Lendas de Vó - O Livro dos Contos

A Mulher do Padre

O amor é algo tão imprevisível, ás vezes o cara que está na sua frente na fila do pão na vendinha da esquina, ou dentro do metrô apertado em um dia qualquer durante sua ida ao trabalho, será a pessoa que estará com você pelo resto de sua vida e você nem se deu conta.

O duro é quando ele está na missa do domingo, e ele é o padre. Aliás, você já namorou um padre? Espero que não, ou você pode ser uma Mula Sem Cabeça.

Para ser sincera, eu namorei. Mas calma! Eu não sou uma herege, não! Ele era apenas coroinha na época e hoje é padre e um amigo cheio de fé, a quem admiro e respeito. Porém quando lembro desse conto da vó Maria, confesso que naquela época, apaixonados como estávamos, eu viraria Mula sem Cabeça numa boa.

Bom.. vamos a história contada pela vó Maria.

O ano é 1958, mesmo depois de ter corajosamente espantado o Lobisomem com a espingarda de sal à algumas semanas, minha avó Maria ficou com a "pulga atrás da orelha", na verdade o que a intrigava não era o fato da aparição do tal monstro e sim de onde vinha. As noites começaram a ficar pesadas, ela já não conseguia dormir direito e mesmo querendo não pensar no episódio do monstro que quase atacou seus pequenos, a ideia dele voltar a amedrontava.

Foi quando ela resolveu ir se confessar com o padre Pedro da paróquia local.
Ao se confessar, minha avó abriu o coração para o padre, ele era uma das únicas pessoas que ela confiava, para a vó Maria tirar a armadura de mulher forte que tudo suportava e ceder espaço a mãe frágil e zelosa nunca foi uma tarefa fácil, porém ela sentia como qualquer mulher, só não demonstrava, e o padre Pedro, seu amigo sabia disso, afinal ele a viu chorar no confessionário uma ou duas vezes e devido a situação, o padre preocupado e comovido com a história da falta de sono e tudo mais, resolveu contar tudo que ele sabia sobre o assunto. E começou:

-Maria...que fique claro que é o povo quem conta essa história!

E o que falam é que a muito tempo atrás, havia uma grande família com cinco filhos e uma única filha. A moça, chamada Amália sofria de sonambulismo e costumava sumir nas madrugadas, colocando toda família a sua procura pelas manhãs, o constrangedor era que ela fugia nua todas às vezes.

Bem, o fato é que em uma dessas noites, ela dormindo entrou mata adentro e no caminho encontrou um padre. Na ocasião o rapaz estava de camisolão orando debaixo de uma árvore, o padre, que se chamava Diego, dizem que ele era um jovem muito bonito de mais ou menos vinte e cinco anos, alto, de pele clara, tinha o cabelo castanho avermelhado, quase ruivo, o rapaz havia sido ordenado ao ministério fazia pouco tempo e como todo jovem às vezes seus hormônios falavam mais alto que sua fé, e orar pela purificação de seus pensamentos se tornou uma prática diária naquelas semanas e ele gostava de orar no silêncio da floresta.

Ele só não contava que iria encontrar uma linda jovem nua como veio ao mundo diante de seus olhos. A pele da moça era rosa e aveludada como pêssego, seus cabelos longos loiros, contornavam sua fina cintura que destacava seu quadris perfeito. Ele tentou, mas não conseguiu não olhar para o sexo da moça que era de fios finos e loiros, tão delicados que pareciam uma pintura. Ela caminhava sem rumo e seus cabelos voavam com a brisa suave de verão e brilhavam com a luz prateada da lua.

Ele a desejou. Na verdade a desejou como nunca havia desejado nada e nem ninguém na vida, foi quando sua fé como um alarme de incêndio, o despertou e ele começou a clamar alto, temendo ser uma alucinação. Chegou a pensar que o próprio demônio tivesse vindo lhe tentar.

Ele clamou, clamou, e clamou, e a jovem não desapareceu, pelo contrário, se aproximava a cada passo. Ele percebeu que ela era real e que estava sonâmbula, então com cuidado e respeito a acordou, e a levou de volta a sua fazenda. Pediu discrição a respeito da situação, afinal não seria fácil explicar uma jovem nua e um rapaz de camisolão vagando no meio do mato de madrugada, porém ele não lhe disse que era padre.