Cap 44

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A resposta vem, rápida como uma flecha, me deixando em total desespero, com uma pontinha de alívio. Não. Katniss não terá coragem de me matar. Ela solta o arco, atordoada, e dá um passo para trás, o rubor subindo em seu rosto.

- Não – digo, enquanto vou mancando até ela, pego o arco e o coloco de volta em suas mãos – Faça.

— Não posso — ela diz, seus olhos marejados. — Não vou.

— Faça. Antes que eles mandem aqueles mutantes de volta ou algo do tipo. Não quero morrer como Cato.

Isso é mais uma súplica, do que um simples pedido. Mesmo que no meu intimo eu pense que seria mil vezes melhor, morrer como Cato, do que pelas mãos de Katniss.

— Então você atira em mim — ela retruca, com fúria, empurrando o arco para mim. —Você atira em mim, vai para casa e vive com isso.

— Você sabe que eu não posso — digo, e jogo a arma para o lado. — Ótimo, vou primeiro, de qualquer forma.

Eu me abaixo, e retiro a camiseta de Katniss, de minha perna. A última barreira que me separa da morte. Que impede que eu sangre até a morte.

— Não, você não pode se matar – ela grita.

Num gesto desesperado, ela se ajoelha tentando refazer a bandagem sobre minha ferida. Não sei o que me dói mais, ter que partir, ou ver Katniss nessa situação, por minha causa. Engulo seco.

— Katniss. É o que eu quero – digo por fim, firmemente.

— Você não vai me deixar aqui sozinha.

E quando ela diz estas palavras, olha em meus olhos. Fito seus olhos cinzentos, na esperança de conseguir alguma força, para fazer o que tem de ser feito. Decidir morrer não é uma coisa fácil, ainda mais, quando se sabe que isso significa não apenas deixar a própria vida. Significa deixar pessoas, família. Significa deixar Katniss.

— Escute — digo com determinação, enquanto a puxo para ela ficar de pé. — Nós dois sabemos que eles precisam ter um vencedor. E só pode ser um de nós. Por favor, faça isso. Por mim.

Katniss fica sem reação. Apenas me olha, suplicando com seu olhar para que eu faça algo. Para que eu fique vivo.

- Eu te amo Katniss. Sempre te amei, e eu nunca seria capaz, de matar você. Se for para eu viver, com a dor e a culpa de ter acabado com sua vida, eu prefiro mil vezes a morte. Por favor Katniss, acabe com isso logo. Você tem que ir para casa – suplico.

Ela sai do transe em que estava, e começa a procurar algo, em uma das bolsas que deixamos no lago. Logo eu percebo o que ela quer fazer, pois esta é justamente a bolsa em que estão as amoras que matou Cara de raposa.

Agarro seus pulsos rapidamente, impedindo-a.

— Não, não vou deixar.

— Confie em mim — ela sussurra.

Sustento seu olhar por um longo tempo, até que finalmente entendo aonde ela quer chegar. Solto seus pulsos, sabendo que essa é nossa única saída, visto que um, jamais será capaz de matar o outro. Katniss divide as amoras, deixando um pouco em sua mão, e a outra metade na minha.

— No três?

Me inclino, e beijo seus lábios. Um beijo suave. Um beijo no qual eu consigo, sentir o amor dela por mim também. Triste, é sentir isso no último beijo de nossas breves vidas.

— No três — concordo.

Viramos de costas um para o outro. Nossas mãos vazias, apertando a do outro.

— Mostre-as. Quero que todos vejam .

Estendo minha mão, deixando as amoras bem visíveis. Quero que todos vejam, que no final das contas, nós não fizemos parte desse jogo. Que nós não iriamos chegar ao ponto de tentar matar um ao outro. Katniss aperta minha mão. Isso é um adeus. Começamos a contar.

— Um.
Não acredito que Katniss prefere morrer comigo, ao invés de me matar e poder ir para casa.

 — Dois.
Não posso deixar que isso termine assim. Não posso deixar de cumprir minha promessa.

— Três!

Não há mais nada que eu possa fazer, a não ser comer as amoras. Fecho meus olhos, e coloco-as em minha boca, apertando a mão de Katniss. Enquanto faço isso, lágrimas quentes rolam em meu rosto. Não tão quentes quanto o sangue que escorre de minha perna. Eu falhei.

Trombetas começam a tocar, e a voz Claudius Templesmith grita freneticamente.

— Parem! Parem! Damas e cavalheiros, tenho o prazer de apresentar os vencedores dos Septuagésimo Quarto Jogos Vorazes, Katniss Everdeen e Peeta Mellark! Os tributos do Distrito Doze!


Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora