Entre o Passado e o Presente ( história LGBT )

XXV - Tudo sobre mim

                             Marcelo/Matheus

       Olho para cada um, mas sei que preciso saber o que ainda estão me escondendo. Não aguento mais tantos mistérios me rodeando, será que não dá para só ser feliz com quem escolhi? Me viro de forma que fico de frente para Cláudia e Patrício.

       — Agora vocês dois podem me contar o que está acontecendo. — Digo apontando para Cláudia e Patrício que estão tão acabados quanto eu, mas ao contrário do que penso quem toma a palavra é minha sogra.

        — Anjo eu vou ser bem direta, todos aqui presentes sabem que odeio enrolação. —  Ela diz e me entrega uma Folha dobrada.

       Abro a folha e vejo nela meu rosto com a descrição DESAPARECIDO, sinto uma sensação ruim percorrer meu corpo, mas quando olho para Gustavo o seu sorriso me diz que talvez isso seje uma coisa boa, porém não sei o que tudo isso quer dizer.

       — Amor, o que este papel tem haver com essas pessoas e porque nunca me contou que sabia que tinham pessoas me procurando? — Pergunto e novamente toma a frente.

       Ela me conta como descobriu sem querer quem eu era e como Gustavo não conhecia esses seus amigos. Contou também o quanto eles me procuraram e como o pessoal omitiram minha permanência lá. Eu estava zonzo, era muita informação, mas as coisas estavam se juntando com as que Vânia tinha acabado de contar. Eu olho para aquelas duas pessoas na minha frente e a ficha cai, são meus pais ali e mesmo que eu nunca tenha aparecido, eles nunca desistiram de mim mesmo contra todas as afirmações que eu fugi eles não acreditaram e continuaram a me procurar, eles sofreram tanto todos esses anos. Meu coração de aperta por não ter esse mesmo sentimento de perda, esse direito me foi arrancado por causa do meu cérebro com defeito.

       Olho para cada um e posso ver o sofrimento e o medo estampados neles, sei que não posso dizer-lhes que os amo, mas ali vejo o amor que têm por mim. Ouço as palavras de minha sogra e não consigo desviar os olhos deles, sinto bem no fundo do meu coração que devo abraçá-los.

       — Gustavo me leva até eles? — Falo baixo e ele prontamente me leva, ele me ajuda a sentar em um puf que está próximo. Paro enfrente a eles e pego uma das mãos de cada segurando firme e as puxo em minha direção e não demora muito para que braços me rodeiem. Não tenho sentimento de amor, mas sou invadido por uma paz tão grande ali dentro daquele abraço que apesar de nunca mais me lembrar deles sei que posso reconstruir essa relação  de afeto com ambos.

       Me separo deles e mesmo que suas opiniões não se comparem as de Bárbara, eu preciso saber o que eles acham da minha relação com o Gustavo.

       — Eu fico muito feliz em saber que tenho pais que nunca desistiram de mim e que mesmo eu não me lembrando de quem são ainda sim estão aqui cheios de amor, mas eu preciso saber o que vocês pensam do meu relacionamento com o Gustavo, já que não me lembro se era ou não gay nessa minha outra vida. — Digo e vejo eles se olharem e depois voltar seu olhar para mim novamente.

       — Matheus. — A interrompo quando ouço ela me chamar por esse nome, pois apesar de saber que Marcelo não é meu nome eu me acostumei a ser chamado assim, mas agora ouvindo Cláudia me chamar de Matheus aqueceu algo em meu coração, como se meu subconsciente soubesse que esse é meu nome de batismo.

       — Esse é meu nome? — Pergunto já que esta é a primeira vez que se referem a mim por Matheus.

       — É sim meu amor, meu Matheus. — Ela diz e novamente há lágrimas em seus olhos.

       — Mas respondendo a sua pergunta. Você sempre negou ser gay, mas nós como pais vimos mos sinais desde de que você era pequeno, nunca soubemos porque você se negava tanto. Notamos em suas preferências e na forma como você as vezes olhava para seus amigos, mas você era tão veemente quando dizia não ser que acabamos por não insistir, mas nós viamos a sua infelicidade e a sua falta de interesse nas garotas. Eu e seu pai decidimos que eram suas escolhas e na hora certa você descobriria e aceitaria o seu eu verdadeiro.