Cap 35

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Enxugo minhas lágrimas, e tento decidir por onde começar. Reparo que há uma seringa enfiada em meu braço, com apenas um restinho de liquido dentro. Olho imediatamente para minha perna, e sorrio, percebendo que está bem melhor que antes. Retiro a agulha com cuidado do meu braço, e decido que, se esse remédio foi capaz de fazer algo tão miraculoso com minha perna, irá ajudar Katniss também. Enfio a agulha em seu braço, e injeto o pouco liquido que restava. Ela dá um suspiro longo. Por um instante, penso que ela irá acordar, mas nada acontece. Consigo me levantar, com muito custo, pois todo esse tempo ora deitado, ora sentado, deixaram minhas juntas relativamente duras. Me movo devagar até a mochila de Katniss, onde encontro um kit de primeiros socorros. Acho uma espécie de gaze, que será bem útil para enfaixar a cabeça dela, e estancar o sangramento. Limpo mais uma vez seu rosto com minha jaqueta, que já está parcialmente ensopada de sangue, e enfaixo rapidamente sua cabeça. Em seguida tiro suas botas e meias que estão encharcadas. Ela está muito gelada. Consigo arrasta-la um pouco para o lado, para tira-la daquela horrível poça de sangue, e a coloco dentro do saco de dormir. Penso em ir até o lago, procurar por comida, pois a nossa está acabando, e quando ela acordar, terá que ficar descansando por algum tempo, sem poder caçar. Mas quando olho para fora, entre pequenos buracos, da parede de pedra que Katniss deve ter construído com o intuito de fechar a boca da caverna, vejo que um temporal está se formando. Logo, uma chuva torrencial começa a cair, me desanimando da hipótese de sair daqui. Goteiras aparecem por todos os lados, começo a procurar algo para proteger Katniss das gotas frias, que caem sem parar, quando acho em suas coisas, um pedaço de plástico. Depois de um bom tempo tentando fazer algo útil, consigo montar uma espécie de proteção ao redor do corpo de Katniss. Fazer tanta coisa, me deixou exausto, e minha perna está latejando. Mas, me dou por satisfeito pelo dia de hoje. Por mais que seja doloroso ver Katniss assim, desacordada, não consigo desfazer essa sensação de felicidade do meu coração. Nós podemos voltar para casa, afinal, porque ela me salvou, de novo.

  - Agora eu vou cuidar de você, docinho – sussurro, pois talvez ela possa me ouvir.

Me abaixo e dou um beijo em sua testa.

 Pela primeira vez, em dias, sinto que estou com fome. Muita fome. Pego um punhado de ervas, e como, me arrependendo em seguida, pois quando Katniss acordar, terá de se alimentar bastante devido à perda de sangue. Talvez essa chuva pare, e eu possa sair para procurar alguma coisa. Estico minha jaqueta e as meias de Katniss em uma pedra, na esperança que seque um pouco. Já está bem escuro, não sei se pela tempestade ou se realmente anoiteceu. Sento-me ao lado do corpo aparentemente sem vida de Katniss, desejando fazer algo para ela acordar. Coloco a mão em seu rosto e ela continua gelada. Resolvo deitar com ela, dentro do saco de dormir, para aquece-la. Não me sinto à vontade fazendo isso, pois, ela está desacordada. Mas o que mais eu poderia fazer? Envolvo seu corpo em meus braços, e a sensação de ter seu corpo tão colado ao meu, me provoca arrepios. Um calor enorme toma conta do meu corpo, e eu percebo que Katniss está menos gelada. A música começa, e eu estremeço, só de pensar que a foto de Katniss poderia estar aparecendo no céu hoje. Aperto seu corpo um pouco mais, como se isso confirmasse que ela está aqui comigo. Pelas frestas entre as pedras, vejo a foto de Clove. Eu não deveria ficar triste, mas, apesar de o tempo em que convivi com ela, não me trazer boas lembranças, não consigo ficar feliz com a sua morte. Decido que é hora de ser menos sentimental, e passar a ver esses jogos como a capital quer que nós, tributos, vejamos. O que realmente importa para mim, é tirar Katniss daqui, não vou deixar me abalar por outras mortes. Não mais. Mesmo que eu seja o causador delas.

Pensar assim, faz eu me sentir enjoado. Me concentro na sensação de ter Katniss comigo. Logo todo e qualquer pensamento ruim, some de minha mente, e eu passo o resto da noite, fantasiando, como seria maravilhoso ter Katniss tão junto ao meu corpo, pela sua própria vontade.

Jogos Vorazes - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora