O Casal Fantasma de Palmital

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Ainda falando da vó Dita, ela viveu em Platina interior de São Paulo e assim como a vó Maria tinha suas histórias fantasmagóricas.
Por lá assim como em Joanópolis, terra da vó Maria, uma história contada era uma lenda vivida.
Bom ... definir algo é bem complicado, afinal não temos certeza de quase nada nessa vida, porém uma definição dos dicionários que é bem polêmica em minha família é a que define fantasmas, uns acreditam que existe, outros acham que é bobagem, e há muitos que confirmam terem visto ou ouvido alguma alma penada.

E o dicionário nos diz:".... ( gr phántasma) 1.Visão quimérica, geralmente apavorante, produto da fantasia."

E quem sou eu para questionar, fantasmas, lendas e contos andam juntos.

A história foi a seguinte...

O ano é 1954, a cidade é Platina no interior do estado de São Paulo e nesta região assim como em Echaporã, Campos Novos Paulista, Ibirarema, Palmital, Cândido Mota e Assis, sabe-se que um romântico caso de amor teve um fim trágico e resultou em uma assustador conto de terror. E o povo conta que existiu um casal apaixonado que foi assassinado em Platina, várias pessoas viram e ainda dizem ver, o véu da noiva flutuando ao vento na estrada onde foram mortos, na época da vovó tudo era um simples boato, até que...

Minha avó Dita, uma linda jovem morena de pele cor canela, de cabelos e olhos negros, recém casada aos treze anos de idade, iniciou seu dia como de costume, levantou, varreu seu chão de barro socado, sacudiu a colcha de crochê branca engomada e estendeu na cama. Fez um café, um cuscuz d'água , aquele feito de milho e ficou esperando seu marido, vinte e dois anos mais velho, na porta do casebre de pau a pique. Ele, como era de se esperar, não era muito afetuoso, talvez devido a diferença de idade entre eles, quando chegou foi logo dando as ordens do dia a jovem Dita e um de seus afazeres seria ir a cidade de Palmital, lá ela deveria comprar fumo de corda, grãos, carne seca e se sobrasse dinheiro, quem sabe, umas linhas e agulhas para bordar. Ela ficou feliz, afinal naqueles dias isso era tudo que ela tinha como passeio e se lembrou que antes de se casar sempre ia para cidade assistir as missas de domingo, lembrou-se também que ia as quermesses junto de suas irmãs e de seu irmão, que em especial a vigiava com olhos de águia, uma vez que ela já era prometida em casamento.

Mas ela deixou seus pensamentos de solteira de lado, afinal era chegada a hora de ir para Palmital e agora sua realidade era bem outra. Sua irmã mais velha morava próxima a ela e iria junto, porém naquele dia não pode acompanhá-la, então Dita e seu cunhado seguiram viagem sozinhos. A tarde estava quente e abafada, o Sol estava de esturricar miolos, Dita foi sentada na parte de trás da carroça e seguia a viagem embalada pelo chacoalhar na estrada esburacada e assim foi vendo pouco a pouco Platina desaparecendo no horizonte. Em sua cabeça não havia espaço para mais nada além da expectativa de chegar a Palmital, o caminho estava lameado, a charrete balançava fortemente, os cavalos vez ou outra empacavam bruscamente, a roda da carroça quase que quebrou.

Fazia mais ou menos uns trinta minutos que estavam viajando por aquela estradinha de terra, quando os cavalos sem motivo algum ficaram ariscos, seu cunhado Zé Garcia tentou contornar a situação, porém sem sucesso, então eles resolveram parar. Os cavalos começaram a agir estranhamente, pareciam mulas, ficaram incontroláveis e não quiseram seguir o caminho. Foi então que Dita de súbito viu um vulto, um não dois, porém não querendo parecer boba, ficou quieta, apesar de ter até o último fio de cabelo arrepiado. Enquanto isso Zé Garcia continuou a fazer de um tudo pelos cavalos, deu água; verificou os cascos; os acariciou e nada, os animais não iam nem para frente e nem para atrás. Dita continuava em silêncio e só que rezava em pensamento, pedindo a proteção de Deus, ela estava realmente apavorada.

Quando o Zé avançou um pouco à frente da estrada para verificar se não haviam cobras, ele também viu os vultos, no entanto ao contrário da Dita voltou para carroça correndo, branco como papel, gritando :

-Dita ! Dita! Você viu aquilo? São fantasmas! Fan...tas...mas!

E ela disse:

-Zé, vi sim!!! Na verdade eu já tinha visto!

-E agora que vamos fazer !!? Ai meu Deus, nós vamos morrer! Dizia Zé suando em bicas.

-Pede para os noivos deixarem a gente passar! Lembrou Dita.

-Que noivos, pelo amor de Deus? Disse Zé a olhando com olhos esbugalhados e tremendo de medo.

- Nessa estrada morreu um jovem casal de noivos, eles fugiram para se casar contra a vontade de seus pais, ela era prometida de um outro homem bem mais velho que ficou furioso e jurou lavar sua honra matando os dois e os matou, no dia que eles resolveram se casar. O casal acreditou que a raiva de suas famílias e do outro noivo iria passar com o tempo, mas não passou e o pior aconteceu. Ninguém sabe ao certo quem os matou, só o que se sabe é que um roceiro os achou, o noivo morto com um tiro na cabeça e ela com um tiro no peito.
Pouco tempo depois ele viu a noiva em pé diante de seu próprio corpo e o véu que ela usava voava solto na , e o que o povo conta é que todos que passam por essa estrada tem que pedir permissão aos noivos para seguir viagem.

Assim fez o Zé, gaguejando mais que tudo, até que de repente ambos sentiram um vento forte, depois como se um tecido lhes tocasse o rosto, e como mágica, os cavalos se acalmaram e eles puderam seguir viagem, isso apesar de estarem abismados com o que tinham visto.

Ao voltar contaram para todos que conheciam e ninguém duvidou da história deles, mais uma vez uma jovem forte e cheia de atitude, colocou as coisas naturais, as sobrenaturais em seus devidos lugares e teve o cuidado de passar como herança suas lembranças e histórias fantásticas para as próximas gerações. Minha avó Dita foi uma mulher incrível, tinha fala doce, coração forte e uma sabedoria que só gente simples e autêntica tem.

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