O Conto do Poço dos Desejos

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Bom acredite, crianças, férias e falta do que fazer pode ser uma receita perigosa.

Quando estávamos juntos, eu, meus primos e primas nas férias, o sono costumava demorar chegar,  era mais leve e sempre tinha alguém fazendo alguma presepada, às vezes estávamos em oito crianças, brigando pelo controle da TV, palpitando no que deveria ser servido no jantar, enfim .. era um abençoado caos.                                                                                                                                       

Daqui a pouco chegarão as férias e é comum durante esse período que nossos filhos queiram ir passar uns dias com os avós,   às vezes na casa dos primos e primas e vice e versa, a diferença que a tia maluca da vez sou eu agora.

Minhas tias sempre foram incríveis, tanto as maternas como as paternas, nossa vó era um caso à parte, nunca que estar com a vovó era monótono ou rotineiro, do lado materno eu era a piralha mais velha, então minhas presepadas infantis geralmente são junto de meus primos do lado paterno, as férias eram uma aventura recheada de histórias de fantasmas; lobisomens; bruxas e tudo mais que a imaginação e a lembrança deles pudessem compartilhar, isso com público garantido, nós as crianças sempre sem sono e de olhos e ouvidos bem atentos.

Nessa ocasião desse conto, queríamos ir ao circo que estaria no bairro, só que não tínhamos dinheiro, foi então que a vó Maria nos contou que quando criança ela e suas irmãs iam ao poço dos desejos.

- Diz a lenda, - continuou nos dizendo a vó Maria- , que se você quisesse ganhar dinheiro rápido, era simples, bastava você lançar ao meio dia uma moedinha em um poço qualquer e no mesmo dia, a meia noite, você deveria segurar o pé de um sonâmbulo e lhe perguntar quais números iriam ser sorteados na loteria, ou que "bicho" iria dar no jogo do bicho e pronto! Era só ir buscar a fortuna depois do sorteio.

Bem...
Era férias, eu devia de ter por volta de uns dez anos e fui passar uns dias na casa da minha tia Beatriz, a Nena, que tem seis filhos, que na época eram todos na mesma faixa de idade da minha e como crianças curiosas que éramos, ouvimos a história e ficamos
"com a pulga atrás da orelha" e claro fantasiando que iríamos até comprar o circo.
Então, eu, minhas primas mais velhas e minha tia Nair,  resolvemos tirar a prova, era verdade que não tínhamos o poço, porém tínhamos a sonâmbula, minha prima Beth, que é daquelas que fala a noite inteira, lá fomos nós, resolvemos esperar ela dormir, chegamos de mansinho no quarto  e prendemos a perna dela, e minha tia que era a mais maluca de todas nós, perguntou:
-Qual o bicho que vai dar Beth? E minha prima só resmungou.
E minha tia perguntou de novo:
-Beth, qual o bicho que vai dar?
Foi quando minha prima respondeu:
-Roberto Carlos! Roberto Carlos!
Todas rimos tanto, que quase fizemos xixi nas calças, a coitadinha da Beth, acabou acordando sem entender nada.
O tempo passou, a bem da verdade ninguém ficou milionária, devíamos ter desconfiado,  já que a vovó  que nos contou a história também não era. No nosso caso naquele dia, acho que faltou a moedinha e o poço, no entanto a nossa maior riqueza está em lembrar desse momento inesquecível em família.

Tia Nair.. , foi ser único, nos presenteou por muitos anos com seu jeito de menina sapeca. Lembro que uma vez  ela,  nos levou para  escorregar no barranco de  uma praça  sentados em papelões,  obviamente que  ela foi primeiro , só para mostrar como era.                                        Protetora, minha tia nunca teve filhos de seu próprio ventre, no entanto todos nós nascemos do seu coração gigante. Sempre presente, ela foi  um adulto de alma nobre, sorriso livre e pureza infantil admirável.

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