O I T O

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Obrigada. — solto o cinto de segurança do Lamborghini.

— Não há de que... — Alex olha para mim, depois para minha jaqueta. — Está com tanto frio assim? — sorri.

Seu sorriso é belo, covinhas se desenham em ambos os lados da boca, as sardas levemente salpicadas se levantam junto dos olhos. Sorrio de volta.

— O clima está frio, você que é feito de gelo. — sibilo.

— Você que é fresca. — ele rebate.

Rio levemente e o silêncio se faz presente no carro, é estranho estar aqui e não me sentir desconfortável como todas as vezes que me senti antes. Não é como se fosse o sofá da minha casa, mas já não parece um crime conviver de maneira saudável com Alex.

— Vá se trocar, eu espero. — ele oferece.

Meu primeiro impulso é recusar, mas me lembro de que já pedi tempo demais, e o metrô é infernalmente lotado em horários de pico.

Desculpe orgulho, hoje a necessidade vencerá.

— Pode subir se quiser. — tento ser gentil.

— Está tudo bem, tenho que fazer algumas ligações. — responde.

Aceno e saio do carro rapidamente, a brisa fresca balança meus cabelos, que chicoteiam minhas bochechas com força. O céu antes nublado agora ostenta um cinza escuro, nuvens escuras e pesadas se aproximam de onde estamos e agradeço a todos os deuses que podem ter intercedido para que eu fosse levada por Alex para o trabalho hoje. Subo pelo elevador, que logo se abre para a porta do meu apartamento. Retiro minha jaqueta, deixando-a em minha mão. Sinto meus mamilos se retesarem pelo frio intenso, mas não me importo, pois estou sozinha aqui. Enfio as mãos nos bolsos dos meus jeans e as chaves não tilintam, procuro-as nos bolsos da jaqueta e sinto meu coração gelar.

— Impossível que eu tenha perdido elas. — bufo.

Calço o braço da jaqueta, pronta para voltar para o carro e procurar no console ou no chão, mas o elevador se abre e Alex aparece com o celular em seu ouvido. Ele levanta o olhar para mim, mas seus olhos param em meus seios. Consigo ver suas íris se escurecerem, a expressão embasbacada muda e vejo a tensão que ele transmite, posso facilmente tocá-la se me esforçar. Ele parece perdido por alguns segundos, seus olhos sobem para minha boca e ele se aproxima vagarosamente, meu corpo reage a sua aproximação, fazendo com que meus seios se tornem pesados dentro do top. Engulo seco e o telefone de Alex se abaixa junto de sua mão, vejo sua garganta engolir tão dificilmente quanto a minha fez e por um momento, penso que vamos sucumbir ao que quer que esteja acontecendo ali.

— Esqueceu as chaves... — sua voz é rouca. — Vim trazê-las. — ele levanta a mão com o molho, mas seus olhos se alternam entre os meus e minha boca.

— Obrigada. — toco sua mão para pegar as chaves.

O choque. O maldito choque literário inexplicável sorrateia entre meus dedos, como maldita eletricidade entre nossos corpos, como se respondesse ao calor do fogo crescente dentro de cada um de nós. Isso não pode ser normal, nunca seria algo explicável um homem como esse estar interessado em mim. Sei como as coisas funcionam, sei como as pessoas podem fingir e brincar com nossos sentimentos.

Albert volta a minha mente. Seus beijos, suas mãos e promessas vazias, a ilusão de uma vida calma e um amor digno que envolveram minha mente em uma névoa perigosa de hormônios que respondiam a ele cegamente. Eu dizia "sim" para tudo quando se tratava dele, mas não foi o suficiente, e eu saí destruída.

— Não vou demorar. — pigarreio.

Me viro e enfio a chave na porta, que não apresenta dificuldade alguma em ser aberta, mesmo que eu sempre tenha que empurrá-la com força em dias frios, já que a madeira se expande com o clima úmido. Parece que alguma vez, alguém lá em cima quis me proteger.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora