escuridão já o engoliu alguma vez.