Capítulo 40

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Guilherme


Ao sentarmos na mesa para almoçar, Mariana me entregou minha lata de coca-cola que antes estava em sua bandeja e em seguida deu um gole no seu suco, ainda continuava em silêncio. Comecei a comer meu prato sem muita animação, fazia só mais um dia calorento e corrido na capital carioca em que tirei alguns minutos para almoçar ao lado da minha princesa-marrenta.

— Que bicho te mordeu? — Arrisquei perguntar.

— Você está todo estranho comigo desde cedo — Seus olhos me fitaram com cautela.

— Eu só não estou muito bem. 

— Esse era meu medo... — Mariana voltou a tomar seu suco com os olhos apreensivos. 

— Qual era seu medo? — Aproximei meu corpo da mesa e apoiei o cotovelo sobre. 

É normal sentir receio do que Mariana fala. Nunca estou preparado o suficiente para conduzir seu fluxo de pensamentos. Que culpa eu tenho de ser louco por ela a ponto de reagir mal as suas divagações?

— Meu maior medo sempre foi me entregar para você e dar errado. Você ficar estranho comigo e passar a me tratar igual tratava as outras. Porra Guilherme, não tem nem uma semana que a gente tá namorando e você já começou agir estranho — Mariana revirou os olhos e mexeu todo o seu corpo em contestação.

O que eu fiz foi rir, era bonitinho ver Mariana toda estabanada de medo de perder o que a gente vive agora. Meu coração ainda desconsidera isso insustentável, já que eu prevejo nosso futuro juntos.

— Ei — segurei sua mão sobre a mesa — Mari, olha aqui para mim — pedi, mas ela insistiu em olhar para longe — Mariana, eu te amo. — beijei sua mão — Eu não estou estranho com você, meu amor. Só me sinto perturbado com uma coisa e... 

— Que coisa? — Voltou seus olhos preocupados para mim sem me deixar concluir a frase.

— Agora me deixa terminar — pedi baixinho antes que ela começasse a berrar — Eu não vou te deixar, beleza? Se seu medo é esse... Eu nunca vou te deixar. Ficar estranho com você não passou pela minha cabeça. Eu só estou precisando resolver uma parada aí.

— Fala logo Guilherme, que parada? Não vai me dizer que... — Soltei mais uma risada antes que ela ficasse louca — Não ri da minha cara, palhaço. 

— Eu tô há uma semana sem falar com a Sofia e isso tem mexido comigo... — Afirmei cautelosamente. Mariana parou de chupar o canudinho do suco e fixou seus olhos em mim — Calma lá, você entendeu errado. Tal de mulher ciumenta é foda... 

— Não estou com ciúmes, eu entendo que a Sofia tem um papel importante na sua vida e te apoio a fazer as pazes com ela. — Cruzou os braços confiante após recostar suas costas na cadeira. 

— Exatamente por isso você é perfeita. Valeu por me entender!

— Agora me fala, está esperando o que para ir fazes as pazes com a Sofia? 

— Sei lá, eu estava aqui babando em você. Sabe, até hoje não acredito que o universo foi tão bonzinho comigo, depois de eu ter quebrado o coração de tantas novinhas, ganhar você de presente... Fala sério, você é a mulher que eu pedi pra Deus — Sorri aberto. 

Mariana também abriu um sorriso disfarçado quando terminei de falar e voltou a tomar seu suco.

— Já que não vai falar nada, estou indo nessa. — Me levantei da cadeira. 

— Ei, espera — seus olhos me encararam — Você sabe que eu odeio esse clichêzinho todo, mas eu também tenho agradecido todos os dias por ter você.

— Eu vou logo antes que comece a chover. Você falando isso, é melhor a gente chamar o Noé pra montar a barca.

— Bobo — Vi seu sorriso se formar por completo.

Dei a volta na mesa e lhe abracei por trás, segurei seu corpo antes que ela tivesse chances de sair daquele abraço.

[...]

Quando a governanta abriu a porta, fui logo entrando sem pedir permissão. Ela me lançou um olhar esnobe pela falta de educação.

— Tia, cadê a Sofia? — Encontrei a mãe da Sofia sentada na sala, lendo um livro de autoajuda.

— Está no quarto, mas ela não quer falar com você Guilherme. Desiste. 

— Não vou. Chama ela aqui — Me sentei no sofá ao seu lado.

— Melhor não, deixa ela quietinha. — Não tirou os olhos de sua leitura.

— Tia Carol, a senhora vai me ajudar ou não? — Cruzei os braços.

— Se te ajudar for limpar sua barra com a Sofia a resposta é não.

Me levantei do sofá e corri para o pé da escada, eu ia até o quarto da Sofia com permissão ou sem. 

— Guilherme volta aqui. Ei, Guilherme, eu não deixei você subir.

— Sofia abre isso aqui, eu preciso falar com você — Bati o mais forte que pude em sua porta.

 Ela não respondeu e eu tornei a bater á porta cheia de adesivos.

— Sofia, por favor — Insisti.

— Eu não te disse? — Tia Carol, mais rabugenta do que o normal, apareceu do meu lado.

— Sofia, sou eu, o Guilherme. Abre aqui pra gente conversar — Olhei para o lado e ainda tinha uma estátua parada me olhando, vitoriosa pelo meu vácuo.

Escutei a chave girar na porta e sorri confiante.

— Eu não te disse? — Imitei-a enquanto abraçava Sofia.

— Eu pensei que você não viesse mais. Uma semana é tempo demais para nosso histórico de amizade— Sofia ergueu os pés quando se sentou na cadeira.

— Eu estava fazendo o que você mandou, resolvendo a minha vida — Suspirei ao me lembrar do turbilhão de coisas que haviam acontecido nesse meio tempo em que Sofia tomou chá de sumiço. 

— A pergunta é, resolveu? 

— Resolvi. Já pode me perdoar. — Senti os olhos de Sofia brilharem em sentido de prossiga — Vou viajar para o interior amanhã pra conhecer a família da Mariana. — Estremeci ao soltar essa frase.

— Quer dizer então que... — gargalhou — Quem diria.

— Você estava certa o tempo todo. Ela é o amor da minha vida. 

— Sinto medo de sair na rua.

— Por que, hein? — Me preocupei.

— Temporal, ventania... Tudo pode acontecer — segurou outra risada — Você, apaixonado? Me belisca, não pode ser realidade.

— Para, não é pra tanto. Do amor não escapa ninguém. — Dei de ombros.

— Fico feliz por você. A Julia nunca me desceu. — Sofia revirou os olhos.

— É, não foi minha melhor fase. — Sorri acanhado.

De fato, eu nunca tive grandes ilusões com Julia. Essa coisa de casar, ter filhos, montar uma família... Acho que eu nunca imaginei ter isso com ninguém antes de me apaixonar por Mariana.

— Mas e aí, a gente já pode ficar de bem ou você vai continuar virando a cara pra mim na faculdade? 

— Não — ela respondeu sem titubear — Na verdade nem eu estava aguentando mais esperar você tomar um rumo — forçou um sorriso alegre — foi só uma tática pra que fizesse isso logo.

Meu nome é cafajesteOnde histórias criam vida. Descubra agora