6 - Resposta

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Era o primeiro contato de Luana com um grupo de apoio ao luto. Foi estranho no começo, mas depois de três encontros, perguntou-se por que não havia procurado por algo do tipo antes. Sentia agora que seu coração finalmente havia sido reconfortado de alguma forma, compartilhando e interagindo suas dores com um círculo formado por pessoas que viveram experiências parecidas com a dela. Pessoas que não tiveram a chance de se despedir como gostariam de seus entes mais queridos.

Pouco a pouco ela foi se soltando e botando para fora tudo que estava entalado em seu peito. Falou brevemente sobre a morte da mãe, ocorrida durante um sequestro relâmpago de um ônibus. Falou sobre a morte do seu pai, que como já se sabe, morreu devido a complicações de uma diabetes negligenciada por anos. Falou sobre ter cortado o vínculo com a sua madrasta após ela se recusar a assinar a autorização da cirurgia que poderia ter salvado a vida de seu pai. E falou um pouco sobre seu ex-namorado, que a deixou no momento em que ela mais precisou dele.

Kazuo acompanhou Luana em todos os encontros. Em um deles, durante o percurso de volta para casa, ele quis saber mais sobre o último relacionamento dela.

– Terminamos o relacionamento faz um ano – Luana começou. – O nome dele é Rael. Não tenho mais contato com ele, mas sei que ele já está em outra. Inclusive, eu soube que atual dele está grávida de uma menininha. É difícil para mim, sabe? Na época eu não queria terminar. Eu era muito apaixonada por ele. Acho que sou ainda.

– Ih, sei como é...

– Sabe é?

– É. Sei sim – ele riu, seus olhos estreitos quase formando duas linhas em seu rosto.

– Já passou por isso também? — Kazuo parou o carro diante de um semáforo que ficou vermelho.

– Jaqueline é o nome dela. Eu a conheci na faculdade de medicina. Namoramos por quase uma década. Depois noivamos. E então nos casamos. Uma festa de arromba, se quer saber... E quatro meses depois, ela simplesmente pediu o divórcio.

– Nossa!

– Pois é. A vida tem disso. Nos prega peças, às vezes.

– E por que não deu certo?

– Ah! Não deu certo porque não tinha como dar certo.

– Ah, sim.

O sinal abriu.

– Desculpa – ele disse, reservadamente. – É que... eu não gosto muito de falar disso, sabe? Tem certas coisas que é melhor deixar no passado.

– Entendo. Essa tal de Jaqueline ainda deve mexer muito com você, acertei?

– Hmmm... Mais ou menos. O que considero péssimo.

– Péssimo por quê?

Ele franziu o cenho, desapontado.

– Desculpa – Luana disse. – Tô fazendo perguntas demais, eu sei...

– De boa. Fique tranquila. É que é uma longa história. Se é que você me entende.

Luana entendeu perfeitamente o recado. Jaqueline era certamente um assunto que Kazuo queria esquecer. Mas por quê? Por que será que esse nome o deixava tão entristecido e frustrado? Um casamento que durou apenas quatro meses depois de quase uma década de relacionamento? O que de errado aconteceu para que as coisas chegassem a esse ponto? Kazuo parecia ser um cara tão legal, um ser humano tão incrível... Será que toda a gentileza que ele tentava transmitir era, na verdade, uma espécie de disfarce, uma máscara de falsa bondade?

Kazuo estacionou o carro em frente a residência de Luana. Ele a observou se desfazer do cinto de segurança e abrir a porta do veículo para sair. Após ela se despedir com sentimento de gratidão, ele a surpreendeu com um pedido. E um instante depois nada parecia ser mais importante no mundo do que o "sim" que ele recebeu dela como resposta.

Antes de passar por um processo de divórcio doloroso, Kazuo costumava pensar que sua irmã, Akemi, tinha tendências exageradas ao drama quando se tratava de relacionamentos frustrados

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Antes de passar por um processo de divórcio doloroso, Kazuo costumava pensar que sua irmã, Akemi, tinha tendências exageradas ao drama quando se tratava de relacionamentos frustrados. Parecia coisa de gente jovem demais, que sonha demais, mas que conhece o mundo de menos e que tem experiência de menos. Ela era a sua irmã caçula, afinal; e parecia nunca sair dos 17 anos, apesar de já estar com 23. Após o divórcio, teve que se lembrar mil vezes de não julgá-la pelos seus eternos sofrimentos amorosos; porque, apesar de ser mais contido que sua irmã quando o assunto era expor seus sentimentos, Kazuo ainda estava sofrendo. Mesmo que uma parte sua estivesse atraída por Luana, tudo o que havia acontecido naquele espaço de tempo — que compreendia o evento que ele chamou de "a descoberta" e o fim de uma longa história que ele chamou de "o desfecho" — ainda estava muito vivo, muito recente. Em carne viva, como uma queimadura de terceiro grau: tão profunda, que nem mesmo sentia de fato a dor, apesar de saber que era algo grave. E essa gravidade era expressa no fato de que Kazuo havia se fechado em seu mundo.

Ele já não se lembrava da última vez que havia conversado banalidades com qualquer amigo após o divórcio. Mergulhou tão profundamente no trabalho, na vã tentativa de fugir das frustrações da vida amorosa, que acabou impedindo que qualquer um deles soubesse qualquer coisa além do superficial. Sabia que o único que podia tirá-lo daquele limbo chamado "desfecho" era ele mesmo. E, para falar a verdade, não queria se conformar que "o desfecho" seria o desfecho da sua vida. Por isso, quando viu o quanto a sua conversa com Luana era completamente fácil e compreensiva, a encarou e se ouviu falar:

— Sabe, eu gosto de conversar com você. E acho mesmo que preciso de mais conversas assim. Por isso, Luana, tenho um pedido muito importante. Você quer ser minha amiga?

Ele realmente não esperava que seu coração fosse ficar ansioso por uma resposta, mas pela primeira vez observou um sorriso inteiramente feliz surgir nos lábios da garota. Os mesmos lábios que se movimentaram para falar um sonoro "Sim!".

 Os mesmos lábios que se movimentaram para falar um sonoro "Sim!"

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E ai? Tudo bem? ~risos~

Alguém mais tremeu na base quando ele disse que tinha um pedido pra fazer? Porque eu tive que parar para aprender a respirar de novo.

O que acham desse capítulo de hoje? E no que vocês acham que vai dar essa amizade?

Comente, que queremos saber de tudo!!!

Não esquece da estrelinha. Nosso friendship merece, não é mesmo?

Até amanhã!!!

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