Katniss retira minhas botas, minhas meias, e vai puxando lentamente minha calça. Sinto um calor subindo do meu pescoço para meu rosto, e não sei se isso é devido a vergonha que estou sentindo, ou se estou com febre. Certamente é pelos dois. Suplico mentalmente para que ela me deixe de cueca ao menos, e ela o faz. Não quero ver o estado de minha perna, mas quando olho para a cara que ela faz, não resisto e olho. Está bem pior, como se isso fosse possível. Minha perna está inchada, e do corte sai muito pus, e sangue. O cheiro que é o pior.
— Bem horrível, hein? — comento, enquanto a observo fixamente com medo de piscar, apagar novamente e talvez, não conseguir acordar.
— Mais ou menos — ela dá de ombros como se não fosse nada demais. — Você deveria ver algumas das pessoas que levam pra minha mãe das minas. A primeira coisa que se deve fazer é limpá-lo bem.
Ouvi dizer que a mãe de Katniss cuida de todos os ferimentos possíveis, qualquer pessoa que se machuque nas minas, é levada para sua casa. Mas não ouvi dizer a mesma coisa sobre ela. Não comento nada, torcendo para que ela realmente saiba alguma coisa sobre isso, como sua mãe. Quem sabe eu ainda tenha uma chance?
Mas, ela parece totalmente perdida e enojada. Quanto mais ela joga agua sobre minha perna, pior fica a dor e o estado do corte.
— Por que não deixamos respirar um pouco e então...
— E então você costura? — pergunto.
Chego a ficar com pena dela. Não há nada que ela possa fazer.
— Isso mesmo. Enquanto isso, coma.
Ela me dá alguns pedaços de pera seca, e volta para o riacho, para terminar de lavar minhas roupas. Eu como um pedaço, lutando contra o impulso de pôr tudo pra fora. E lutando mais ainda, para me manter acordado. Mesmo com um sol tão forte, sinto frio, muito frio. Fico pensando qual seria meu último desejo antes de morrer, se eu tivesse esse direito. Olho para Katniss, remexendo sua mochila, e percebo que a resposta está bem aqui, comigo. Meu último e único desejo seria sentir seus lábios nos meus. Mesmo sabendo não ser reciproco, só o fato de senti-los, me faria mais feliz do que já fui em toda minha amarga vida.
Ela volta, atordoada e começa a mastigar as mesmas folhas que usou em minhas picadas, e aplica em minha perna. O pus que já estava escorrendo, dobra a quantidade. É algo realmente nojento, me pergunto como ela está aguentando lidar com isso, que além de tudo, não deve ser um bom sinal.
— Katniss? — chamo.
Ela olha em meus olhos. E eu tomo coragem para dizer de uma vez.
— E quanto aquele beijo? – digo encarando-a.
Ela começa a rir.
— Algo errado? — pergunto, me sentindo um idiota.
— Eu... eu não sou nada boa com isso. Eu não sou a minha mãe. Eu não faço ideia do que estou fazendo e odeio pus — ela diz, um tanto descontrolada. — Ui! — ela resmunga enquanto aplica mais folhas. — Uuui!
— Como você caça? — pergunto, confuso.
— Confie em mim. Matar coisas é muito mais fácil que isso — ela diz. — Apesar de que, pelo que sei, possa estar te matando.
— Pode se apressar um pouquinho? — pergunto, pois isso está sendo com certeza mais difícil para mim do que para ela.
— Não. Cala a boca e coma suas peras — ela rebate, nervosa.
Como mais um pouco, e após várias aplicações, o inchaço parece ter diminuído, consequentemente a dor também.
— E agora, Dra. Everdeen? — pergunto ansioso para isso terminar logo.
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Jogos Vorazes - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro"Jogos Vorazes", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark. # Cento e trinta mil acessos! Muito obrigada a todos os leitores! Minhas outras obras sobre o universo The hunger Games: Em chamas - Peeta Mellark = https:...