O N Z E

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At Last

My Love, has come along

My lonely days are over

And life is like a song

Oh, yeah, at last

The skies above are blue

O instrumental preenche a minha sala. A sinfonia da música de Etta James ressoa em meus ouvidos como um calmante, que junta de uma garrafa de vinho que custou doze dólares na mercearia da esquina, me impediram de surtar completamente.

— Você sabe que vai ter que sair desse estado e lidar com isso, não sabe? — Ash chuta a porta com salgadinhos nas mãos.

— Não te chamei para me dar sermão, a Lena já faz isso muito bem. — ralho, ainda engolindo o restante do vinho.

Chuto o ar enquanto escuto a voz suave se impregnar em meu corpo. Desde muito nova eu aprendi a gostar de Etta, talvez fosse algo que minha mãe gostasse, já que de Terrence eu não herdei praticamente nada além do nariz.

Graças a Deus por isso.

— Me chamou para que, então? — o loiro ri enquanto joga as porcarias em cima da mesa envernizada.

— Você daria uma surra em alguém por alguma quantia? — massageio a boca da garrafa com o dedo indicador, pensativa.

— Depende da quantia e da pessoa. Mas se a pessoa tiver o sobrenome Pearson, nem o mais alto valor pode pagar o que eu perderia socando aquele babaca. — joga o corpo desajeitadamente no sofá. — Meu Deus, você ouve músicas de velho? — faz careta para o som.

— Não fale assim da Deusa. — repreendo-o. — É sacrilégio. — acaricio a televisão, de onde sai o som.

Ash ri e me encara, silencioso. O álcool evaporou com minhas barreiras de vergonha social, então não me importo de rodopiar pela sala com a garrafa nas mão, a usando de microfone nas partes cantadas da música. Todos sempre dizem que ela é capaz de nos tirar da órbita por algum tempo, e eu concordo. A música é a única que me ajuda a colocar os sentimentos que tanto reprimo para fora. É como uma válvula de escape. Escutar algo triste e chorar é tão bom quanto terapia para mim.

— Você já bebeu quantas taças? — Ash apoia os cotovelos nos joelhos.

— Taças? — arqueio a sobrancelha. Será que ele me pararia se eu dissesse que já é a terceira garrafa?

— Porque me chamou aqui, Alicia? — coça o queixo. — Não que eu me incomode, mas não somos melhores amigos. Fizemos as pazes ontem! — ele sorri.

— Você é alguém que não me importo se me julgar. — continuo rodando pela sala, numa espécie de valsa solitária. — Venha dançar comigo. — dou-lhe a mão em convite.

— Eu não danço. — ele ri.

— Hoje dança. — argumento.

Deposito a garrafa pela metade na mesa de centro e puxo a mão de Ash em minha direção. Ele agarra minha cintura para se segurar, ficando perto de mim o suficiente para que eu consiga encara seus belos olhos. As covinhas sobem quando ele sorri, me encarando. Ash é lindo, não posso negar.

— Você é muito bonito. — solto.

Sua cabeça se joga para trás em uma gargalhada gostosa de se ouvir. Me pergunto qual foi a última vez que fiz alguém rir dessa maneira. Qual foi a última vez que eu ri dessa maneira. Semanas de estresse em uma situação pela qual eu nunca pedi, por alguém que eu nunca planejei me interessar. Alguém que achou divertido brincar comigo. Como todo homem que passa pela porra da minha vida.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora