XXXIX - Agora podemos viver

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                                      Bárbara

       Ficar ali parada tendo que ouvir cada palavra que saia da boca do tal Carlos foi frustrante. Saber de cada detalhe sórdido do que o João e o Pedro fizeram para conseguir o que queriam me  revirou o estômago, ver as lágrimas nos olhos dos meus bebês foi desesperador, mas nada se compara ao fato de um policial, filho um sargento reformado ter feito o que fez por dinheiro, me senti enojada. Mas o que me deixou realmente surpresa nessa história toda foi o caráter do pai dele, que mesmo sendo seu filho o pegou e o entregou as autoridades, que apesar do sangue, ele agiu como um homem de honra. Saber das condições em que Carlos foi encontrado também não me surpreendeu, jogado numa vala como um porco qualquer, e não houve nenhum pingo de remorso nos olhos do João quando esse fato foi revelado.

        Nesse momento João está lá parado olhando para o advogado que lhe fez uma pergunta simples, mas que pode definir as coisas nesse momento.

       — Responda a pergunta senhor João. — O Juíz ordena e nota-se que ele já está sem paciência.

       — Doutor, por favor repita a pergunta para o réu. — Doutor Frederico fala novamente deixando João em alerta.

       — João, como já sabemos através de todas as provas já apresentadas aqui, você usou da sua força física para encuralar o Matheus e abusar dele, sabemos também que você usou do seu status para conseguir mantê-lo sob seus "cuidados" enquanto em coma. Em algum momento você pensou em tudo que estava fazendo, em como você machucou o Matheus, em como os pais dele estavam preocupados? Você como amigo da família não sentiu vontade de dizer à eles que sabia onde estava o garoto? — O advogado responsável pela acusação pergunta e olha diretamente para o júri que está totalmente quieto esperando a reação do João.

       — Eu me cansei dessa palhaçada! Eu nunca fui noivo, eu nunca amei o Pedro e eu não me arrependo de nada do que eu fiz para obter o que é meu. Porque Matheus é meu! E se ele não for meu não será de mais ninguém, isso é uma promessa. Pode demorar, mas eu vou voltar e ele vai ser meu por bem ou por mau. — João termina de falar quando duas mãos vão de encontro ao seu pescoço. Olho apavorada para meu marido que tenta segurar Gustavo antes que ele faça uma besteira e o caos toma conta do tribunal.

        Minha única reação é correr para o lado de Matheus que está paralisado por tudo que está acontecendo, mas eu sei que ele é a unica pessoa capaz de parar Gustavo agora.

       — Anjo! Por favor vá lá, ajude seu noivo porque senão ele vai ser preso é isso que você quer? — Pergunto olhando em seus olhos e ele apenas balança a cabeça negativamente, mas não se move.

       — MATHEUS! Vá lá agora! — Digo alterando minha voz e ele sai do seu transe e caminha até onde está Gustavo.

       Vejo o doutor Frederico bater várias vezes com seu martelo sobre a mesa pedindo ordem, mas ninguém o ouve. Vejo também vários policias entrando na sala ao mesmo tempo em que Matheus alcança Gustavo e consegue sem muito esforço que ele solte o João, que tem um sorriso sádico nos lábios. Os policiais pegam João o retiram do tribunal e se aproximam de meu filho também esperando pela ordem do juíz para que ele fosse levado.

       — Agora eu quero ordem! Vão todos para seus lugares ou hoje a cadeia vai ficar cheia! — Doutor Frederico fala alto e agora sim todos se calam.

       — Gustavo volta para o seu lugar, se acalme e apesar do desacato dentro do meu tribunal eu não vou mandar prendê-lo, mas que isso não se repita. — Ele fala e Gustavo caminha lentamente agarrado a Matheus.

       Assim que eles se sentam o juíz continuar a falar olhando em direção ao júri que parece estar assustado, mas prestam atenção ao que ele fala. Logo em seguida ele anuncia o recesso e sai do tribunal e, assim ficamos todos lá parados sem reação até que Hector fala.

Entre o Passado e o Presente ( história LGBT ) Onde histórias criam vida. Descubra agora