7 Irmãs

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Uma dica, em dias de verão a partir de hoje olhe para as lâmpadas repletas de siriris com mais carinho, afinal segundo dizia a vó Maria: "- Antes siriris que bruxas!"

Sete. Número da sorte para uns, de azar para outros, o fato é que sempre houve um mistério quando se trata do número sete, pense, Deus criou o mundo em sete dias, o arco-íris tem sete cores, são sete as maravilhas do mundo, e diz a lenda que o sétimo filho de uma grande família sempre vem dotado de poderes especiais.

Hoje em dia ter sete filhos pode nos parecer insanidade, porém nos tempos da vovó isso era bastante comum, as famílias eram grandes e geralmente os filhos mais velhos tinham a responsabilidade de cuidar dos irmãos menores, e se fossem sete irmão a responsabilidade ainda era bem maior, pois o último irmão, "a rapa do tacho" como a vovó chamava, tinha que obrigatoriamente ser batizado pelo primeiro, mas... e se o primeiro filho morresse? Inevitavelmente, a rapa do tacho viraria bruxa ou bruxo. Simples Assim!

"Borboletas da tristeza eterna". Essa é uma das definições para bruxa e acredite está no dicionário.

"-Bruxa-"f.Cyn... Mulher, que se diz, ou que o povo crê, ter pacto com o demônio, que adivinha o futuro e pratica outras artes misteriosas...borboleta crepuscular e noturna."

Sim, vamos falar de bruxas, porém com responsabilidade, afinal elas podem estar mais perto do que imaginamos, uma panapanã de borboletas crepuscular noturna com mais de setenta borboletas, pode representar uma bruxa transfigurada que está no ambiente, então o melhor é não reclamar da revoada de siriris, chamados de "aleluias" em Joanópolis, e avó Maria sabia bem disso. Outro fato é o número treze, esse também requer atenção e você já vai entender o porquê, quando ler esse conto. O ano é 1941, de um dia treze de uma sexta feira de lua cheia, as mulheres da pequena Joanópolis não falavam de outra coisa, o assunto era o décimo terceiro aniversário de Anna, filha caçula da rica família Torres, - Bianchi Torres na verdade- , de sete mulheres.
Até ai tudo certo, as famílias no interior geralmente são grandes mesmo, porém a curiosidade do povo estava no que aconteceria com Anna que nasceu uma semana antes da morte de sua irmã mais velha Cristina.

Cristina estava passeando na plantação de uvas na propriedade da família, quando o tempo mudou bruscamente e um raio caiu matando a pobre moça.

Os anos se passaram, a caçula cresceu, e todo o vilarejo foi convidado para festa de aniversário da jovem adolescente, todos mesmo, quer fossem ricos, pobres, patrões ou funcionários; seus pais resolveram fazer a festa para provar que a tal superstição não se cumpriria. Essa foi a festa mais misteriosa e comentada de toda Joanópolis e região, afinal era o aniversário da sétima filha de uma família de sete irmãs, uma delas fazendo treze anos, no dia treze e para aumentar o falatório, de uma sexta -feira.

Segundo a lenda, a criança de uma família de sete irmãos precisa ser batizada pelo filho mais velho ao nascer, e crismado tendo o mesmo irmão como padrinho aos treze anos, o que claro não foi possível ser feito por Anna. Na noite de verão da festa o clima estava extremamente abafado, então os pais de Anna mandaram decorar o imenso salão principal do casarão com velas em tom claro, aromatizadas, flores brancas e frutas para deixar o ambiente perfumado e o mais claro e alegre possível, uma vez que o chão e as mesas eram de madeira escura.

Estava tudo correndo perfeitamente na festa, todos estavam tão envolvidos com a linda decoração, a música e a boa comida que até se esqueceram da lenda e tudo mais, menos o padre José da paróquia local, que notou do lado de fora da propriedade que ao invés de siriris em torno das luzes, estavam mariposas. Ele conheceu a essência da lenda, através do confessionário, relatos vindos de imigrantes italianos da cidade de Triora, Florença e Veneza, e temeu pela jovem Anna.

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