Gustavo
Estou entretido caminhando pelos corredores que levam ao quarto do Marcelo, quando sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça. Olho para o visor e o número indica ser aqui mesmo do hospital, atendo e ouço um colega pedir que eu o ajude com um paciente. No mesmo momento em que confirmo que já estou chegando ouço o alarme de emergência ser acionado, isso nos ajuda a saber quando há uma emergencia no bloco cirúrgico.
Dou meia volta e corro em direção ao meu consultório para deixar as bolsas que estão em minha mão e pegar meus instrumentos médicos, como meu estetoscópio e jaleco. Não demoro no processo e como sei que provavelmente irei operar, vou me preparando mentalmente. Mas meu coração gela assim que entro na emergência e sou de cara com meu paciente.
É um garoto de no máximo dez anos, aperto meus passos para chegar até a maca onde ele se encontra. Assim que chego todos que estão em cima dele me dão espaço para que eu possa examinar, e a situação não é nada boa.
— Preparem o bloco! — Falo em tom elevado, para que todos ouçam minhas instruções e em poucos minutos já estou preparado e equipado para fazer a cirurgia. Rezo, como em todas as vezes que entro no bloco pedindo a proteção para que tudo dê certo.
Agora são exatamente quinze horas, foram exatamente sete horas de cirurgia e ainda não posso afirmar que o garoto vá acordar, foram duas paradas cardíacas e duas quedas bruscas de pressão e isso me deixa muito apreensivo com o resultado final da cirurgia. Saio do bolco e vou em direção aos pais que esperam ansiosos por notícias, e assim que eles me veem é nítido a apreensão em seus rostos. Explico da melhor forma possível como foi o procedimento e como vamos proceder de agora em diante, logo depois aconselho eles irem para casa, já que o homenzinho ficará na UTI por pelo menos uma semana.
Acabo de fazer tudo que preciso e vou direto ao refeitório, estou faminto e quando estou saindo vejo a enfermeira Vânia vir em minha direção, e pelo sorriso estampado em seu rosto sei que ela já sabe da novidade.
— Já estou sabendo, que agora você é um homem comprometido. — Ela fala e eu não consigo esconder minha felicidade, o que me faz lembrar que acabei perdendo meu dia de folga e sem falar nada com ele que deve ter ficado me esperando.
— E o que achou da novidade? — Pergunto em tom zombeteiro e vejo ela bater palmas de forma comemorativa.
— Você não o viu hoje ainda?
— Ela pergunta, mas eu sei que ela sabe bem a resposta.— Hoje eu seria seu acompanhante, mas surgiu uma emergência com uma criança e não tive como ir vê-lo. — Falo e vejo seu sorriso se alargar ainda mais.
— Só digo uma coisa. Se você o ama em roupa de hospital, vai cair de quatro por ele quando entrar naquele quarto hoje. — Olho para ele sem entender é assim continuo já que ela saiu e me deixou ainda mais curioso e falando sozinho. Essa mulher é louca, mas uma louca adorável.
Bárbara
A noite de ontem foi muito reveladora, mas também muito produtiva, já que sei como ter meu filho de volta e quem sabe um dia ele possa me perdoar por tudo que eu fiz. Mas deixando de lado esses pensamentos, hoje tenho muita coisa para fazer e ir ao hospital conhecer esse garoto será a primeira delas, preciso saber como vou agir e para isso preciso ter certeza que esse garoto ama meu filho de verdade e se tudo valerá apena. Não posso deixá-lo se expor ao mundo sem ter certeza absoluta que esse sentimento é algo verdadeiro para os dois.
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Entre o Passado e o Presente ( história LGBT )
Storie d'amoreEsta história contém conteúdo LGBT. Se você não gosta não entre. Gustavo é um médico super empenhado na cura de seus pacientes, mas que por vários motivos não se envolve com ninguém há anos. Um dia ele se vê atraído por um jovem que deu entrad...