Capítulo 28

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Mariana

Acordei depois da décima gemida do meu celular. Abri um olho e depois o outro ainda com dificuldade, já que meus olhos queimavam. Vi meu celular vibrando sobre a cama de lençol macio, era a única luz capaz de clarear aquele quarto escuro. Observei as dez mensagens que Ana me mandara e estremeci. Rapidamente me lembrei que havia dormido fora de casa, em um quarto espaçoso, com uma cama de casal tão extensa, que ali caberiam até quatro de mim. Ela era espaçosa e aconchegante. Ao me sentar, fixei meus olhos no espelho do teto ao chão a minha frente, ele refletiu meu semblante destruído. Cabelo bagunçado, olhos muito inchados, e a roupa do dia anterior, estava um pouco amassada. Será que dormi demais? 

O celular vibrou mais uma vez e eu decidi que resolveria as preocupações de Ana depois, pois antes precisava jogar uma água fria no meu rosto e arranjar coragem para sair desse quarto. 

Desci o último degrau ainda com medo de me esbabacar no chão e pude ouvir o volume alto da tv mais próximo de mim. O carro corria com habilidade nas curvas e o barulho do cronometro era capaz de ensurdecer qualquer ser humano. Guilherme me viu aproximar e pausou o jogo.
— Bom dia, princesa — Notei seu largo sorriso. 

O momento era propício para eu me sentir como uma princesa, já que um príncipe sem camisa me desejava bom dia. 

— Você é bom nisso — Encarei a tv e ele gargalhou confiante. 

— Dormiu bem? — Voltou os olhos da tv para mim. 

— Melhor do que eu esperava. — Ajeitei meu cabelo embaraçado enquanto ainda sentia pouca vergonha daquela situação.   

— Meus pais já saíram — Guilherme riu da minha desconfiança ao passar os olhos pela sala —Você dormiu um pouco demais, porque agora já é hora do almoço.

— Melhor assim, né? Eu não pretendia passar por uma apresentação, assim... No café da manhã — senti um frio na espinha — E caramba, preciso ir embora. Você me leva? 

— O dia está lindo. Convidei uma galera aqui pra casa, a gente vai curtir a piscina. Não quer ficar? 

— Valeu Gui, mas eu preciso mesmo ir. Ana deve estar preocupada comigo.


Talvez eu tivesse problemas maiores para serem resolvidos, além de relembrar asúltimas horas do dia anterior com Ana, mas nada como correr de volta para casadepois de alguns acontecimentos conturbados te assombrarem.   

— Beleza,você que manda. — Respondeu desapontado.

Toquei acampainha e em segundos Ana Luíza abriu a porta com expressão desesperada, aome ver, me abraçou como seu eu estivesse desaparecida há dias. Sendo espremidaem um abraço que não queria eu pude rir da cena. Minha amiga sempre foi umpoço de preocupações, feito mãe que não dorme enquanto o filho não chega. Mesmosendo poucos meses mais velha que eu, fez por inúmeras vezes o papel detentar me agregar juízo, mas a vida já tinha me colocado anticorpos o bastantepara lidar com acontecimentos inesperados e malucos. Além de que eu devo terperdido completamente a noção de perigo, desde que conheci o Guilherme. 

— Não ficadormindo por aí sem dar notícias. Te faltam parafusos na cabeça, Mariana. Énormal eu pensar que te aconteceu algo ruim. — Continuava espremendo minhacabeça.

— Amiga,você está me sufocando — Tentei me soltar, quase sem ar.

— Mariana,eu fiquei preocupada — Me olhou irritada ao soltar-se de mim.

— Então... Agoraeu já posso explicar o que aconteceu. — Sorri sem graça.

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Guilherme


— Isso é ciúmes e você sabe — Soltei uma risada. 

— Eu só quero saber se rolou alguma coisa — Insistiu sem me olhar.

— Você sabe que não — Dei de ombros enquanto tentava parecer o mais natural possível.

— Nem nunca vai rolar? — Sofia agora me encarou preocupada. 

Respirei fundo, desliguei o carro que já ocupava minha vaga preferida daquele estacionamento e perdi o olhar pelo espaço movimentado. 

— Guilherme, não adianta adiar o assunto, você sabe que a gente vai voltar nele mais cedo ou mais tarde. — Afirmou confiante.

— Não rolou, nem vai rolar, porque eu não quero.

— Eu não consigo entender. Você se descobriu gay? — Conseguiu dizer essa frase sem soltar um sorriso que fosse.

— Quer que eu te mostre esse gay? — Respondi com malícia.

— Não facilita pra você — Se mexeu irritada.

— Vamos para nossa aula, vai. Para de querer cuidar tanto da minha vida, eu estou bem e não virei gay. 

Do caminho do carro até o prédio dos fundos, Sofia parecia realmente preocupada com a hipótese nula de eu ter me tornado homossexual, já que afirmei não ter beijado Mariana nunca durante tantos meses de amizade. Mal sabia ela que em sonhos, sim, várias vezes.

— Marquei um encontro com a Julia hoje — Sorri confiante. 

Talvez assim Sofia parasse de desconfiar da minha fragilidade masculina. 

— Melhor assim, não consigo imaginar meu melhor amigo gay. 

— Que preconceito, amiga... — Cruzei os braços e encarei-a sorridente. Ela gargalhou me dando um soco no antebraço.

— Para, vai — Sofia fez cara feia — Não é nada disso. É apenas o seu histórico que não condiz com gosto por homens.

— Então tira isso da cabeça, eu gosto muito de mulher. Só não estou afim daquela mulher. Sacou? 

— Pensei que os caras a achassem atraente — Revirou os olhos. 

— Se isso te acalma, ela é gostosa — Respondi pensativo. 

Mariana surgiu imediatamente na minha mente e sem pressa pude analisar seu corpo que sempre foi meu local de perdição. Ressalvo dizer que suas atitudes também tem me tirado do sério. Concordei com a cabeça sem que pudesse me desconcentrar por um segundo do raciocínio de Sofia, pois isso poderia prejudicar minhas próximas respostas, caso acontecesse.  

— Por que não vocês não se pegam? — Despertou-lhe a curiosidade.

— Porque agora eu preciso estudar e é isso que eu vou fazer — beijei seu rosto — A gente se vê no almoço, não se atrasa, baixinha. — Baguncei seus cabelos loiros com vontade e me afastei dela.

— Espera aí, a gente não terminou de conversar. 

— Não temos mais nada para conversar porque eu tenho um encontro com a Julia, esqueceu? — Disse enquanto não tirava os olhos dos seus e caminhava de costas. Sofia permaneceu parada no corredor. 


Meu nome é cafajesteOnde histórias criam vida. Descubra agora