V I N T E E S E I S

1K 140 19
                                    

Arrasto meu corpo para dentro, o frio está infernal hoje e Oliver e Ophelia não estão em casa. Oliver viajou à negócios há três dias e Ophelia foi para um retiro literário. Estou mofando, sozinha dentro dessa mansão gigantesca.

Não que eu esteja reclamando, definitivamente é melhor do que um ônibus, mas não gosto de ficar completamente inútil. Checo o relógio e noto que já está tarde, os funcionários já foram dormir e eu fiquei na sala de leitura até agora devorando um romance que provavelmente levarei para o meu quarto.

Minha barriga ronca e me arrependo de não ter jantado, mas não posso me culpar, Jade e Tatum precisavam chegar aos finalmentes e eu havia chegado na famosa cena do clichê de uma cama só. Como abandonar isso? Não mesmo.

Minhas roupas de frio estão sujas, então puxo meu moletom que vai até um pouco abaixo das minhas coxas, se alguém me vir, não vai ver muita coisa. Calço meias e ando até a cozinha, pronta para catar algo rápido.

Uma coisa que aprendi com essas semanas na casa de Oliver é que nunca faltará nada em sua cozinha, e eu sinceramente acho isso um privilégio incrível. Imagina não faltar comida no fim do mês? Poder cozinhar o que você quiser, quando quiser. Não tem vida melhor.

Sinto desejo de comer algo específico que não como há anos, então decido me aventurar e fazer um estrogonofe que aprendi com minha colega de quarto brasileira. Lorrayne era um amor e sempre me ensinava receitas diferentes. O estrogonofe não é de fato brasileiro, mas o jeito deles de cozinhar com certeza é mais gostoso do que os outros que já comi.

Puxo todos os itens da receita e coloco meu celular para tocar uma música ambiente. Verzache toca All I Need baixinho pela cozinha, e me animo em começar a cozinhar.

Corto o frango em cubos e o tempero, deixando marinar um pouco. Retiro a pele do tomate e o pico em uma panela com água e um pouco de sal com manjericão e salsa, deixo ferver até que chore bastante água e bato todo o conteúdo com alho e azeite em um liquidificador.

Eu sempre gostei de cozinhar as coisas que uso, e usar poupa de tomate quando posso fazer é quase um sacrilégio. Não sei até quando vou poder fazer comida assim, sem me preocupar com racionar para durar o mês inteiro.

Balanço a cabeça no ritmo da música e despejo o molho de tomate em uma travessa. Refogo o frango e o deixo cozinhar no leite com manteiga, quando tudo termina eu uno as duas partes e adiciono um pouco de requeijão.

Fico extasiada de encontrar arroz brasileiro na despensa, e o preparo da maneira que aprendi.

Uma hora e meia depois, tudo está pronto e estou comendo feliz da vida na bancada da cozinha. Olho o telefone, que marca duas e meia da madrugada.

— Céus. — me espanto com o horário. — Eu deveria estar dormindo. — rio sozinha.

— Concordo.

Solto um grito alto quando encaro Oliver parado na porta, está encostado no batente da entrada da cozinha. Não sei como não o vi. Talvez a resposta seja a falta de lentes, já que eu não enxergo absolutamente nada sem elas e não consegui novas desde que Albert morreu. Não tive tempo, e agora, não tenho grana.

Reparo em suas roupas molhadas, ele pegou chuva da entrada até aqui, mas parece que está caindo o mundo lá fora e eu não notei.

— Puta merda, County. Quer me matar? — aperto meu coração.

— Você estava muito animada, não quis atrapalhar. É interessante ver alguém que não é chef cozinhando aqui. Definitivamente ninguém bate cabelo enquanto faz isso.

— Estavam presos. — reclamo. — Não vai comer, não encha.

— Quem disse que não vou comer? Estou morto. O jato se atrasou e tive que pegar um voo comercial, não aguentava mais esperar naquele aeroporto.

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora