D E Z

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         Sempre me perguntei qual a necessidade que as pessoas sentem de exigirem que você as desculpe.

— Eu não quis envergonhar você. — Ash esfrega os cabelos loiros. — Acho que bebi demais.

— Não venha colocar a culpa na bebida, Sink. — ralho.

Todos fazem merda em algum momento da vida, isso é um fato. Mas o que faz essas pessoas acreditarem que precisam ser desculpadas? Uma consciência limpa vale mesmo isso? A humilhação de ficar reconhecendo o próprio erro de novo e de novo em busca de um perdão. Eu compreendo que é bom ser perdoado, mas implorar demais nunca foi a minha praia.

— Você nunca falou merdas enquanto estava bêbada? — ele se exalta. — Que droga, Alicia. Estou tentando levantar a bandeira branca em prol do meu irmão e da Lena.

Que desculpa mais esfarrapada! As coisas permaneceriam ótimas sem a maldita intromissão de Ash. Obviamente eu não o trataria com beijos e afagos, mas não tornaria o clima desagradável. Não como ele fez ontem à noite.

— Eu tive um dia cheio, Ash. — esfrego o rosto. — Vamos fazer assim... Você e eu apagamos toda a merda de antes e vamos começar do zero, mas se você aprontar outra vez, eu te corto. — suspiro.

— Obrigado por isso.

— Agradeça ao meu cansaço e total falta de vontade de dialogar. — me levanto da poltrona.

— Mal dia?

— Preferia que toda a noite de ontem e hoje pudessem ser apagados. — suspiro.

— Foi tão ruim assim? — recosta a coluna no sofá.

Encaro os olhos dele, que pela primeira vez desde que o conheci parecem não estarem armados para uma briga ou para desabotoar algum jeans por aí. Eu não contei nada do que houve a Lena, e se começasse a falar, ela me mataria por ter escondido. Não falar disso agora está me sufocando. É como se eu estivesse me afogando nos meus próprios segredos, e a sensação é infernal.

— Eu tive problemas com Alex, digamos que não vamos conversar nada além do profissional tão cedo.

Levanto do sofá e minha perna reclama. Ficou dormente por eu estar sentada em cima dela por muito tempo.

— Quer uma cerveja? — ofereço.

— Claro.

Ando até a cozinha e puxo duas garrafas da geladeira. Eu genuinamente odeio o sabor das cervejas, mas hoje eu preciso de qualquer coisa que me tire da órbita, mesmo que seja minimamente. E como meu vinho acabou, vou tentar com essa coisa sem gosto.

Quem não tem cão, caça com gato.

— Então... Problemas no paraíso. — ele dá um gole.

— Não tem mais paraíso. — dou de ombros. — Acho que não houve um paraíso em hora alguma. — encaro a boca da garrafa.

— Até agora eu não entendi o que você e Alex tem, é namoro, ficada ou relacionamento?

— É nada. — rebato. — Vazio. Zero. Nulo. — dou um gole na bebida e faço careta.

— Então você inventou tudo? — sorri.

Envieso o olhar tedioso a ele, que ri da minha careta.

— Eu não afirmei nada, você deduziu tudo sozinho naquele bar. — dou de ombros.

— Você se ofendeu quando eu falei de tipos. — rebate.

— Porque você automaticamente me diminuiu falando aquele tipo de coisa, eu não sou uma maldita modelo, mas não deixo de ser bonita por isso.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora