VI - susto

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                                  Marcelo

       Quando doutor Gustavo saiu do quarto, eu não sabia o que fazer ou o que pensar. Eu não sei antes do "acidente" se eu era gay ou não, tudo o que sei agora é que eu senti algo por ele, não posso dizer que é paixão, pois nem o conheço, mas com toda certeza uma atração muito forte eu sei que estou sentindo. E agora estou com medo, medo que ele me ache um louco, um pervertido. Afinal o que um homem daquele iria quer com alguém como eu? Sem passado e provavelmente sem um futuro muito promissor. Que chances eu poderia ter? Que futuro poderíamos ter?

       Não posso me dar ao luxo de sentir nada agora, que direito eu tenho de me encantar por ele ?  Não tenho nada e não quero ter um coração quebrado. Tenho que me focar em sair daqui, arrumar um jeito de me reinventar, arrumar um emprego e continuar vivendo. Sei que em algum momento ele precisará seguir em frente também e é melhor agora que depois.

       Fechei meus olhos e devo ter cochilando, porque acordei com uma sensação muito estranha de estar sendo vigiado. Quando abri meus olhos, custei a focar minha visão por causa da escuridão do quarto, mas eu sabia que tinha alguém no quarto comigo, só não sabia quem.

       Uma voz grossa que me causou arrepios de imediato, falou em voz baixa e mesmo assim eu me assustei.

       — Não grite que será pior.— Ele avisou e o pânico chegou até mim.

       — Quando meu parceiro me avisou que você havia acordado, fiquei realmente muito preocupado com o que você diria a Polícia, mas aí ele me deu a boa notícia. Disse que você não se lembrava de nada, e nem nunca se lembraria. Então decidi vir ver por mim mesmo, já que não confio muito naquele incompetente.

       Enquanto ele dizia essas coisas, o pânico foi virando pavor. Eu não sabia que era e pra dizer a verdade não queria jamais me lembrar que algum dia conheci essa pessoa. Eu tinha certeza que se eu lembrasse de alguma coisa, estaria em perigo e pelo tom de ameaça que ele usou, não duvido que nesse momento eu esteja a salvo. E eu não quero morrer!

       Ele continuou a falar, mas parei de ouvir quando tive certeza que esse era o homem que me mandou para a morte, esse era o homem que friamente me estuprou e eu não tinha dúvidas disso.

       Estava com ódio daquela pessoa em pé ali no meu quarto, me ameaçando tão abertamente, mas o medo ou a auto preservação, me fizeram ficar calado. Eu me encolhi esperando que ele percebesse que eu não representava nenhum perigo para ele.

       Num ato de desespero, comecei a tatear a cama a procura do botão que chama a enfermeira, na esperança de ser salvo. O quarto estava um breu, então era seguro eu procurar, ele não veria , no momento nem que eu achei apertei o botão como se fosse minha única salvação, esperei, mas parece que ele sabia bem o que estava fazendo, porque alguns segundos depois ele simplesmente saiu do quarto, me deixando la totalmente apavorado.

       Quando a Vânia entrou no quarto e acendeu a luz eu dei graças a Deus e pude relaxar. Mas aí senti todo o poder do medo cair sobre mim e minhas vistas escureceram.

                                   Vânia

      
   Estava pronta para bater meu cartão, quando ouvi o bipe do quarto do Marcelo e sai em disparada para ver o que estava acontecendo, quando entrei no quarto e acendi as luzes, vi que ele estava pálido feito cera, e no momento em que ele olhou em minha direção o vi desabar na cama.

       Um desespero bateu em mim, não sabia o que pensar ou fazer, ele estava bem até pouco tempo atrás. Chamei o médico de plantão do andar e quando ele chegou começou a examinar o Marcelo, eu via a preocupação  em seu semblante é algo me dizia para chamar o doutor Gustavo, e foi o que eu fiz. Um sentimento ruim percorreu todo meu corpo, e quando desliguei voltei a prestar atenção no que o médico estava falando.

Entre o Passado e o Presente ( história LGBT ) Onde histórias criam vida. Descubra agora