Capítulo 01

3.8K 235 99
                                    


                                                                                                         Mariana

 Era uma sexta-feira comum, mas com uma sorte grande, o professor havia cancelado a aula. Então tirei o dia para ficar na cama. Na correria do dia a dia, dificilmente consigo um tempo de descanso. Curso Jornalismo na Universidade Federal e me mudei para o Rio de Janeiro, há um ano, por esse motivo. Nunca gostei muito de festas e baladas, então sempre dediquei os fins de semana aos meus estudos, que apesar de tomarem tempo, me deixam feliz por ser a área que sempre sonhei em seguir.

Todo mundo sabe que a regra do universitário é antes de ser um estudante, ser um festeiro, então, toda sexta-feira tem uma festa diferente do pessoal da faculdade. Dessa vez é o dia da festa da galera que cursa medicina e diferente de muitos, me esforcei para não ter que ir para ela. Caio namora Ana, que além de ser minha amiga de infância, divide apartamento comigo. Ele cursa medicina e os dois são o casal festeiro. Em um dias desses, não me recordo porque, eu prometi que acompanharia minha amiga nessa festa.   

— Eu fico pronta em meia hora. E você? Nem começou a se arrumar, Mariana. — Ana me olhou desanimada.

— Você sabe que eu não estou afim dessa festa — Me ajeitei na cama sem pressa para levantar.
— Se eu soubesse teria chamado a Gabriela.

Ana adora me passar ciúmes, ainda mais quando quer fazer chantagem emocional.

— A Gabriela não é a sua melhor amiga! — Exclamei indignada — Eu sou sua melhor amiga e por isso você me chamou. Agora não reclama que vou me arrumar, já que não tenho escolha. 

— Depois não sabe porque não arruma um namorado.

— Eu não quero um namorado — Respondi ao me levantar em um pulo da cama. 

– Está vendo como você fica irritada quando toco neste assunto? — Ela riu da minha cara que provavelmente me entregaria.

— Vou tomar meu banho. 

Me vi obrigada a tomar um banho e me arrumar para a festa mesmo que estivesse desanimada porque promessas as vezes são caras de se pagar. As festas planejadas pelo curso de medicina são sempre as mais faladas e esperadas no ano pra galera da nossa faculdade, logo, Ana e Caio passaram cerca de meses comentando sobre. Apesar dos estudantes de medicina se acharem o centro do mundo e algumas pessoas até discordarem de mim, eles são humanos como nós, meros mortais.

— Não é só uma festa, é A festa — disse Ana animada.

— Pra mim não passa de uma festa cheia daqueles caras filhinhos de papai — Revirei os olhos

— Amiga, eu admiro demais sua simpatia — Ela ironizou.

— Já eu admiro sua ironia — Respondi com um sorriso falso

— O Caio já deve chegar e você não está pronta — Ana mudou de assunto irritada. 

Caio e Ana namoram há quase um ano e são daquele tipo de casal feliz de arder os olhos. Eu sou a cupido deles porque sempre víamos Caio na lanchonete que almoçamos e um dia eu fui lá e entreguei o número da Ana pra ele. Já estava cansada de ver eles trocarem olhares e ninguém tomar atitude. Então até hoje eles insistem em encontrar um namorado decente pra mim, porque dizem que quem sabe assim eu paro de sair de vela. Eles só se esqueceram do principal... Eu não quero um namorado.

— Reclama menos e age mais. Cadê aquela jaqueta que eu te emprestei mês passado, em? — Revirei o guarda-roupa.

— Eu sei lá, custo fazer questão de guardar minhas coisas.

— Faça mais grosserias que eu desisto de ir — Retruquei — Aqui, achei — Sorri aliviada. Vesti a jaqueta desbotada, fedendo mofo. Ainda era melhor que passar frio.

— Ótimo, podemos ir.

— É, infelizmente. — Ajeitei meu sapato e saí atrás de Ana.

O ambiente até que era agradável para aqueles que gostam de ficar dançando ao som de uma batida que estrala o ouvido, mas festa não faz nenhum pouco meu tipo porque meu pé dói nos primeiros quinze minutos. Claramente eu estava sujeita a passar a noite toda sentada em uma cadeira rindo da cara daqueles moleques que acham que são os fodões da festa.
Cogitei beber muito, já que a festa era openbar, até passar daquele limite da dignidade, porque assim acabaria criando coragem de encontrar alguém interessante que me distraísse. Apesar de que sempre achei que nenhum cara daquele lugar faria meu tipo.

A festa estava lotada de gente bonita e bem vestida. Uma multidão dividida entre os pervertidos que olham para a sua bunda quando você passa e as garotas fúteis em busca do seu prêmio, que sempre foi ficar com algum deles. Sempre tive a grande qualidade de me perder em meus pensamentos e me destrambelhar por onde passo. Nessas horas viro o pé, arrasto o dedão no asfalto, ou simplesmente me esbarro em alguém. Por enquanto tentei me concentrar em caminhar lado a lado com eles, Caio e Ana, o que me dava um grande alívio de não ter perdido de vista. Por isso, mal olhei por onde andávamos. Minha voz soava alto, por conta do barulho do som.

— A gente vai arrumar alguém pra você, relaxa —Caio gritou comigo.

— Relaxa? Porque não é você que vai pagar vela pra um casal chato e metido — Revirei os olhos enfurecida.

— A gente não é chato e metido — Ana fez careta.

— São sim. Vocês se acham o casal mais... — Alguém me interrompeu se esbarrando em mim.
— Desculpa — O garoto me manteve em pé,impedindo meu maior tombo da história. Abri a boca pra soltar um palavrão e... —Você é bem desatenta né? 

Só porque eu me esbarrei em você e quase cai de quatro no chão? Claro que não,isso não quer dizer que eu seja desatenta, só que eu seja... Bom, digamos que meio desastrada. 

— Eu poderia te xingar e dizer que você é um idiota e quase deixou eu voar naquele chão feito uma... — Pausei enquanto ele me olhava, assustado, nos olhos. E que olhos.— Tudo bem, eu te perdoo, até porque você não me deixou cair. — Sorri depois de um suspiro. 

— Perdoado? — Me olhou sem jeito.

Foi então que tive tempo de observá-lo com calma e me certificar de que ele era tão bonito que talvez até merecesse ser perdoado.

— É, não muito. Ainda estou um pouco puta e poderia te xingar bastante por você não olhar por onde anda — Olhei para o chão.

— Mas foi você quem esbarrou em mim — Ele revidou.

— Pois é, deixa isso pra lá — Consegui soltar um riso do meu próprio mico. 

Olhei para o lado e meus amigos não estavam mais comigo. Maldita mania de falar demais, é sempre nessas horas que eles fogem. 

Meu nome é cafajesteOnde histórias criam vida. Descubra agora