XXIX- Complicações

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                                      Vânia

       Estar no hospital nesse último mês foi agonizante, ter que fingir que ainda sigo as ordens do Pedro está se tornando cansativo, saber que eles ainda estão com minha Bellinha é torturante. Sinto náuseas só de pensar que não existe nenhum resquício de amor no coração do Pedro pela filha. Fui tão estupida ao achar que era amada por ele, mas agora que sei sua índole e suas reais intenções não vou me deixar ser enganada nunca mais e olhar para seu sorriso falso enquanto caminha em minha direção faz com que eu tenha vontade de matá-lo, mas infelizmente ainda não posso, pois preciso recuperar minha filha.

       — Olá vadia! — Pedro diz ao se aproximar de mim e isso me enoja. Não sei como ele fez para voltar a trabalhar aqui, mas garanto que não foram meios muito dignos.

       — Vadia, eu? — Pergunto com fúria na voz, mas não o deixo responder. — Não sou eu quem transo com um cara que nitidamente só está com você para usá-lo, não sou eu quem vendeu sua própria filha ao diabo e não sou eu quem vive de migalhas. — Digo já chorando e sinto sua mão pesada em minha face.

       — Cala boca! Ou será que você quer receber sua filha num caixão? — Ele pergunta e meu ser todo estremece com essa possibilidade, já que eu sei do que ele é capaz, mas não posso me calar, não mais.

       — Você é mesmo um canalha Pedro. Como você pode colocar alguém que nem se importa com você à frente da segurança da sua filha? A Bella é uma criança, não merece viver como tem vivido.  — Digo e não vejo nenhuma reação dele, vejo ali que minha filha não representa nada para ele e só me resta implorar.

       — Por favor Pedro, me devolva minha filha... Eu juro que sumo e nunca mais você vai ouvir falar de mim ou da Bella. — Falo e seu olhar muda de nada para puro ódio, confesso que nesse momento sinto medo do que ele possa estar tramando.

        — Você está achando que vale muito garota? Você é só mais um peão nessa história toda e se você não ficar bem quietinha e ser mais obediente ele, nós não pensaremos duas vezes em matar sua filha. — Ele termina de falar e sai andando sem me dar o direito de questionar suas ações novamente.

       Fico ali parada observando ele se afastar e realmente não sei o que ainda faço nesse hospital, o que eu estou fazendo da minha vida, porque para dizer a verdade quem me garante que quando tudo isso terminar ele vai me entregar meu bebê. Ninguém tem essa garantia e mesmo que Marcus e Hector tenham me garantido isso eu não sei se sou mais capaz de ter essa esperança em meu coração.

       Caminho a passos muito lentos até a enfermaria e sei que está noite será muito longa, mas quando chego lá sou surpreendida pela presença de Marcus e meu dia melhora um pouco mais. Ele caminha até mim e quando sinto seus braços me acolherem eu não suporto mais e choro tudo que tenho guardado nesse último mês.

                                       Gustavo

       Acordei sentindo o corpo do Matheus colado ao meu e nosso momento da noite passada me vem como enxurrada, abro um enorme sorriso por saber que agora somos de fato um casal e que só mais uns dias estaremos casados.

       Olho para seu rosto de anjo e agradeço a Deus por estar nos dando a oportunidade de viver esse sentimento, é tão grafiticante saber que ele não corre mais nenhum risco com relação ao que sofreu no passado, seu corpo está curado, sua mente apesar de tudo não foi tão cruelmente prejudicada, como já vi em alguns casos, e agradeço também por de alguma forma estarmos conseguindo juntar os pedacinhos dele e meu também, agora somos uma família e isso não vai mudar jamais. Jamais mesmo, independente do que aconteça sempre seremos um para o outro, como metades de uma laranja.

Entre o Passado e o Presente ( história LGBT ) Onde histórias criam vida. Descubra agora