— Aqui está. — Empurro a quantia de dinheiro na mão de Magda, que me olha desconfiada.
— Não tenho visto você sair, me disse que tinha perdido tudo. Como tem dinheiro se não trabalha? — sua cara denuncia o que está insinuando.
Suspiro.
Um mês se passou desde o dia que deixei a casa de Oliver County. Faço uma refeição por dia e quando saio, é para procurar emprego. Porém, com o tempo notei que britânicos detestam norte-americanos. Se estamos de visita, sorriem e são prestativos, mas a partir do momento que você anuncia estar procurando um emprego, é enxotado de onde quer que esteja.
Três livrarias independentes que me recusaram assim que viram meu nome no currículo, e sei que isso tem dedo de Alex, que não me deixou em paz.
Ligações para me xingar, sujando meu nome no mercado de trabalho da minha área, destruindo a reputação que nem mesmo tive oportunidade de construir.
Estou revivendo o mesmo pesadelo que vivi em Portland.
Notei que é assim que Alex mantém suas mulheres no cabresto, e agora entendo porque Ophelia falou sobre a última mulher morrer. Morreu de fome, suicídio ou Alex mesmo a matou.
Eu não duvido de mais nada.
Procurei emprego como segurança, já que meu treino não veio atoa. Eu sei exatamente como me defender, e principalmente, sei matar alguém com facilidade. Sou letal, mas a minha capa gorda impede que qualquer emprego truculento me seja dado.
Saio mais uma vez em busca de algo que me deixe ter grana o suficiente para voltar. Lena e Trevor vão se casar, os gastos de um casamento são exorbitantes e eu não teria coragem de pedir que pagassem minha passagem para voltar, ou que me abrigassem em sua casa em plena lua de mel.
Sinto o cerco se fechar ao meu redor, e não sei o que fazer.
Petra e Ash estão rodando o mundo, incomunicáveis por quererem estar sozinhos. Me sinto perdida e sozinha.
Ando pela avenida mais movimentada de Londres, a qual conheço bem até demais. Perdi as contas de quantas vezes fiz esse caminho, procurando por uma vaga decente. Mas agora as coisas mudaram de cenário, e não me importo mais com a dignidade do emprego, só preciso de dinheiro, nem que tenha que trabalhar em dois ou três turnos.
O cheiro de comida faz meu estômago apertar. Comer mal tem sido minha sina, e a fome dói. Me divido entre dormir para não sentir a dor na barriga e aproveitar o café da manhã para sair e procurar um emprego decente. Meu último dinheiro foi embora hoje, nas mãos de Magda.
Encaro a vitrine do restaurante de onde o cheiro vem e me surpreendo com a placa colada.
Estamos contratando.
Como se um sinal divino estivesse sendo apontado para dentro daquele restaurante, eu sorrio. Sem mais esperar, me enfio dentro do ambiente climatizado. O calor repentino abraça meu corpo, que está consideravelmente gelado.
O lugar é aconchegante e é maior do que parecia ser por fora. Há uma escada que dá para um andar subterrâneo, o piso é amadeirado e há lustres maiores do que meu corpo iluminando o teto rústico. Todo o lugar me lembra uma espécie de taverna chique. Suspiro, pensando em como deve ser morar em um lugar assim.
— Olá, posso ajudar? — uma mulher sorri em minha direção. — Temos uma mesa disponível para uma pessoa.
— Oh não, eu estou aqui pela placa de contrata-se. — Sorrio. — Estou interessada na vaga.
A mulher me olha de cima abaixo e semicerra os olhos, o mesmo olhar desconfiado de todos os outros lugares em que me candidatei.
— Tudo bem, venha comigo. Como é o seu nome?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)
RomantizmUma garota comum, com um emprego estável, uma formação excelente e uma vida pacata. O que mais poderia se querer? Blood sempre quis ser redatora, sempre quis ajudar à criar ou conhecer livros novos, sua paixão pela literatura sempre esteve ao seu la...