Gustavo
Desde que me entendo por gente sonhava em ser médico, salvar vidas. Quando fiz vestibular, já sabia exatamente o que queria e qual seria minha meta de vida e foi com esse objetivo que fiz minha faculdade e especialização, me dedicando a cada aula para absorver o máximo de aprendizado possível. Me especializei em neurologia, pois amo o cérebro humano, nele há tantas possibilidades que me perco neste mundo.
Fazia minha residência de especialização quando aquele garoto deu entrada aqui no hospital que hoje sou sócio. Quando ele chegou a minha sala de trauma, fiquei chocado com seu estado, não tinha nenhum pedaço do seu corpo que não estivesse ferido. Alguns ferimentos mais profundos outros superficiais, haviam hematomas e marcas de pauladas, mas o que mais me assustou foi quando outros especialistas descobriram que ele havia sido abusado, meu coração se partiu com aquilo.
Eu e meus colegas fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para salvá-lo. Devido ao seu estado resolvemos colocá-lo em coma induzido para melhor tratarmos suas feridas.
Passaram-se seis meses e seus machucados mais graves já estavam curados, assim decidimos que já era hora de o tirarmos do coma, mas os dias foram passando e nada dele acordar. Todos os dias após o plantão eu ia ficar com aquele desconhecido, falava com ele, contava como foi meu dia e lia as notícias dos jornais, era como se eu não conseguisse respirar direito se eu não fosse vê-lo.
Não gostava muito de como ele era tratado, um indigente, então escolhi um nome para ele, assim me sentia um pouco mais próximo daquele ser lindo. Seus cabelos negros e pele muito clara me faziam perder o foco as vezes ao longo dos meus dias. Marcelo, esse foi o nome dado por mim a ele.
E assim os anos foram passando e eu nunca o abandonei. Quando eu tive certeza que estava apaixonado por aquele rosto de anjo, não aceitei muito bem, achei que estava ficando louco, não por amar outro homem, mas por amar alguém que estava naquela situação. Alguém que poderia nunca mais acordar, porque afinal ele só vegetava naquela maldita cama de hospital.
Quando ele despertou três dias atrás, foi como se a vida não voltasse só para ele, mas também para mim, estou me sentindo tão vivo agora. Vivo como nunca antes em meus trinta anos de vida.
Mas aí veio o primeiro baque, ele era um livro em branco. Por um lado isso era bom, pois não precisaria reviver o pesadelo pelo qual passou e assim poderia começar de novo, mas como começar sem ninguém para ajudá-lo, sem família e nem para onde ir. Mas nisso eu posso ajudar se ele aceitar.
Saio dos meus devaneios quando ouço batidas bruscas na porta, não respondo e logo vem outra batida. — Entre. - Digo e vejo a porta ser aberta por aquele policial que cuida do caso do Marcelo. Ele pergunta sobre o que aconteceu e explico tudo sem muita vontade e quando termino vejo uma coisa que não gostei nem um pouco, ele sorri ao saber que meu pequeno nunca se lembrará de nada. Sinto um arrepio sombrio, mas deixo passar, ele se despede e vai embora.
Junto meus pertences e sigo pelo corredor onde está o quarto do Marcelo. Abro a porta e vejo que ele está dormindo, me aproximo da cama e dou-lhe um beijo casto na testa, me sento na poltrona que nos últimos cinco anos tem me acolhido e mais uma vez lhe conto como foi meu dia e o quanto estou feliz por ele ter acordado. Faço um esforço sobrenatural para falar baixo e não acordá-lo, também me culpo por ter fugido esses dias, me despeço mentalmente, deixo um eu te amo e vou embora.
Nunca dormi uma noite tão mal dormida como essa, fechava meus olhos e só via a imagem do Marcelo, fiquei imaginando como chegar perto dele hoje e me apresentar oficialmente, porque de hoje não passa, e em como posso ajudá-lo a seguir em frente. Me levanto e faço minha higiene, tomo um banho demorado para relaxar meus músculos, ponho minha roupa branca habitual e saio do quarto indo direto a cozinha, tomo apenas um café preto e saio de casa levando apenas minha maleta médica.
Dirijo pelas ruas que me levam ao hospital. Sei que hoje o dia será muito corrido já que tenho uma grande cirurgia de alto risco e os exames complementares do meu anjo, e não posso me esquecer da minha apresentação formal a ele. E de tudo isso o que mais está me deixando nervoso é em como vou me aproximar, porque afinal sou seu médico, mas também sou um homem apaixonado que não sabe qual será sua reação.
Chego ao hospital e vou direto ao quarto do paciente que vou operar agora pela manhã, dou uma examinada rápida nele e peço a enfermeira auxiliar para prepará-lo. Depois disso vou ao meu consultório ver alguns detalhes da cirurgia que será desgastante por ser uma retirada de tumor em uma área muito difícil e sensível do cérebro.
Agora são nove e quarenta e cinco da manhã, hora de entrar para o bloco cirúrgico, faço uma oração mental pedindo a Deus que guie minhas mãos para que tudo dê certo e para que não haja nenhuma intercorrência durante o procedimento.
896 palavras
Agora sabemos como o Gustavo se sente em relação ao Marcelo, como será que nosso anjinho vai reagir ao nosso doutor gatão ?
Até amanhã!
Beijos StramberyBlack💕💕
Revisado*
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Entre o Passado e o Presente ( história LGBT )
RomanceEsta história contém conteúdo LGBT. Se você não gosta não entre. Gustavo é um médico super empenhado na cura de seus pacientes, mas que por vários motivos não se envolve com ninguém há anos. Um dia ele se vê atraído por um jovem que deu entrad...