C I N C O

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Sinto o carro diminuir sua velocidade à medida que nos aproximamos do meu prédio, o interior quente do carro me trouxe uma sonolência inexplicável. Descanso a cabeça no vidro enquanto observo as gotas escorregarem tímidas do outro lado da janela, não há ninguém na rua além das poças d'água espalhadas pelo asfalto e os raios que cortam o céu negro.

— Vou entrar na garagem e te ajudar a subir, tudo bem para você? — Alex olha para mim.

Consigo enxergar o cansaço em seu corpo, os ombros caídos e as bolsas leves embaixo dos olhos, a expressão de quem não dorme a dias e precisa repor o cansaço. Meu coração se aperta ao imaginar Alex indo para casa com tanto sono em uma chuva anormal como a que está caindo. Assinto e ele entra na garagem do prédio, estacionando onde estava quando saímos. Ele sai do carro enquanto abro a porta e puxa minha mão para me ajudar a levantar. Suas mãos circulam meu tronco novamente, fazendo minha pele formigar.

Eu não deveria estar me sentindo assim por alguém só porque fui tratada como um ser humano.

Entramos no elevador e Alex aperta o número do meu andar, ele não me solta em momento algum, o que me deixa desconfortável por simplesmente não termos nenhuma intimidade e estarmos abraçados em um elevador a sejam lá que horas sejam agora.

Não seja ridícula, você está machucada e vai acabar caindo de cara no chão se ele te soltar.

As portas se abrem e continuamos a caminho do meu apartamento, eu o entrego as chaves e ele abre a porta, me ajudando a ficar sentada no sofá. Ele deposita as chaves no prato ao lado da porta e apenas agora reparo em sua maneira de se vestir fora do escritório. Jaqueta preta, jeans cargo e tênis. Simples e esportivo.

Ele tem uma noção de estilo.

— Vai ficar me encarando? — ele me acorda do transe.

— Desculpa. — ruborizo. — Só é realmente estranho te ver no meu apartamento sem usar um terno e mandar eu fazer trezentas coisas ao mesmo tempo. — me ajeito no sofá, afofando algumas almofadas embaixo do meu pé.

— Não mando você fazer tantas coisas assim, fora que é seu trabalho. — ele cruza os braços e fecha a cara.

Suspiro ao notar que não é um bom momento para tentar descontrair com Pearson.

— Tudo bem. — retiro o sapato do pé bom. — Tranque a porta e pegue uma coberta na terceira gaveta da minha cômoda.

Ele me olha sem entender.

— Vai dormir aqui no sofá? — ele se aproxima. — Posso te ajudar a ir até o quarto. — para na frente do sofá.

— Não é para mim, você vai dormir aqui. — repouso as mãos no colo.

— Não mesmo, tenho uma cama muito grande e confortável esperando por mim. — ele sorri. — Sem ofensa ao seu... sofá. — ele levanta uma sobrancelha enquanto examina meu móvel.

Coloco ambos os braços por cima do velho lugar onde minha falecida gata deu à luz a três crias lindas e peludas.

— Não ofendeu. — fecho a expressão. — Pode protestar, mas não quero acordar com a notícia de que você se espatifou em algum canto da cidade porque dormiu no volante ou porque seu carro derrapou na estrada. — sibilo.

— Tem certeza de que é tudo? — ele sorri e levanta a grossa sobrancelha.

Céus, que homem convencido.

— Se eu estivesse interessada em você, pode ter certeza de que saberia. — me levanto trôpega e ele me dá a mão para que eu mantenha o equilíbrio. — Obrigada.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora