S E I S

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As noites que gastei estudando para a época do vestibular, quando ainda morava em uma cidade de interior onde provavelmente nenhum dos meus amigos já pisou, nunca saíram da minha mente. Inseguranças eram comuns, mas o menor dos meus problemas. Terrence nunca foi um homem divertido, não fazia piadas e não sorria para mim, mas sua tarefa favorita era infernizar a minha existência. Ainda me lembro das vezes em que acordei tarde da madrugada, achando que era um sonho e que ele ainda estava vivo, que eu realmente não havia conseguido sair daquela situação, que ele ainda me destruía.

— Prometa para mim que vai chamar caso precise. — Lena segura minhas mãos.

Em suas unhas bem cuidadas consigo ver o tão famigerado esmalte vermelho da Mac, tão vermelho quanto as bochechas que carregam um blush da mesma marca. A condição financeira de Lena sempre foi melhor do que a minha, mas me recuso a deixá-la me bancar.

— Vai ficar tudo bem, marque o encontro para daqui uma semana, ok? Eu não quero ter que mancar. — abaixo os olhos para meus dedos inchados.

— Ele morreu no banheiro? — ela pergunta ainda olhando para o corredor.

— O chuveiro está ligado, mas eu vou colocá-lo para fora. — sibilo. — Se ele gastar minha água quente, o faço me levar até a casa dele para tomar um banho.

— Não que seja uma má ideia... — ela sorri sinuosa.

— Vá embora, safada. — rio.

— Te amo. — ela me abraça forte.

— Também amo você. — sorrio.

Os mocassins caros tomam seus pés e o cachecol cinza envolve seu pescoço. O barulho da maçaneta soa em meu ouvido, mas o som vem do corredor, e não da porta de Lena. A boca de Lena se abre em um perfeito "o", mas não há um pingo de atrevimento da minha parte de me virar o suficiente para ver o motivo da surpresa.

— Tchau. — ela sorri e sai rapidamente.

Cerro as pálpebras e conto até vinte, o ar entra e sai dos meus pulmões com passagem livre, como num rio corrente e cheio. Sinto a brisa quente do chuveiro abraçar meus pelos eriçados e penso no próximo passo cautelosamente. Virar ou não virar?

— Espero que você esteja devidamente coberto, porque a Lena não se surpreende atoa. — viro-me lentamente.

Meus pés completam a volta de cento e oitenta graus e me permito olhar para o corredor do apartamento, o abdome descoberto de Alex não me surpreende, mas as coxas nuas e molhadas me deixam desconfortável. Um tecido fino e que deveria ser muito vagabundo para ser chamado de cueca cobre as partes íntimas de Pearson, seus cabelos castanhos grudam por toda sua testa. As gotículas de água rolam sobre sua pele, lentas e sinuosas, e pela primeira vez, sinto como se o tempo andasse mais devagar.

— Eu esqueci de pegar uma toalha e não queria vestir o restante da roupa todo molhado, desculpe. — os músculos se tornam evidentes quando levanta o braço e coça a nuca.

— T-tudo bem. — abaixo os olhos para meus pés.

Da maneira mais ridícula e desajeitada tento apressar os passos até meu quarto para arrumar qualquer pano possível que cubra Alex Pearson antes que eu tenha uma síncope, o carpete se torna um obstáculo gigante para um pé dolorido e outro cansado. Sinto o calor tocar minha pele e analiso suas mãos em minha cintura, seu cheiro é de frutas silvestres e baunilha, seguro o sorriso por ele estar cheirando exatamente como eu, uma garota com muito menos grana que ele. É quase como um alívio ver que ele não se importou de usar minhas coisas.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora