XVI - Surpresa pt 2

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                                   Gustavo

       Estou entretido caminhando pelos corredores que levam ao quarto do Marcelo, quando sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça. Olho para o visor e o número indica ser aqui mesmo do hospital, atendo e ouço um colega pedir que eu o ajude com um paciente. No mesmo momento em que confirmo que já estou chegando ouço o alarme de emergência ser acionado, isso nos ajuda a saber quando há uma emergencia no bloco cirúrgico.

       Dou meia volta e corro em direção ao meu consultório para deixar as bolsas que estão em minha mão e pegar meus instrumentos médicos, como meu estetoscópio e jaleco. Não demoro no processo e como sei que provavelmente irei operar, vou me preparando mentalmente. Mas meu coração gela assim que entro na emergência e sou de cara com meu paciente.

       É um garoto de no máximo dez anos, aperto meus passos para chegar até a maca onde ele se encontra. Assim que chego todos que estão em cima dele me dão espaço para que eu possa examinar, e a situação não é nada boa.

       — Preparem o bloco! — Falo em tom elevado, para que todos ouçam minhas instruções e em poucos minutos já estou preparado e equipado para fazer a cirurgia. Rezo, como em todas as vezes que entro no bloco pedindo a proteção para que tudo dê certo.

       Agora são exatamente quinze horas, foram exatamente sete horas de cirurgia e ainda não posso afirmar que o garoto vá acordar, foram duas paradas cardíacas e duas quedas bruscas de pressão e isso me deixa muito apreensivo com o resultado final da cirurgia. Saio do bolco e vou em direção aos pais que esperam ansiosos por notícias, e assim que eles me veem é nítido a apreensão em seus rostos. Explico da melhor forma possível como foi o procedimento e como vamos proceder de agora em diante, logo depois aconselho eles irem para casa, já que o homenzinho ficará na UTI por pelo menos uma semana.

       Acabo de fazer tudo que preciso e vou direto ao refeitório, estou faminto e quando estou saindo vejo a enfermeira Vânia vir em minha direção, e pelo sorriso estampado em seu rosto sei que ela já sabe da novidade.

       — Já estou sabendo, que agora você é um homem comprometido. — Ela fala e eu não consigo esconder minha felicidade, o que me faz lembrar que acabei perdendo meu dia de folga e sem falar nada com ele que deve ter ficado me esperando.

       — E o que achou da novidade? — Pergunto em tom zombeteiro e vejo ela bater palmas de forma comemorativa.

       — Você não o viu hoje ainda?
— Ela pergunta, mas eu sei que ela sabe bem a resposta.

       — Hoje eu seria seu acompanhante, mas surgiu uma emergência com uma criança e não tive como ir vê-lo. — Falo e vejo seu sorriso se alargar ainda mais.

       — Só digo uma coisa. Se você o ama em roupa de hospital, vai cair de quatro por ele quando entrar naquele quarto hoje. — Olho para ele sem entender é assim continuo já que ela saiu e me deixou ainda mais curioso e falando sozinho. Essa mulher é louca, mas uma louca adorável.

                                       Bárbara

       A noite de ontem foi muito reveladora, mas também muito produtiva, já que sei como ter meu filho de volta e quem sabe um dia ele possa me perdoar por tudo que eu fiz. Mas deixando de lado esses pensamentos, hoje tenho muita coisa para fazer e ir ao hospital conhecer esse garoto será a primeira delas, preciso saber como vou agir e para isso preciso ter certeza que esse garoto ama meu filho de verdade e se tudo valerá apena. Não posso deixá-lo se expor ao mundo sem ter certeza absoluta que esse sentimento é algo verdadeiro para os dois.

Entre o Passado e o Presente ( história LGBT ) Onde histórias criam vida. Descubra agora