Katniss dorme há algum tempo. Ela parece mais relaxada a cada hora que passa, esse descanso veio a calhar, ela não iria aguentar muito mais tempo bancando a durona. Eu não me mexi nem um centímetro, e embora o combinado fosse eu ficar alerta, não consegui desviar meu olhar dela. De repente ela abre os olhos, em seguida senta-se abruptamente.
— Peeta, você deveria me acordar depois de algumas horas – ela diz, brava.
— Para quê? Nada aconteceu aqui. Além disso, eu gosto de te observar dormir. Você não faz cara feia. Melhora muito sua aparência.
Quando digo isso, ela faz cara feia, o que é claro, me faz rir. Ela tenta ficar séria, enquanto verifica se estou com febre. Eu sei que estou, mas não digo nada, afim de sentir suas mãos em seu rosto. Nunca fui cuidado por alguém, e a sensação de ter Katniss fazendo isso por mim, é reconfortante. Eu digo que bebi um pouco de agua, mas está claro que não, pelo fato de minha posição não ter se alterado, e a garrafa estar aparentemente cheia. Ela parece realmente chateada, após ver que estou quente, e me dá mais pílulas para baixar a febre, fazendo eu beber uma quantidade considerável de agua. Ela olha meus ferimentos menores, que estão todos bem melhores. Mas eu sei que minha perna não está melhor. Eu sei disso pela dor, que parece aumentar cada vez mais. Ela começa a desatar minha perna, enquanto eu me preparo para o que verei. Quando ela termina de retirar o curativo, minha respiração para. O inchaço dobrou ou triplicou de tamanho. É óbvio que toda a pele ao redor está inflamada, mas o que me deixa mais triste são as listras vermelhas que começaram a subir em minha perna. Não precisa ser médico, ou curandeiro para saber que isso é envenenamento sanguíneo. E se isso não parar, irá me matar mais rápido do que eu imagino.
Katniss parece tão desconcertada quanto eu.
— Bem, há mais inchaço, mas o pus se foi — ela diz, tentando parecer calma, sem sucesso.
— Sei o que é envenenamento sanguíneo, Katniss. Mesmo que minha mãe não seja uma curandeira.
— Você só tem de sobreviver aos outros, Peeta. Eles vão te curar na Capital quando nós ganharmos — ela diz, confiante.
— Sim, é um bom plano. Mas sinto que isso é mais para meu benefício.
— Você tem que comer. Mantenha sua força para cima. Vou fazer sua sopa.
— Não acenda o fogo. Não vale a pena.
— Vamos ver – ela diz, saindo da caverna carregando um pote com ervas, pedaços de carne e raízes.
Como pode ser tão teimosa? Fico sozinho mais uma vez. Ultimamente ficar sozinho, tem sido uma coisa apavorante para mim. Só me resta torcer para os tributos restantes estarem bem longe daqui. Não sei o que faria se escutasse um canhão enquanto Katniss estivesse fora. Com certeza meu coração não aguentaria. Parece que faz muito calor lá fora, mesmo assim eu sinto frio as vezes. A dor em minha perna, já não me incomoda tanto. Parece que eu já me acostumei com ela. Parece que eu já me acostumei a sofrer. Esse conformismo resulta de anos, de um amor não correspondido. Depois do que parece uma eternidade, Katniss volta, trazendo sopa, e o cheiro está bem agradável. Fico feliz assim que a vejo, mas ao mesmo tempo sinto vergonha pelo rumo que as coisas tomaram. O plano era eu cuidar e defender Katniss, mas tudo o que eu consigo fazer é ficar estirado aqui, esperando pelos seus cuidados. É claro que é bom, mas de tão bom chega a ser ruim. Não faz sentido algum, mas é assim que me sinto em relação a minha inutilidade.
— Você quer algo? — ela pergunta, se aproximando.
— Não, obrigado – digo, pois o que mais eu poderia querer? Ela já está fazendo tanto por mim. Mas aí uma ideia surge. Talvez possamos ter uma conversa sem brigar. - Espere, sim. Conte-me uma história.
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Jogos Vorazes - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro"Jogos Vorazes", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark. # Cento e trinta mil acessos! Muito obrigada a todos os leitores! Minhas outras obras sobre o universo The hunger Games: Em chamas - Peeta Mellark = https:...