V I N T E E D O I S

1.1K 152 11
                                    

— Aqui está. — Empurro a quantia de dinheiro na mão de Magda, que me olha desconfiada.

— Não tenho visto você sair, me disse que tinha perdido tudo. Como tem dinheiro se não trabalha? — sua cara denuncia o que está insinuando.

Suspiro.

Um mês se passou desde o dia que deixei a casa de Oliver County. Faço uma refeição por dia e quando saio, é para procurar emprego. Porém, com o tempo notei que britânicos detestam norte-americanos. Se estamos de visita, sorriem e são prestativos, mas a partir do momento que você anuncia estar procurando um emprego, é enxotado de onde quer que esteja.

Três livrarias independentes que me recusaram assim que viram meu nome no currículo, e sei que isso tem dedo de Alex, que não me deixou em paz.

Ligações para me xingar, sujando meu nome no mercado de trabalho da minha área, destruindo a reputação que nem mesmo tive oportunidade de construir.

Estou revivendo o mesmo pesadelo que vivi em Portland.

Notei que é assim que Alex mantém suas mulheres no cabresto, e agora entendo porque Ophelia falou sobre a última mulher morrer. Morreu de fome, suicídio ou Alex mesmo a matou.

Eu não duvido de mais nada.

Procurei emprego como segurança, já que meu treino não veio atoa. Eu sei exatamente como me defender, e principalmente, sei matar alguém com facilidade. Sou letal, mas a minha capa gorda impede que qualquer emprego truculento me seja dado.

Saio mais uma vez em busca de algo que me deixe ter grana o suficiente para voltar. Lena e Trevor vão se casar, os gastos de um casamento são exorbitantes e eu não teria coragem de pedir que pagassem minha passagem para voltar, ou que me abrigassem em sua casa em plena lua de mel.

Sinto o cerco se fechar ao meu redor, e não sei o que fazer.

Petra e Ash estão rodando o mundo, incomunicáveis por quererem estar sozinhos. Me sinto perdida e sozinha.

Ando pela avenida mais movimentada de Londres, a qual conheço bem até demais. Perdi as contas de quantas vezes fiz esse caminho, procurando por uma vaga decente. Mas agora as coisas mudaram de cenário, e não me importo mais com a dignidade do emprego, só preciso de dinheiro, nem que tenha que trabalhar em dois ou três turnos.

O cheiro de comida faz meu estômago apertar. Comer mal tem sido minha sina, e a fome dói. Me divido entre dormir para não sentir a dor na barriga e aproveitar o café da manhã para sair e procurar um emprego decente. Meu último dinheiro foi embora hoje, nas mãos de Magda.

Encaro a vitrine do restaurante de onde o cheiro vem e me surpreendo com a placa colada.

Estamos contratando.

Como se um sinal divino estivesse sendo apontado para dentro daquele restaurante, eu sorrio. Sem mais esperar, me enfio dentro do ambiente climatizado. O calor repentino abraça meu corpo, que está consideravelmente gelado.

O lugar é aconchegante e é maior do que parecia ser por fora. Há uma escada que dá para um andar subterrâneo, o piso é amadeirado e há lustres maiores do que meu corpo iluminando o teto rústico. Todo o lugar me lembra uma espécie de taverna chique. Suspiro, pensando em como deve ser morar em um lugar assim.

— Olá, posso ajudar? — uma mulher sorri em minha direção. — Temos uma mesa disponível para uma pessoa.

— Oh não, eu estou aqui pela placa de contrata-se. — Sorrio. — Estou interessada na vaga.

A mulher me olha de cima abaixo e semicerra os olhos, o mesmo olhar desconfiado de todos os outros lugares em que me candidatei.

— Tudo bem, venha comigo. Como é o seu nome?

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora