O "clima" da aula pareceu um tanto pesado por, pelo menos, três semanas até que a presença dela se tornasse comum, até que ele pudesse encará-la sem aquele receio esquisito de ver algum tipo de mágoa. Na verdade, depois das primeiras semanas, pôde reparar que a presença dela era sempre agradável apesar de melancólica para ele.
Luana quase não fazia perguntas, mas de vez em quando abria a boca com os olhos brilhando como se pudesse dizer algo incrível sobre alguma questão levantada; embora em poucos segundos todo o brilho se esvaísse, e a mente parecesse voltar para um lugar qualquer que não aquele. Ele não conseguia fazer mais que observar e se condoer por ela.
Quase quatro meses haviam se passado e os dois permaneciam presos a um momento que derrubaria qualquer um. Ela, principalmente. Até que na quinta semana após sua entrada nas aulas algo mudou.
Luana entrou na sala reservada com a cabeça erguida e, apesar de não carregarem a mesma expressão esperançosa de meses atrás, seus olhos possuíam algo impressionante. Eles mostravam uma determinação férrea, uma força de vontade que poderia levá-la a qualquer lugar do mundo, foi o que ele pensou.
– Luana, eu preciso falar com você. Tem um tempo? – foi o que ele disse, pouco antes que ela pudesse sair ao final da aula.
– Ah, claro, é algo sobre a aula?
O assunto não era relacionado à aula, mas Kazuo sentiu-se obrigado a dar uma resposta afirmativa àquela pergunta. Os olhos de Luana lhe transmitiam ainda alguma dor e ele sentiu culpa, ainda que esta não fosse racional. Sabia que se dissesse qual o verdadeiro assunto da conversa, Luana provavelmente daria qualquer desculpa para fugir.
Convidou-a para conversar em uma cafeteria ao lado da biblioteca, o que, percebeu, foi estranho para Luana. Ela franziu minimamente o cenho, embora o acompanhasse. O curto caminho foi feito em um silêncio desagradável e que fez Kazuo se lembrar de Osmar, pai da moça que caminhava ao seu lado com um olhar vago e melancólico. Ele havia chegado ao hospital apenas consciente o suficiente para falar sobre o quanto sua filha era uma boa garota. Fez isso com um sorriso no rosto, o que foi ainda mais impactante.
Kazuo foi puxado para a realidade quando já estavam prestes a entrar no café. Observou brevemente a expressão de Luana e sentiu um aperto no coração. Era bem óbvio que havia muito amor entre pai e filha. Era uma pena que o tanto que eles ainda tinham para desfrutar da companhia um do outro houvesse sido arrancado de uma forma tão...
Suspirou. Nem conseguia encontrar uma palavra para definir a situação. Entrou no café, e Luana fez o mesmo depois dele. Seria uma conversa estranha, ele admitia. Ele estava prestes a atravessar os limites estabelecidos entre médico e paciente. Ou, nesse caso, filha do paciente. Sentiu seu coração acelerar e percebeu que era tarde para se preocupar com isso. Já havia atravessado esses limites.
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Entrelaços do Destino (Completo)
Short StoryUm fio...fio que puxa, fio que une, fio que serpenteia em picos, fios da vida! Ou morte... Fio que reúne, fio que separa...a vida pode ser vista por um fio ou vivida da mais casual forma de amar ou conhecer um amor com uma vida por um fio. Esses laç...