3 - Cartão de visita

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Sentaram-se próximo à janela, a que mostrava o caminho por onde tinham passado. Ele ainda pensativo, e ela um tanto confusa com a situação, permaneceram em um silêncio gritante até que finalmente ele o quebrou:

– Você gostaria de tomar um cappuccino? Posso pedir para nós dois?

– Oh, eu prefiro um café apenas. – ela respondeu parecendo voltar para o lugar onde realmente estava.

– Okay. Quer comer algo? Uma torta, talvez? É sempre bom adoçar um pouco mais a vida.

– Aceito – ela o observou levantar para fazer o pedido e depois voltar para esperar chegar. – E então, doutor, o que queria falar sobre a aula?

– Não há necessidade de me chamar de doutor aqui, como eu já disse.... Não estou no meu local de trabalho, e aqui, afinal, eu sou um professor, ou apenas Kazuo.

– Oh! Claro! Eu peço desculpas. É que te ver me faz lembrar do meu pai e.... bom... Peço desculpas, professor.

– Não se desculpe! Eu entendo, e, na verdade, eu é que devo te pedir desculpas. Afinal, não te chamei aqui para falar sobre a aula – Ele resolveu falar de uma vez, já que ela havia mencionado o pai.

– Sobre o que quer falar? – Ela perguntou na defensiva; mas, àquela altura, já sabia exatamente o porquê de estar ali. Ela era uma boa observadora e já havia percebido que, desde o momento que o encontrou, ele queria ter uma conversa com ela. – É sobre o meu pai?

Foram interrompidos por um instante, pois o pedido havia chegado.

– É sobre você...

– Sobre mim?

– É... sobre seu estado emocional. Como você está lidando com o que aconteceu e... sobre o seu pai, realmente sinto muito.

– Eu sei que você fez o que pôde, doutor. No dia em que te encontrei naquela sala foi uma surpresa. Eu não esperava vê-lo ali...E... Vê-lo me faz lembrar do meu pai... Eu sou grata por tudo que fez... Vê-lo me lembra dos dias difíceis que ele teve e de que ele ainda estaria aqui se não fosse por Olga. Ela o matou! – falou, e as lágrimas escorreram pelo seu rosto.

– Ela não o matou, Luana.

– Matou sim. Se ela tivesse assinado a autorização, permitindo a cirurgia, meu pai estaria vivo agora.

Vê-la naquele estado fazia o coração de Kazuo se dilacerar, pois queria conseguir minimizar aquela dor. Sentia que precisava ajudá-la até que ela ficasse bem. O que era irônico e contraditório, afinal, ele mesmo não estava conseguindo se ajudar ultimamente. Mas precisava tentar ao menos.

– Seu pai me falou um pouco sobre você... No hospital. Instantes antes de ele ser levado para a unidade de terapia intensiva e ter complicações em seu quadro clínico.

– O que ele falou?

– Falou que você era uma jovem inteligente e de coração bondoso... O quanto vocês eram próximos e o quanto ele te amava. Sei que está sendo difícil pra você lidar com a perda dele. Eu não sei o tamanho da dor. Mas sei que é o suficiente para arrancar o brilho que você tinha no olhar.

– Meu Deus! Meu pai falou sobre mim! O que mais ele disse?

Naquele momento Kazuo viu uma pequena faísca de brilho em seu olhar. O telefone de Luana tocou, a fazendo levantar e se afastar um pouco para atender. Ele a observou. Ela parecia estar brava e, mesmo que a ligação tivesse apenas alguns segundos de duração, parecia discutir com alguém.

Luana desligou o telefone e voltou para a mesa, um tanto nervosa.

– Desculpe! Eu preciso ir! – Rapidamente anotou seu número em um guardanapo – Podemos continuar a conversar outro dia? Eu realmente quero saber mais sobre meu pai. Sobre o tempo que esteve no hospital...

– Claro! Eu quero te entregar algo... – Kazuo fala antes d'ela ir, abre a carteira, tira um cartão de dentro e o entrega para Luana.

"Compartilhe sua dor"

Era o que estava escrito. Abaixo disso, havia um número de telefone e um endereço.

Ela sorriu vagamente, colocou o cartão dentro da sua bolsa e saiu da cafeteira. Ele a observou caminhar por um tempo, sentou-se novamente e terminou de comer o pedaço da torta que havia pedido.

Entrelaços do Destino (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora