Castelo de Vidro

Chapter XXX

Sentado no alto do portão Normando estava Hoseok. Ele encarava o horizonte que nunca mais havia visto os raios do sol. A vegetação ao redor havia morrido dentro daquele ano que passou e por isso a visão que tinha era triste e assustadora. Olhar para o horizonte já não era mais sinônimo de esperança e sim de vazio.

Todos ali eram prisioneiros. E o mundo estava realmente girando a favor de Yoongi.

A vida de Hoseok girava a favor de Yoongi. Era por causa daquele deus que o mercenário via os dias passarem e sua mão tremer toda vez que pensava que seu tempo estava acabando. Todos que viviam dentro daquele selo estavam se preparando para a guerra. Eles intensificaram seus treinamentos e os deuses e semideuses dali fizeram armas mágicas para todos aqueles que se propuseram a lutar quando saíssem dali.

E enquanto aguardava, Hoseok levou um charuto a boca. Ele pertencia ao antigo rei, mas Victória não se importou em lhe dar a caixa cheia depois de tudo. O mercenário levantou para ir acendê-lo em uma das tochas que estavam penduradas naquele portão, mas foi surpreendido por Taehyung que surgiu ao seu lado e estendeu a mão em direção ao seu charuto, acendendo-o com o indicador. Hoseok tragou um pouco antes de finalmente desviar o olhar para o semideus que sentava ao seu lado.

— Uma vez alguém disse que semideuses eram parecidos com máquinas e que possuíam diversas funções invejáveis. E uma delas era a capacidade de acender cigarros. — Disse Taehyung enquanto encarava o horizonte escuro.

— Acho que Jin, Arkaan e Jungkook não serviriam para esse papel. — Hoseok falou, fazendo o semideus sorrir um pouco. O que fez seu o peito também aquecer.

— Mas você tem razão... — encarou o outro. — Temos várias funções. Além dessas que podemos desfrutar a vontade, como aquecer nossos corpos, passar dias sem comer ou beber, curar feridas e viver eternamente, temos deveres a serem cumpridos.

— Sei que sim. — Tragou um pouco mais do charuto. Sabia que o assunto ficaria sério dali em diante.

— Semideuses existem para ajudar no equilíbrio do planeta. Como dá para perceber, não podemos deixar tudo nas mãos dos deuses.

— Então os deuses não mentiram tanto assim quando criaram vocês?

— Jungkook me contou algumas coisas em relação a isso e... — Suspirou pela ideia que passava em sua mente. Ainda tentava compreender o que os deuses de fato queriam do mundo, dos humanos e até mesmo dos semideuses. Porque agora nada fazia muito sentido. — Não sei até onde tudo o que aprendi foi verdade. Os deuses nos ensinaram exatamente como cuidar do planeta para depois... descobrimos que eles queriam destruir tudo.

— Isso faz qualquer um questionar a si mesmo. E eu sinceramente não faço muita ideia do que se passa na cabeça de vocês. — Assoprou a fumaça para longe. — Viver uma vida tão longa rodeada de mentiras...

— Ainda é difícil acreditar que Tejas tenha enganado a todos...

Taehyung não teve a chance de ver seu deus e de perguntar diretamente o que estava acontecendo. A última lembrança que tinha de Tejas era de vê-lo caminhando pelo templo enquanto seguia para a biblioteca. Fora aquilo, ainda tinham todos os outros dias em que estavam a sós em treinamento. As histórias que Tejas o contava, os ensinamentos... Tejas sempre pareceu ser um deus tão bom. O melhor dos conselheiros.

— Tae-Tae? — o mercenário chamou a atenção do semideus que parecia perdido por um momento.

— Hã? Ah! Desculpe, não era bem sobre isso que queria conversar. — Sorriu um pouco sem graça.

— Você adora falar e emendar um assunto com o outro mesmo. — Tragou mais um pouco do charuto. — Mas gosto de ouvir suas histórias, me faz lembrar da minha casa e dos meus pais. — Soltou a fumaça vagarosamente com o olhar preso nas fogueiras ao horizonte. Coisas que os vampiros que moravam por ali faziam.