Luana percebeu que foi uma péssima ideia escolher desafio. Por isso, quando notou que todos esperavam qualquer reação dela, decidiu que era hora de inventar que estava apertada e se esconder no banheiro. Não que tal atitude fosse algo maduro, ou sensato, ou minimamente honroso; mas era bem melhor do que responder a pergunta que lhe foi feita ou a cumprir o desafio.
Ao fechar a porta do banheiro, que felizmente estava desocupado, ela respirou fundo e teve uns dois segundos de paz ali dentro. Então ouviu uma batida na porta e duas vozes conhecidas discutindo. Eram Kazuo e Akemi.
— Akemi, com o que você desafiou a Lu? — ouviu ele perguntar, ainda que a voz estivesse um pouco abafada pelas batidas na porta.
— Eu... hmm, talvez eu tenha... ai, oniisan, essa pergunta é meio... complicada. — Akemi respondeu, e foi a primeira vez que Luana percebeu que Akemi sentia alguma vergonha e, até, constrangimento.
Ela poderia rir disso, ainda mais por imaginar a cara que Kazuo devia estar fazendo com essa resposta, mas não conseguia. Era dela que eles estavam falando, afinal de contas. Respirou fundo, tentando tomar coragem. Não poderia se esconder no banheiro para sempre. Então, apesar de ainda estar extremamente constrangida, abriu a porta de uma vez e percebeu que Kazuo estava a ponto de bater novamente. Ele a encarou e ela desviou os olhos, envergonhada com a situação.
— Bom, agora que está tudo resolvido, eu posso simplesmente ir e... — Akemi deduziu, enquanto já começava a se afastar.
— Paradinha aí, Akemi. — Kazuo disse, em uma voz firme, o que fez sua irmã realmente parar e suspirar. Então ele voltou a fitar Luana e sussurrou — Você está bem?
— Diz que está, Lu. Até me chamar de bakamono ele me chamou. — Akemi não parecia realmente chateada, mas sim surpresa. Luana, entretanto, não entendeu nada.
— Está tudo bem, não se preocupe. — ela respondeu Kazuo, decidindo não colocar qualquer culpa em Akemi.
— Viu? Agora, ja ne. — Akemi nem mesmo esperou que Kazuo dissesse algo e saiu de perto dos dois.
— Você está bem mesmo? — Kazuo voltou a perguntar.
— O que é bakamono? — Luana indagou, com o cenho franzido.
Kazuo sorriu e a guiou para um lugar mais reservado e silencioso, onde a música alta não agredisse seus ouvidos antes de responder.
— Eu a chamei de grande idiota. Não é realmente um insulto, mas Akemi me leva mais a sério quando uso termos em japonês. — eles sentaram lado a lado em um sofá de uma sala mais intimista que estava vazia e que, até então, Luana ainda não havia visto. — Por que você estava se escondendo? Qual foi o desafio que a minha irmã te fez? Ou melhor, o que ela te perguntou para que você escolhesse desafio?
Luana achou melhor não olhar nos olhos de Kazuo, pois sentia suas bochechas ficarem vermelhas com o constrangimento.
— Ela me perguntou se eu estava apaixonada...
— Não entendo o porquê de você ter escolhido desafio por causa de uma pergunta assim. — Kazuo parecia realmente confuso.
— Por você. — Luana completou a resposta em um sussurro.
Alguns segundos de silêncio depois e o que ouviu de Kazuo foi:
— Nossa... isso é... constrangedor.
E frustrante, Luana pensou em completar. Seu coração ainda batia rápido, tanto pela pergunta que lhe foi feita, quanto pelo desafio. Esperava que Kazuo não lhe perguntasse sobre o desafio novamente.
— E o desafio? Qual foi? — ela queria esconder sua cara na terra, igual fazem as avestruzes.
Não queria responder, mas ele saberia uma hora ou outra. Muitas pessoas da festa estavam presentes. Não tinha como fugir daquilo. Tomou uma respiração profunda pelo que parecia ser a décima vez naquele mesmo dia e respondeu:
— Beijar você.
E que Deus a ajudasse, porque seu coração continuava batendo rápido em expectativa e ela queria realmente beijá-lo.
O coração de Kazuo já não batia, mas sim galopava em alarmante velocidade, o que o estava deixando receoso com a possibilidade de Luana ouvir o som alto e constante. Estava tentando fervorosamente controlar sua ansiedade visível diante da dúvida que pairava em sua cabeça: se Luana completaria ou não o desafio proposto por sua irmã, uma verdadeira avalanche humana do inusitado e inesperado.
Naquele instante tomou a decisão por ambos. Envolveu a cintura de Luana com um de seus braços, puxando-a para junto de seu corpo, e entrelaçou delicadamente os dedos em seus cabelos colando seus lábios num beijo desajeitado. Nada saiu como o esperado por Kazuo, que, encarando a face de Luana, percebeu que ela espremia seus lábios entre os dentes. Contudo, aquele sinal não era exatamente o que ele esperava. Então, pensou consigo, extravasando em alto e bom som:
— Vamos lá, Kazuo! Sei que pode fazer melhor que isso!
Retomou a missão de beijar os lábios de uma esperançosa Luana. Só que dessa vez entregou-se a paixão e delicadeza de um doce momento, num beijo ardente e desejoso por ambos, ao som de seus corações descompassados e palminhas de alegria de uma irmã estranhamente feliz, que saltitava cantarolando.
— Oniisan, que orgulho!
Eu contei cada segundo para este dia de hoje.
É isto meu povo. Foi agora mesmo e foi lindo, não é sonho, não!!!
Gostaria de vir aqui deixar meus mais sinceros agradecimentos a Akemi.
MUITO OBRIGADA FURACÃO AKEMI, EU TE AMO!
Esse capítulo merece todas as estrelas que você ainda não deixou nesse livrinho e eu estou bem aqui esperando o surto coletivo, por favor, não me abandonem. E até amanhã, porque ainda tem mais <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entrelaços do Destino (Completo)
Short StoryUm fio...fio que puxa, fio que une, fio que serpenteia em picos, fios da vida! Ou morte... Fio que reúne, fio que separa...a vida pode ser vista por um fio ou vivida da mais casual forma de amar ou conhecer um amor com uma vida por um fio. Esses laç...