Abraço Katniss com força, até ela parar de tremer.
— Não, eu estou bem — digo, tranquilizando-a. Mas ela não diz coisa alguma em resposta. — Katniss?
— Se duas pessoas concordam em um sinal, elas ficam por perto – ela retruca, enquanto me empurra. - Porque se um deles não responde, eles estão em apuros, está certo?
— Está certo! – respondo olhando para baixo.
— Está certo. Porque foi isso que aconteceu com a Rue, e eu assisti ela morrer! — ela diz, com sua voz embargando.
Ela se vira, e vai até a mochila. Eu fico parado, com as amoras em meus bolsos, e o coração disparado. Não sei o que teremos de enfrentar daqui para frente, mas eu sinto um medo tão grande. Agora, que estamos tão perto de escapar daqui, as coisas podem nos surpreender e acabar assim. Com Katniss descontrolada pela minha morte. Ou mil vezes pior. Eu desesperado pela morte dela.
— E você comeu sem mim! – Katniss grita, me assustando.
Demoro um tempo para processar o que ela quer dizer, quando a ficha cai, a indignação toma conta de mim.
— O quê? Não, eu não comi — respondo.
— Ah, e suponho que as maçãs comeram o queijo.
— Eu não sei o que comeu o queijo — digo bem devagar e claramente, tentando não perder a paciência. — mas não foi eu. Eu estive correnteza abaixo coletando amoras. Você gostaria de algumas?
Eu não faço ideia do que possa ter acontecido com o pequeno pedaço de queijo que nos restou, mas de uma coisa eu tenho certeza. Não fui eu que comi. Poderia Katniss ter ficado tão transtornada a ponto de estar delirando?
Ela olha as amoras atentamente. Estica os dedos, e pega algumas que caíram pelo chão, durante o nosso reencontro. Estou a ponto de colocar algumas em minha boca, quando escuto o som de um canhão. Me assusto, e faço menção de ir até Katniss, mas ela se vira bruscamente, e olha para mim, como se esperasse que eu estivesse morto. Ela parece aliviada, assim como eu. Ergo as sobrancelhas ansiando saber quem se foi. Secretamente desejando que seja Cato.
Um aerodeslizador aparece a poucos metros de nós, e levanta o corpo magro da Cara de raposa, pelo céu. Estremeço, pois Cato está mais perto do que imaginamos. Agarro Katniss pelo braço, e a empurro em direção de uma árvore.
— Escale. Ele estará aqui em um segundo. Teremos uma melhor chance lutando contra ele de cima.
Mas ela não o faz. Pelo contrário, ela me para, parecendo calma demais pela urgência da situação.
— Não, Peeta, ela foi obra sua, não do Cato.
— O quê? Eu nem sequer a vi desde o primeiro dia — digo, preocupado pois Katniss não parece estar pensando direito. — Como eu poderia tê-la matado?
Em resposta, ela segura as amoras.
Leva algum tempo até que Katniss me explique o que ela quis dizer. Desde como Cara de raposa roubou comida da pilha de suprimentos, que eu ajudei a construir, até ela nos seguir e além de roubar nosso queijo, coletar e comer das amoras que eu também colhi, que além de belas, eram mortais. Indiretamente, eu sou culpado pela morte dela. Mais um peso que terei que carregar.
— Pergunto-me como ela nos encontrou — digo. — Minha culpa, eu acho, se eu estava tão barulhento como você diz.
— E ela é esperta, Peeta – Katniss responde gentilmente. - Bem, ela era. Até você superá-la.
— Não de propósito. Não parece justo de forma alguma. Quero dizer, nós estaríamos mortos, também, se ela não tivesse comido as amoras antes — mas logo me lembro, que Katniss as reconheceria, então apenas eu estaria morto, pois por duas vezes, quase as comi. — Não, claro, não estaríamos. Você as reconheceria, não?
Katniss confirma.
— Nós as chamamos de amoras cadeado.
— Até o nome soa mortal — digo, com remorso por ter feito mais uma vítima. — Sinto muito, Katniss. Eu realmente pensei que elas pareciam as mesmas que você juntou.
— Não se desculpe. Isso significa que estamos um passo mais perto de casa, certo? —ela pergunta.
— Vamos acabar com o resto — digo.
Cuidadosamente, recolho as amoras do chão, e junto com as que estavam comigo, colocando-as numa folha de plástico, para jogar na floresta.
— Espera! — Katniss grita, e pega um punhado das amoras, e coloca dentro da mochila.
— Se elas enganaram a Cara de raposa, talvez possam enganar Cato também. Se ele estiver nos caçando ou algo assim, podemos agir como se acidentalmente derrubamos a bolsa, e se ele comer...
— Então olá Distrito Doze — termino.
— Isso.
— Ele vai saber onde estamos agora. Se ele estava em algum lugar por perto e viu o aerodeslizador, vai saber que nós a matamos e virá atrás de nós – digo.
— Vamos fazer fogo. Agora.
Ela começa a juntar galhos.
— Você está pronta para encará-lo? — pergunto, com receio.
— Estou pronta para comer. Melhor cozinhar nossa comida enquanto temos chance. Se ele souber que estamos aqui, ele sabe. Mas ele também sabe que há dois de nós e provavelmente pense que estávamos caçando Cara de raposa. Isso significa que você se recuperou. E o fogo significa que não estamos nos escondendo, estamos convidando-o. Você se mostraria?
— Talvez não.
Mostro minha habilidade com o fogo, enquanto faço uma pequena fogueira a partir dos galhos úmidos que Katniss juntou. Num piscar de olhos temos coelhos, esquilos e as raízes que colhi assados.
Enquanto um come, o outro vigia, mas como Katniss previu, Cato não aparece.
Quando terminamos, ainda temos bastante comida de reserva. Não podemos continuar aqui, e Katniss quer ir adiante na floresta e achar alguma arvore para podermos subir e dormir. Mas tenho que tirar essa ideia de sua cabeça.
— Não posso subir como você, Katniss, especialmente com minha perna, e não acho que poderia dormir a quinze metros do chão.
— Não é seguro ficar em aberto, Peeta.
— Não podemos voltar para a caverna? — suplico. — É perto da água e fácil para se defender.
Katniss suspira, enquanto avalia a situação. Devo admitir que hoje foi um péssimo dia. As alegrias que passei na caverna parecem muito distantes, agora que estamos aqui, em mais um impasse, depois de tanto nervosismo.
Ela me surpreende, me dando um beijo.
— Claro. Vamos voltar para a caverna.
Suspiro satisfeito e aliviado.
— Bem, essa foi fácil – brinco.
Katniss retira a flecha que ela certou em uma arvore, quando quase me atingiu, joga mais galhos na fogueira, para enganar Cato, caso ele venha até nós, coisa que eu duvido, e começamos nossa caminhada até a caverna.
Quando chegamos ao riacho, vejo que o nível da agua está relativamente baixo. E a agua corre vagarosamente. Isso soa bem estranho visto que há pouco tempo ele estava transbordando. Os idealizadores devem estar providenciando algum grande final. Isso deve fazer parte do show. Quando finalmente alcançamos nosso destino, enchemos nossas garrafas, e adentramos a caverna. Me sinto feliz aqui. Mesmo tendo passado alguns dias agonizando nesse chão, e ter encontrado Katniss, quase morta em uma poça de sangue bem ao meu lado, também tive a oportunidade de vivenciar coisas incríveis, e sensações indescritíveis. Não posso ignorar isso. Não posso ignorar o fato de que foi aqui, que redescobri o amor, e que me senti ao menos um pouco, correspondido. Foram momentos que eu nunca quero esquecer. E momentos que eu provavelmente, nunca voltarei a ter. Nada mais justo que passar o que pode ser nossa última noite, onde eu pude ser verdadeiramente feliz, tendo Katniss comigo, e para mim.
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Jogos Vorazes - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro"Jogos Vorazes", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark. # Cento e trinta mil acessos! Muito obrigada a todos os leitores! Minhas outras obras sobre o universo The hunger Games: Em chamas - Peeta Mellark = https:...