Luana estava nervosa quando apertou o play no aparelho de rádio. Nunca imaginou que voltaria a usar o aparelho cinza tão presente em sua infância e tão estimado pela mãe, principalmente para ouvir as últimas palavras de seu pai
O áudio começou com um chiado, e foi preciso alguns segundos — que para Luana pareceram uma eternidade — para que se fizesse ouvir uma voz:
"Está gravando, Osmar, pode falar."
Ela ouviu a voz da madrasta e apertou forte a mão de Kazuo.
"Está bem."
Ela ouviu-o pigarrear.
"Oi, filha. Como você está? Espero que bem. Se você está ouvindo isso é porque eu já não estou mais aí com você, e eu sinto muito por isso."
As lágrimas que marejavam os olhos de Luana naquele momento caíram silenciosas pelo seu rosto.
"Eu sinto de verdade, e detesto pensar que fui responsável por causar tanta dor a você. Eu sabia dos risco que corria por não me cuidar adequadamente. Olga até que tentou colocar um pouco de juízo na minha cabeça, mas você me conhece, eu sou teimoso.
"Eu sei que você a culpa pelo o que aconteceu comigo, então, vamos esclarecer as coisas: quando descobrimos sobre a trombose, eu sabia muito bem o que poderia acontecer e fiz Olga me prometer que não permitiria uma amputação caso chegasse a esse ponto, mesmo que isso causasse minha morte, e nós discutimos por isso. Olga me disse que eu não podia ser egoísta desse jeito, eu ainda tinha você.
"Pensei muito sobre isso, muito mesmo, e apesar de saber que deixar você seria a coisa mais difícil do mundo pra mim, eu não queria viver com um membro amputado, querida. Não me entenda mal. Eu não desisti de viver, e nem queria deixar vocês duas, principalmente você, eu só não quero ficar mais dependente do que já estou, não quero olhares de pena e nem mais cuidados especiais, não quero.
"Sei que essas não são as últimas palavras que você queria ouvir de mim, mas você sabe que sempre prezei pela honestidade, e estou sendo 100% honesto com você, Luana, eu não quero viver desse jeito.
"Peço desculpas por tê-la deixado, por tê-la feito sofrer, mas, sei que você vai superar isso. Não culpe Olga pelo que aconteceu, eu lhe peço. Não podemos responsabilizá-la por uma decisão minha.
"Eu te amo, Luana! Eu te amo mais do que qualquer coisa nessa vida e sempre vou amá-la. Prometo que mesmo não estando fisicamente presente, eu sempre estarei com você. Tenho orgulho da pessoa que você é e sei que você vai ter uma vida brilhante. Não quero que sofra, quero que seja feliz. Viva pela sua mãe, viva por mim, e o mais importante de tudo, viva por você.
Eu te amo, meu amor."
Luana ouviu o pai fungar ao fundo da gravação, e em seguida ela terminou.
— Ah, papai...
Ela falou, soltando todo o ar que não sabia que tinha prendido, chorando copiosamente agarrada à camiseta de Kazuo. O namorado não disse uma palavra, enquanto acariciava os cabelos dela.
Luana não conseguiu parar de chorar tão cedo. Não conseguia acreditar que o pai havia desistido de viver, embora tivesse dito na gravação que não era bem aquilo, era isso o que parecia para ela. No entanto, ela tinha que respeitar. Já estava feito e não havia nada que pudesse fazer para trazê-lo de volta. Só lhe restava aceitar, por mais doloroso que fosse.
Ela apertou o pingente de coração que havia pertencido à mãe contra o peito e respirou fundo, entre um soluço e outro; e abraçada ao namorado, ela expulsou, em forma de lágrimas, toda a dor que ainda sentia dentro de si.
Meu coração está apertadinho, já estamos quase chegando ao fim.
Ver Luana e Kazuo fazendo aquela amizade do começo ser tão importante para os dois como casal, me emociona.Com o final dessa história ficando cada vez mais perto, comenta aqui o que você espera para esses dois.
Não esquece a estrelinha.
Até amanhã ⭐
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Entrelaços do Destino (Completo)
Short StoryUm fio...fio que puxa, fio que une, fio que serpenteia em picos, fios da vida! Ou morte... Fio que reúne, fio que separa...a vida pode ser vista por um fio ou vivida da mais casual forma de amar ou conhecer um amor com uma vida por um fio. Esses laç...