Cap 6

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Ainda estou me recompondo dessa onda de emoções, quando minha mãe entra acompanhada de meus dois irmãos. É difícil de acreditar, mas ela não esboça nenhuma emoção. Diria até que está indiferente em relação a isso. Meus irmãos me abraçam, e posso estar enganado, mas acho que essa é a primeira vez que isso acontece. Eles logo saem, acho que não querem que eu os veja chorando. Logo eles que sempre aparentaram ser tão “durões”... Eu até admito que não era essa imagem que eu queria levar deles. Quando fico sozinho com minha mãe ela finalmente me abraça, e diz uma coisa que eu preferia não ter ouvido, mesmo sabendo que ela tem razão.

- Finalmente alguém do nosso distrito que pode ganhar os jogos.

Fingi não ter ouvido, pois sabia que ela não estava se referindo a mim.

Quando fiquei sozinho mais uma vez, deixei aflorar uma lembrança, que sempre tento evitar. Dessa vez, me permiti lembrar cada detalhe daquele dia chuvoso, daquele dia em que tive a chance de fazer algo por Katniss Everdeen, e agi como um perfeito idiota.

Naquela manhã cinzenta, estava mais frio que o normal, e a chuva parecia ser pequenos cubos de gelo. Eu não tinha ido a escola devido ao mal tempo, e estava na padaria ajudando meu pai, quando de repente minha mãe passa por nós e vai até a janela dos fundos.

- Vá embora daqui! Eu vou chamar os pacificadores! – Ela gritava – Eu estou doente de ver essas criaturas da costura tocando o meu lixo.

E depois desses vieram muitos e muitos insultos! Eu estava sem entender nada, quando olhei por cima do ombro dela, e vi que a pessoa com quem ela gritava era Katniss. Eu não podia acreditar nisso. Eu sabia que o pai dela havia morrido nas minas recentemente, em um acidente, mas o governo não ajuda as famílias quando ocorrem coisas assim? Eu tinha que fazer algo. Katniss ainda tentou ir embora, mas desabou próximo ao chiqueiro do nosso porco. E então eu tive uma ideia. Corri até o forno e derrubei lá dentro dois pães que estavam terminando de assar. Eu sabia que as consequências para mim seriam no mínimo ruins. Mas nada se compara a situação que Katniss enfrentava. Quando minha mão viu o que tinha acontecido, pegou uma forma, e bateu com toda a força em meu rosto. Senti um liquido quente escorrer por minha bochecha. Sangue.

— Alimente o porco, sua criatura estúpida! Por que não? Ninguém decente compraria pão queimado!  - Gritou ela para mim.

Meu plano estava dando certo. Sai então com os pães, e comecei a tirar os pedaços queimados, e jogar para o porco. Katniss não estava muito distante. Sentia seu olhar sobre mim, mas não tive coragem de verificar. Quando escutei o sino da frente da padaria tocar, olhei para trás, e quando tive certeza que minha mãe não estava mais ali, tomei coragem e joguei os pães na direção dela. Entrei correndo para dentro, mas a tempo de ver, que ela agarrou aqueles pães, como se agarrasse a própria vida. No fim das contas acho que era quase isso mesmo. Desde que isso aconteceu, nunca mais vi ela nessas condições, acho que a partir daí ela tenha começado a caçar. Meu pai sempre compra esquilos dela. E de Gale. Mas não há um só dia que eu não me torture, pelo menos um pouco pelo fato de não ter ido até ela, e entregado aqueles pães. Talvez por isso ela nunca tenha falado comigo. Talvez ela até me odeie por essa atitude ridícula. Ali, no silencio daquela sala, deixei as lagrimas correrem, desejando ter feito diferente naquele dia. Desejando ter feito diferente minha vida toda.

Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora