Q U I N Z E

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Dizem que levamos vinte e um dias para criar um hábito.

— Corre! Vai logo! Você consegue! — Petra grita comigo na quadra.

Meus pulmões queimam, Lizzo canta no fundo e isso aumenta meu gás. Os obstáculos são vencidos um a um e eu sorrio a cada que consigo passar. Fazem duas semanas que estou treinando, e nunca me senti tão bem. Sei que muitas pessoas pensam que para sermos ativos precisamos morrer sem comer, ficarmos magras e termos barrigas negativas.

Hoje eu vejo que isso é a maior besteira.

Eu treino de cinco da manhã até as nove e já estamos recebendo a segunda parte do treinamento. Sei nomes de partes do corpo que simplesmente não sabia que existiam. Todos os dias Petra desafia os limites do meu corpo, o que odeio no início, mas quando consigo passar por isso, só sinto orgulho de mim mesma.

Caio no chão pela velocidade, minhas pernas tremem e eu respiro ofegante. Ash entra no galpão gritando com Petra, dizendo que ela está tentando me matar. Fazem uns dias que pedi para treinar em horas diferentes de Ash, eu estava ficando constrangida.

— Cale a boca garoto, ela está bem. — Petra para ao lado do meu rosto, vejo os detalhes de seu coturno de perto enquanto observo os dois conversando em pé, como se eu não estivesse ali.

— Ela mal consegue levantar, você precisa respeitar o limite dela. — ele diz.

— Enquanto eu for paga, vou fazer meu serviço. Se você está incomodado, reclame com meu chefe, moleque. — Petra me dá a mão e eu levanto com sua ajuda, recebendo uma garrafa de água dela.

Tomo metade da garrafa em um gole, enquanto saio calmamente do galpão, deixando Petra e Ash discutindo aos berros. Passo pelo jardim de Albert e entro na mansão.

— Você está fedendo. Vai tomar banho, sua aula começa daqui a uma hora. — Albert diz.

Minha relação com Albert tem ficado cada vez melhor, e ele tem parado de tentar se aproximar de forma forçada, o que me permite respirar e conseguir focar no meu objetivo.

— Ah sim, até porque você fica com cheiro de rosas quando treina. — subo as escadas e ele ri.

Entro em meu quarto e pego meu celular, que recebeu uma mensagem de Lena.

Como estão as coisas por ai? Você e Ash fazem falta aqui, principalmente porque sem você, minha casa volta a ser um pardieiro! Juro que não é por interesse, mas você fazia mágica. Você já desenrolou alguma coisa com Ash, safada? Eu ainda espero a ligação de vocês dizendo que finalmente transaram! Até porque, fazem vinte e quatro anos que você não tira o atraso né. Enfim, só passei pra dizer que estou morrendo de saudades e esperando que você volte logo dessa misteriosa viagem de negócios com Ash. (Eu ainda não caí nessa, piranha.)

Com amor,

Lena e Trev.

Sorrio lendo a mensagem e a respondo rapidamente.

Eu morro de saudades de Lena, ela era noventa porcento da minha vida e, esconder algo assim foi uma escolha difícil que tivemos que fazer. Albert disse que depois que tudo estourasse, seria difícil voltar à vida normal que tínhamos, colocaríamos a vida deles em perigo. Foi acordado entre nós que ficaríamos um ano longe deles, após a missão ser cumprida. Sempre os observando de longe e, quando quiséssemos voltar a ter contato, teríamos que fazer escondido inicialmente. Já basta colocar a minha vida em risco, não vou brincar com a das pessoas que amo.

Pego uma toalha e vou tomar uma ducha rápida. Lavo os cabelos e o corpo em minutos e coloco um vestido simples. Desço as escadas e corro para o galpão novamente, onde provavelmente o Professor Pollock deve estar me xingando por estar atrasada.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora