As minhas brigas com o Bruno tornaram-se cada dia mais constantes, querendo ou não o motivo sempre era seu ciúme exagerado. Duas semanas que eu não falo com o meu melhor amigo, isso simplesmente me deixa pior do que eu já estava. Eu não tenho mais a companhia que me fazia rir, não tenho perto quem me contava piadas sem graça, nem ninguém para me ouvir falar por horas sem me mandar calar a boca ou me dizer que eu tenho um grande defeito que é falar demais desde quando acordo até dormir. Sinto que não tenho mais confiança em ninguém, como eu havia conquistado a de Guilherme. O pior de tudo ainda é ser obrigada enxergar ele passar por mim na faculdade, cada dia com uma garota diferente, e acabar concluindo que é só para se exibir mesmo.
No fim de semana, decidi sair com Bruno para esfriar a cabeça, resolvemos entrar para jantar em um restaurante qualquer que passamos na porta e gostamos, mas nossos passeios a dois já davam sinais de que aquilo estava ficando esquisito demais.
— A gente podia chamar o Gui e a Ju né... — Comentei sem esperanças.
— Não vai rolar — Bruno respondeu ríspido.
— É, não vai. Você tem ciúme até da minha sombra — Murmurei desapontada.
— Mari, agente já conversou sobre isso — Bruno rebateu.
— Já. Eu vou ter que evitar o Guilherme até quando? Será que é até você crescer um pouco e parar com essa babaquice de me proibir de falar com ele?
— Eu não te proibi, você pode correr para os braços dele quando quiser. Mas elevai te usar, como usou todas as outras, entende?
— Não é assim, o Guilherme me trata com respeito. Nós éramos amigos! Somente grandes amigos. Entendeu Bruno? A-M-I-G-O-S! — Soletrei farta de tanta desconfiança.
— O Guilherme não é amigo de ninguém, Mariana. Ele só usa as mulheres e ia fazer igualzinho com você porque é inocente. Você devia me agradecer por ter te livrado dele, eu te fiz um favor, meu amor. — Bruno afirmou paciente. Olhei no fundo dos seus olhos enquanto sentia raiva.
Na verdade, me sentia cada vez mais indignada e frustrada com o que ele era capaz de me dizer. Não podia ser ele dizendo aquilo.— Você não me fez favor nenhum me tirando meu melhor amigo.
— Então, Mariana,você quer ele de volta. É isso? — Bruno cruzou os braços, me fitando sarcasticamente — Pois vá atrás dele, mas por favor... Não quero saber que você ficou chorando dias trancada no quarto por minha causa.
— Você está sendo patético.
— Eu estou tentando te defender, Mariana. E olha só o que você está fazendo. Lamentando pelo vagabundo do Guilherme.
— Me defender? Pra mim isso tem cara de ciúme possessivo.
— Eu não aguento mais, sabe? É sempre assim. Eu estou cansado! Eu não posso ter uma garota que o Guilherme sempre se mete no meio, porque o "Guilherme", é o Guilherme. Vai se foder você e o Guilherme.
De imediato eu fiquei surpresa, mas no fundo eu sabia que não devia ter tentado outra vez. Percebi nesse momento que nosso relacionamento teria um fim mais próximo do que esperava.
— Eu devia saber que nunca daríamos certo — Cuspi as palavras com o coração na boca.
— E eu devia saber que todas as garotas da faculdade que me envolvo nunca vão ter olhos pra nenhum cara além do Guilherme. Eu tô bem cansado e quero mais que você se foda com o Guilherme. Que ele te use como faz com todas as outras.
— Espero que você vire homem e aprenda a tratar uma mulher. Você não passa de um estúpido —Limpei uma lágrima que escorria do meu olho.
Logo eu me levantei da mesa e deixei que ele ficasse sozinho. Bruno me seguiu até a porta do restaurante enquanto eu dava passos rápidos para a frente.
— Perai, onde é que você vai? — Bruno gritou enquanto eu me distanciava ainda mais dele.
— Não te interessa, me deixa. — Gritei de volta.
A verdade é que eu não sabia exatamente onde estávamos. Até algum tempo eu havia chegado ali com o Bruno de carro e nós descemos porque achamos as luzes daquele restaurante atraentes. Tudo isso não importa mais, a minha vontade de ficar bem longe dele conseguia ser bem maior do que qualquer medo de me perder por aí.
— Mariana, está longe da sua casa. Não compensa pagar de ignorante agora, eu te levo embora. — Bruno deu passos que pude ouvir atrás de mim.
— Você, Bruno? De você eu não quero nada — suspirei ainda de costas — Aliás... Quero sim. — Parei de caminhar e observei Bruno logo atrás — Quero distância.
Corri sozinha por alguns segundos e ouvi alguns gritos do Bruno me pedindo para voltar, para que eu deixasse ele me levar em casa. O que eu fiz foi ignorar. Atravessei a rua correndo e entrei em um caminho escuro e sem movimento. Talvez fosse mais seguro longe de todo aquele barulho da cidade grande. Depois de alguns minutos caminhando com pressa, um carro se aproximou lentamente de mim e eu estremeci de medo. O farol forçava luz alta, fazendo com que meus olhos se cegassem com tamanha claridade. O carro acompanhou os meus passos rápidos, lado a lado comigo. O vidro abaixou e um homem de meia idade me chamou com a voz rouca.— Entra aqui.— ouvi o convite mascarado de ordem. Continuei andando enquanto ele ainda era capaz de me acompanhar. — Entra gatinha, não quero ter que te forçar a nada. — ouvi sua risada. — Como você é teimosa — prosseguiu — Será que vou ter que iraí te pegar pelo braço?
Preparei o meu cérebro e também o meu corpo para me movimentar, comecei a correr e o carro acelerou atrás de mim. Virei em uma esquina sem saída e mais escura que o normal, pude escutar o acelerador do carro, indicando que ele virou atrás de mim. Nessa hora, a única luz que me guiou foi o farol daquele carro que me perseguia.
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Meu nome é cafajeste
Romance"Quando se acredita muito em amor, é ideal imaginar que o amor da nossa vida, aquele que ainda há de aparecer, chegará montado em um cavalo branco, será lindo como um príncipe e cortês com um rei. Difícil é acreditar que aos vinte anos de idade, cur...