Paramos para descansar embaixo de uma arvore, que por acaso, é a mesma em que Katniss ficou emboscada pelos carreiristas, quando eu estava "aliado" a eles. O ninho de teleguiadas que ela jogou sobre nós, ainda está lá. Ela o cutuca, e ele logo se desmancha até virar pó. Sinto uma agonia em ficar parado ali, relembrando inevitavelmente tudo o que aconteceu. Katniss quase ter sido morta na minha frente. Depois, quase ter me matado, com as teleguiadas. Cato ter me ferido com sua espada, e tido a oportunidade de ferir Katniss também. São tantas coisas, que começo a passar mal. Não sei se ela percebe, mas quando a olho, ela parece estar tão mal quanto eu.
— Vamos — ela diz. Eu concordo, agradecido.
Quando chegamos até a Cornucópia, o sol está se pondo. Nem sinal de Cato. Apenas a Cornucópia, dourada, brilhando, me fazendo estremecer. Damos a volta ao redor dela, para nos certificarmos de que Cato não está por ali, escondido esperando o momento certo para nos dar o bote. Mas não há nada nem ninguém. Seguimos silenciosamente até a lagoa, como os idealizadores queriam, e começamos encher nossas garrafas.
— Não queremos brigar com ele depois de escurecer. Há apenas um par de óculos. – Katniss observa, enquanto eu coloco iodo na agua para a purificação.
— Talvez seja isso que ele esteja esperando. O que você quer fazer? Voltar para a caverna? – digo, sabendo que isso não é uma opção, agora que estamos aqui.
— Isso ou encontrar uma árvore. Mas vamos dar a ele mais meia hora. Então vamos recuar — ela responde.
Nos sentamos a beira da lagoa, esperando algo acontecer. Katniss assobia uma melodia, e logo os tordos, que estão nas arvores ao nosso redor, param para escutar. Em seguida repetem. Eu poderia ficar escutando isso a noite toda.
— Bem como seu pai — comento.
Katniss leva a mão até sua camisa, como se procurasse algo.
— É a música de Rue — ela diz. — Acho que eles se lembram.
A melodia cresce, e fica cada vez mais linda. Katniss e eu ficamos ali, incapazes de nos levantar, o sol quase sumindo, com seus poucos raios irradiando sobre nossa pele. Penso que aqui seria um lugar tão lindo, se não fossem as lembranças. De repente, a música antes tão bela, começa a ficar estranha. Algo parece assustar os tordos, que soltam notas esganiçadas, irregulares. É como se eles estivessem soltando um grito de alerta. Ficamos em pé imediatamente, olhando por todos os lados, nossas armas em mãos, quando Cato surge da floresta, correndo em direção a nós. Katniss atira uma flecha nele, e acerta seu peito, mas a flecha apenas cai para o lado. Ele corre quase desesperado em nossa direção, sem nenhuma arma nas mãos.
— Ele tem algum tipo de armadura! – Katniss grita, enquanto nós dois ficamos imóveis sem saber como agir.
Ele está quase em cima de nós, Katniss se abraça, para se proteger, eu empunho minha faca para acerta-lo, mas ele simplesmente passa por nós, e continua a correr. Só quando uma criatura estranha surge da floresta, é que me dou conta de que Cato não estava correndo para nos atacar, e sim para não ser atacado. Mais meia dúzia dessas criaturas aparecem, e quando registro o que são essas coisas, Katniss já está correndo desesperadamente atrás de Cato. Começo a correr também, mas ainda consigo ver os lobos, enormes, se reunindo, como se discutissem o que fazer. Um deles se levanta sobre as patas traseiras, e faz tipo um sinal, para os outros. Mais um tipo de mutação, penso. Começo a correr ainda mais rápido, mas minha perna logo da sinais, de que não se recuperou perfeitamente. Quando percebo que eles começaram a correr atrás de nós, tenho a certeza de que não sobreviverei, mas ainda assim, me alivio em saber que Katniss estará a salvo, pois ela está bem distante de mim. Mas ai, vejo Cato subindo na Cornucópia, e mesmo que Katniss escape dessas aberrações, será que escaparia de Cato?
Quando ela alcança a cornucópia, se vira e me vê, com os cães mutantes se aproximando rapidamente. Ela atira uma flecha, mas são muitos, ela não pode os deter.— Vá, Katniss! Vá! – grito, acenando para ela subir na Cornucópia.
Ela obedece, e sobe rapidamente. Quando consigo alcançar a cornucópia, quente como fogo, sinto garras rasgando a minha perna. Tento acerta-los com minha faca, mas é inútil. Deixo escapar um grito de dor, e desespero só de pensar em morrer assim. Katniss grita para que eu suba, enquanto agarra meus braços, me fazendo finalmente sair do alcance dessas criaturas horrendas. Vejo Cato, estranhamente fraco, com uma expressão de intensa agonia, quase prostrado no chão. Ele murmura algo, e quando entendo, percebo que ele tem razão.
— O quê?! — Katniss grita para ele.
— Ele disse, "Eles podem subir?" – traduzo, gritando, pois os rosnados dos lobos, são quase ensurdecedores.
Eles estão se reunindo, parecem formas quase humanas, enquanto se equilibram sobre as patas traseiras. Suas garras têm pelo menos 10 centímetros, e aposto serem bem mais mortais que a espada de Cato. Um deles, avança sobre a Cornucópia, e quase nos alcança. Fico com minha faca em mãos, caso a coisa consiga subir, e Katniss parece petrificada olhando fixamente para aquilo. Um grito de horror escapa de seus lábios, e mesmo quando o cão recua, impossibilitado de subir, Katniss acerta uma flecha em sua garganta.
O monstro cai, com um baque. Katniss parece estar em estado de choque.
—Katniss?
Aperto seu braço, preocupado com a sua expressão.
— É ela! — Katniss grita, descontrolada.
— Quem? — pergunto, olhando ao redor, assustado.
Katniss não responde, só olha de um lado para o outro, com seu olhar ficando cada vez mais apavorado.
— O que é, Katniss? — balanço seu ombro, na esperança de tira-la dessa espécie de transe.
— São eles. Todos eles. Os outros. Rue e Cara de raposa e.... todos os outros tributos — ela diz, sem folego.
Olho para as aberrações, e em meio a eles, vejo um lobo, pequeno, com uma coleira de tecidos, com o número 8 bordado. Arquejo, quando finalmente tomo coragem e encaro a coisa, que rosna para mim, me olhando com os mesmos olhos da garota que eu assassinei.
— O que eles fizeram a eles? Você não acha... que esses podem ser os olhos deles de verdade? – pergunto a Katniss, sentindo ânsias.
Antes que ela possa responder, eles se reúnem, e em seguida um lobo se lança contra a cornucópia, e dessa vez alcança. Ele cai por cima de mim, me puxando para baixo, me fazendo cair também, sobre Katniss. Tento a todo custo manter seus dentes afiados longe de mim, sem ousar olhar em seus olhos. Não quero saber que tributo é esse. Katniss grita desesperadamente, para que eu o mate, e quando finalmente consigo, corto sua garganta com minha faca. A coleira de pano cai ao meu lado. Katniss me puxa de volta para o centro da Cornucópia, enquanto o sangue jorra da garganta do animal. Não preciso nem olhar para ter certeza. O lobo, está no chão, com os olhos castanhos me fitando. Escuto um canhão em minha mente. Parece que estou revivendo aquele momento novamente. Resisto ao impulso de fechar seus olhos. Apenas me afasto, horrorizado demais, por de certa forma, ter matado a mesma pessoa duas vezes. A única diferença, é que agora seus olhos não refletem clemencia, e sim ódio. Essa coisa não queria apenas me matar, queria vingança.
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Jogos Vorazes - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro"Jogos Vorazes", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark. # Cento e trinta mil acessos! Muito obrigada a todos os leitores! Minhas outras obras sobre o universo The hunger Games: Em chamas - Peeta Mellark = https:...