2 - Cafeteria

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O "clima" da aula pareceu um tanto pesado por, pelo menos, três semanas até que a presença dela se tornasse comum, até que ele pudesse encará-la sem aquele receio esquisito de ver algum tipo de mágoa. Na verdade, depois das primeiras semanas, pôde reparar que a presença dela era sempre agradável apesar de melancólica para ele.

Luana quase não fazia perguntas, mas de vez em quando abria a boca com os olhos brilhando como se pudesse dizer algo incrível sobre alguma questão levantada; embora em poucos segundos todo o brilho se esvaísse, e a mente parecesse voltar para um lugar qualquer que não aquele. Ele não conseguia fazer mais que observar e se condoer por ela.

Quase quatro meses haviam se passado e os dois permaneciam presos a um momento que derrubaria qualquer um. Ela, principalmente. Até que na quinta semana após sua entrada nas aulas algo mudou.

Luana entrou na sala reservada com a cabeça erguida e, apesar de não carregarem a mesma expressão esperançosa de meses atrás, seus olhos possuíam algo impressionante. Eles mostravam uma determinação férrea, uma força de vontade que poderia levá-la a qualquer lugar do mundo, foi o que ele pensou.

– Luana, eu preciso falar com você. Tem um tempo? – foi o que ele disse, pouco antes que ela pudesse sair ao final da aula.

– Ah, claro, é algo sobre a aula?

O assunto não era relacionado à aula, mas Kazuo sentiu-se obrigado a dar uma resposta afirmativa àquela pergunta. Os olhos de Luana lhe transmitiam ainda alguma dor e ele sentiu culpa, ainda que esta não fosse racional. Sabia que se dissesse qual o verdadeiro assunto da conversa, Luana provavelmente daria qualquer desculpa para fugir.

Convidou-a para conversar em uma cafeteria ao lado da biblioteca, o que, percebeu, foi estranho para Luana. Ela franziu minimamente o cenho, embora o acompanhasse. O curto caminho foi feito em um silêncio desagradável e que fez Kazuo se lembrar de Osmar, pai da moça que caminhava ao seu lado com um olhar vago e melancólico. Ele havia chegado ao hospital apenas consciente o suficiente para falar sobre o quanto sua filha era uma boa garota. Fez isso com um sorriso no rosto, o que foi ainda mais impactante.

Kazuo foi puxado para a realidade quando já estavam prestes a entrar no café. Observou brevemente a expressão de Luana e sentiu um aperto no coração. Era bem óbvio que havia muito amor entre pai e filha. Era uma pena que o tanto que eles ainda tinham para desfrutar da companhia um do outro houvesse sido arrancado de uma forma tão...

Suspirou. Nem conseguia encontrar uma palavra para definir a situação. Entrou no café, e Luana fez o mesmo depois dele. Seria uma conversa estranha, ele admitia. Ele estava prestes a atravessar os limites estabelecidos entre médico e paciente. Ou, nesse caso, filha do paciente. Sentiu seu coração acelerar e percebeu que era tarde para se preocupar com isso. Já havia atravessado esses limites.

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