Chapter XXIX

23.2K 2.9K 7.9K
                                    



O som das espadas de madeira batendo uma na outra podia ser escutado em toda a Parte Alta do castelo. O treino daqueles dois já durava mais de uma hora e mesmo que aparentassem cansaço, eles não paravam. A jovem Victória, agora com seus dezoito anos, tentava acompanhar os passos do mercenário que investia golpes a todo o momento sem dar tempo a garota que se defendia como podia.

— Mais rápido princesa! — J-Hope incentivava enquanto mantinha um dos braços para trás, segurando a segunda espada que sempre usava de surpresa contra Victória. — Acha que vai ferir alguém com esses seus movimentos? — E em um giro de corpo, usou a espada que estava nas costas para acertar as pernas da garota, derrubando-a no chão. — Tem sorte de eu não usar espadas de verdade, caso contrário, teria perdido as pernas.

— Ai... — Victória largou a espada enquanto massageava as pernas expostas. Ela já não usava mais os costumeiros vestidos longos. — O senhor anda pegando muito pesado comigo esses dias — encarou o mercenário que sorria. — Ainda não sou tão boa assim, sir Hope.

— Sei disso pirralha. — Estendeu a mão para a jovem, ajudando-a a levantar. — Mas já tem um bom tempo que estamos treinando, já era para estar bem mais rápida em seus ataques e defesas.

— Concordo, mas não é fácil aprender a lutar assim tão rápido.

— Rápido? — catou a espada de Victória e a devolveu. — Já tem cerca de um ano que estamos treinando dia após dia. Você que não está dando a devida atenção ao seu mestre, princesa.

— Desculpe, mas minha cabeça anda muito cheia agora que sou rainha. — enfatizou a última palavra, fazendo o mercenário sorrir. — Por que ainda insiste em me chamar de princesa?

— Porque combina mais com uma nanica como você. — bateu a mão na cabeça da garota que fechou a cara. Victória não gostava quando J-Hope fazia aquilo, ela se sentia ainda menor do que já era.

— Eu poderia mandar prendê-lo por insultar sua alteza.

— Você não é minha alteza. E por favor, pare de andar com Jungkook, está pegando a metidez dele. — O comentário acabou fazendo a garota sorrir animada. E enquanto a olhava sorrir, os pensamentos do mercenário voava em tudo o que tinha acontecido naquele ano.

Naqueles momentos em que estavam juntos e sorrindo, parecia que tudo ia bem, e por muitas vezes o mercenário se iludiu quanto isso. Nos primeiros dias, depois que foram selados no castelo, tudo era muito silencioso e sombrio. Aquela tarde que passaram cavando covas para os que foram mortos pelos vampiros doía em todos. Muitos choros foram ouvidos por entre aquelas paredes de pedras e a capela que ficava na região baixa do castelo foi a morada de algumas pessoas por um tempo. A grande maioria dava graças por estarem vivendo com os deuses, e no início, aquele pequeno grupo de imortais teve de estar ali, sempre presente aos poucos sobreviventes que necessitavam de força para lidarem com o luto e a prisão de Akasha.

Mas Jungkook foi o primeiro a abandonar os cultos por não acreditar que ele era aquela divindade que os humanos imaginavam que fosse. Jungkook nunca gostou desse status. Nunca gostou dos aplausos e sempre deixou claro que ele era alguém normal com alguns poderes especiais. Não importava que seu espírito fosse de um deus, ou as duas essências que habitavam em seu peito o dessem a imortalidade. Ele ainda era Jungkook, filho de caçadores de vampiros que não tinham uma casa fixa para morar. O garoto que perdeu a família jovem demais e teve que se virar para sobreviver em um mundo cruel. Onde fez e foi obrigado a fazer coisas que não se orgulhava, coisas que preferia esconder no lugar mais escuro de sua memória. Ele era apenas alguém que queria acertar o mundo da melhor forma possível e que não prejudicasse ninguém.

Castelo de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora