Para Akemi Watanabe a vida era uma festa.
Ou uma montanha russa que sempre estava indo para cima. Pelo menos era o que Kazuo pensava da irmã mais nova, e ele se viu na obrigação de falar isso para Luana quando a pegou em sua casa às nove da noite naquele sábado. As pessoas que não estavam acostumadas com o furacão Akemi poderiam estranhar seu comportamento esfuziante. Kazuo não sabia descrever a personalidade da mais nova de outra forma, por isso se embaralhou na explicação e Luana riu. Foi a primeira vez que ele a ouviu rir e achou um som lindo.
— Meu Deus. Sua irmã não pode ser tão ruim — disse entre risadas enquanto ele falhava miseravelmente na tentativa de explicar a personalidade da irmã.
— Ela não é ruim. Só meio assustadora ou invasiva. Antes eu achava que era uma fase que ia passar, mas já tem tanto tempo que ela está nessa fase que acho que é permanente — ela riu ainda mais.
— Tá tudo bem, Kazuo. Se ela for parecida com o irmão, vou adorá-la, mesmo que seja muito esfuziante. — Ele a olhou por alguns segundos ao ouvir que era adorado por ela, sorriu e continuou falando da irmã, porque ela poderia ser alguém meio absurda, mas era, com certeza, alguém que ele não apenas amava, mas admirava e se orgulhava.
Logo chegaram ao condomínio onde Akemi morava. Luana se impressionou. Era um desses condomínios modernos com fachada de vidro e parecia ser muito caro, muito mesmo. Na portaria, ela tentou, sem sucesso, não reparar no quanto aquele condomínio exalava dinheiro. Enquanto subiam até o oitavo andar, seu deslumbramento virou preocupação, pois nunca havia ido numa festa em um apartamento antes. Nem passou pela cabeça dela que a festa, na verdade, poderia ser apenas uma reuniãozinha de amigos despojados. Será que ela fez certo em vir de salto alto e com seu melhor vestido? Um vestido vinho regata que descia até quase no seu joelho e realçava suas curvas quase que exageradas (para muitos, gordura em excesso) e a deixava sexy? Será que um jeans surrado e uma blusa legal combinariam mais com a festa?
A culpa dos dilemas de Luana era toda de Kazuo que havia dito várias vezes a palavra "festa". Talvez a ideia dele de "festa" fosse diferente da dela. Droga! Ela deveria ter perguntado qual roupa seria mais apropriada. Talvez o olhar dele ao pegá-la na sua kitnet tivesse sido de espanto e não de admiração como pensou.
Droga!
O elevador finalmente chegou ao sétimo andar, e o nervosismo era evidente em seu olhar e em suas mãos que remexiam nervosas, ora os cabelos, ora na alça do vestido, ora batucavam na coxa. Kazuo percebeu e segurou uma de suas mãos antes de avançar na direção da porta oitocentos e dois, que estava entreaberta e os deixava ouvir uma música pop sucesso do momento que ele, com certeza, desconhecia.
— Ei — ela deixou de olhar suas mãos e olhou o rosto pálido dele. — Está tudo bem, Akemi vai gostar de você e nós vamos ficar pouco tempo. Só umas duas horas para ela não reclamar, tudo bem? — ela respirou fundo antes de responder.
— Tudo sim, é só que fiquei pensando na minha roupa.
— O que tem de errado com sua roupa?
— E se não for apropriada? E se sua irmã... — Ele riu.
— Não tem nada de errado com sua roupa. Você está linda, e Akemi não se importa com o que você veste — afirmou sorrindo e rompendo a pequena distância que faltava até a porta da irmã. Assim que abriu a porta, a música mudou completamente. Ana Júlia começou a tocar e Kazuo riu. Akemi sempre seria Akemi.
Luana sentiu-se transportar para uma dimensão completamente a parte daquela que ela conhecia. O ambiente escuro iluminado por luzes coloridas, o cheiro de lavanda e o clima de alegria eram suficientes para acabar com seu nervosismo. Principalmente quando, ainda perto da porta, uma garota baixinha que não parecia ainda nem ter vinte anos, usando um cropped amarelo e uma pantacourt de linho cru e uma maquiagem forte, abraçou apertado Kazuo.
— Não acredito que você veio, oniisan! — disse Akemi abraçada ao irmão. Ele teve vontade de rir, afinal, não era como se tivesse escolha.
— Você me atormentaria para sempre se eu não viesse — falou soltando-se dela. — Akemi, essa é...
— Luana. Uau. — sorriu abraçando-a rapidamente. — Eu imaginava você completamente diferente. Agora entendi porque o oniisan fala tanto de você! Quem dera eu tivesse esses peitos todos.
— Akemi! — repreendeu Kazuo com o rosto ardendo.
— É sério, esses peitos todos são seus? — Kazuo tossiu, engasgando. Nunca imaginou que aquelas fossem ser as primeiras palavras da irmã para Luana. — Para com isso, Zuo. É só um monte de pele e gordura supervalorizado pela sociedade ocidental, eu sei, mas eu queria ter pelo menos a metade — Luana não imaginou que pudesse ficar com tanta vergonha e tão sem fala alguma vez na vida. — Certo, não vamos falar de peitos porque você é uma careta como meu irmão, por isso que se dão tão bem!
— Sim, são meus e, sim, é um assunto meio constrangedor.
— Esse seu batom nude é maravilhoso. Vamos pegar bebidas para vocês. Minha bartender prepara os melhores drinks do mundo.
— Minha? Não é mais o Vitor?
— Vitor confundiu tudo depois que ficamos. Ele achou que eu queria compromisso, não entendeu meu espírito livre e me obrigou a contratar a Manu, mas foi a melhor coisa da minha vida. Ela é fantástica, sério.
— Akemi, eu já te disse. Uma hora você vai precisar deixar de ser um espírito... — Kazuo parou sua frase na metade e todo seu corpo também foi interrompido. Até o ar parecia ter parado de entrar pelas suas narinas quando a viu conversando com uma amiga de Akemi que ele não conseguia se lembrar. A iluminação estava precária, mas não o suficiente para ele não reconhecer os cabelos dourados e a silhueta pequena. Afinal, foram quase onze anos de convivência. — Não acredito que você convidou ela, Akemi.
— Jaque é minha amiga e eu sempre disse isso, Kazuo. Quem é mal resolvido com ela é você. Não eu.
O Furacão Akemi chegou sambando com graça e ousadia. E ainda trazendo o que a gente temia!
Jaqueline, Kazuo e Luana no mesmo local pela primeira vez. E ai, meu povo? O que, que vai ser dos meus nervos agora?
O que vocês esperam da Jaque? Será que ela é legal, ou um nojo?
É isso ai. Não esqueçam a estrelinha e até amanhã! <3
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Entrelaços do Destino (Completo)
Short StoryUm fio...fio que puxa, fio que une, fio que serpenteia em picos, fios da vida! Ou morte... Fio que reúne, fio que separa...a vida pode ser vista por um fio ou vivida da mais casual forma de amar ou conhecer um amor com uma vida por um fio. Esses laç...