jardim

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Ela não gosta de flores.
Outrora, floresceu dor em seu coração, coração esse em que nasceram botões que desabrocham vez ou outra, com as lembranças tristes do que foram, junto a saudade que enraizou-se na alma, a mágoa do que não poderam ser.

Ela deixou flores no criado mudo daquela sala de hospital, num pedido mudo de desculpas, seu martírio e culpa por não estar presente durante o ocorrido, porque não pode olhar nos olhos enquanto segurava suas mãos, nem em um fio de voz lhe pedir que ficasse.

Ela acompanhou todo o coma. Foram noites sombrias em que dormiu vagamente na poltrona dura daquela sala fria, onde os jestos falaram alto quando a voz se perdeu. Disse eu te amo com um beijo singelo, mas ele não acordou de seu sono profundo, e assim foram meses de inúmeras xícaras de café e diversos buquês de flores, além dos muitos espinhos profundos lhe rasgando o peito.

Ela se sentia destruída, olhar para alguém que radiava vida com tanta graça em um leito de morte, o rosto jovial, agora apático e sem cor, os diversos fios que o ligavam as máquinas que o emprestavam vida.

Ela ainda assim, possuía algo em si como um girassol brilhando através da noite fria, um resquício de esperança, a trilha iluminada que lhe tiraria do labirinto de sofrimento, num sussurro de que ficaria tudo bem, mas, não ficou.

Ela viu os momentos se tornarem eternidade, os batimentos se alteraram na máquina que bipava loucamente numa melodia assustadora, trêmula e perdida acionou o botão de emergência, em seguida os médicos e enfermeiros entraram correndo na sala, então tudo se passou em câmera lenta, as enfermeiras lhe puxando para fora enquanto ao fundo ela via ouvia o último bip enquanto o médico empurrava as mãos pesadas sob o peito fragiu com violência tentando mante-lo aqui. E tão derrepente ela já estava no corredor vendo a porta se fechar, e um soluço lhe rasgar a garganta, numa agonia sem fim.

Ela viu o amor ser arrancado de seus braços, como uma flor rara é arrancada do Jardim, simplesmente porque alguém se encantou por ela, sem ao menos cogitar a ideia da falta que a mesma faria ao ambiente; a morte o arrancou dela.

Ela chorou como se se chovesse após uma seca, gritou a plenos pulmões até que o ar lhe faltasse e as palavras não saíssem mais, então quebrou tudo no apartamento, até se sentir em pedaços.

Ela pediu em meio as fotos rasgadas e os vasos quebrados que a morte a levasse, que tragasse sua vida como fez com seu amado, mas, não veio. Parecia ter que murchar, perder suas cores, sua graça e só então desfalecer, morrer de amor ou pela falta dele.

Ela lançou as flores ao túmulo de seu amado, lírios, para uma despedida, pela partida de alguém o qual ela desejou com tudo de si que ficasse, na angústia pelas palavras que nunca seriam escutadas, o adeus que nunca existiu e o pranto que jamais cessaria.

Ela contemplou os iluminados girassóis se apagarem, os narcisos perderem o amor próprio, as rosas perderem sua beleza, e então uma após a outra, viu cada espécie despetalar diante de seus olhos, até que tudo fosse somente espinhos e galhos secos espalhados sob o chão de terra batida, após cada flor do seu jardim morrer.

Ela se tornou canteiro de amargura e solidão, inconformada pela quebra de aliança. Porque o amor se apresentou como sendo puro e de boas intenções e logo depois se revelou bárbaro e enganador, pois, tudo deu e em seguida tudo tirou, numa crueldade absurda.

Ela perdeu seu perfume e essência, mergulhou em um luto profundo e sem fim, afinal o amor não foi bondoso com ela, e depois, ela já não gosta de flores.


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E isso meus chuchu💜
espero que gostem, desde já agradeço por todo apoio que venho recebendo, amo vocês !
Bj's da Linda_AuraAzul 😢😘

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