Natasha resolveu se afastar.
Não tinha nenhuma desculpa boa para dar para Gael. Não tinha nada que pudesse inventar para sair daquela situação. Não existia nada que pudesse suavizar o que ela tinha feito (ou pensado em fazer).
E mesmo que tivesse, Natasha não estava mais disposta a mentir. Provara, da pior forma possível, que mentir não levava a nada. Mentir era doloroso, tanto pra quem ouvia a mentira quanto para quem a contava. Mentir era como bater no outro, vê-lo sangrar e insistir para todo mundo que você não tinha feito nada. Era impossível esconder e impossível voltar atrás.
Natasha sentia que havia ferido Gael profundamente. Sentia que o amigo tinha todo o direito de se afastar para cuidar das feridas que ela tinha causado e era justo que ele não voltasse se não conseguisse cicatrizar as marcas feitas por ela.
E Natasha resolveu se afastar.
Passou os dias seguintes vivendo como se estivesse anestesiada. Dormia, comia, assistia TV, ficava de pijama o dia inteiro... e tentava focar no fato de que em breve teria que ligar para a família no Brasil e avisar que não teria mais dinheiro para ajudar nas contas. Imprimiu as fotos da família e colocou pela casa, aceitando a dor que sentia ao lembrar do que tinha passado na infância e do quão mal havia lidado com tudo. Queria que as fotos em casa servissem como um novo ponto de partida. Queria e precisava convencer a si mesma de que era possível simplesmente recomeçar.
Ligou a televisão quatro dias depois e assustou-se ao dar de cara com Gael dando uma entrevista sobre a série que estrearia em breve. Gritou ao vê-lo na tv e jogou o controle longe, como se tivesse visto alguém que jurava ter morrido. Tampou os ouvidos com as mãos e fechou os olhos com firmeza, crendo que assim Gael desapareceria. E ele desapareceu. Com dificuldade, Natasha esticou-se para pegar o controle com os pés, decidida a não destampar os ouvidos e correr o risco de ouvir Gael falando. Ou, pior do que isso: rindo.
Logo percebeu que não conseguiria pegar o controle, retirando as mãos das orelhas e rapidamente alcançando-o enquanto cantarolava "la la la la" bem alto. Apertou o botão de desligar assim que conseguiu, mirando na TV e deixando a tela escura... mas não sem antes ver Gael sorrindo para o repórter. "Não acredito...", pensou Natasha, jogando-se no sofá "fui ver logo ele sorrindo...".
Levantou-se e caminhou até a cozinha, decidindo preparar novamente a torta que havia queimado quando Gael ainda morava lá e ela tinha feito café para ele. Juntou todos os ingredientes e tentou de novo, acrescentando dessa vez algo inédito: lágrimas. Muitas lágrimas. Ver Gael tinha quebrado novamente as poucas partes do coração que ela já tinha conseguido remendar. "Para de ler a mesma página de novo e de novo", disse a si mesma, "você precisa virar a página, Tashinha", pensou, enquanto cozinhava. E voltou a chorar.
***
Durante a noite, Natasha deitou-se no sofá para assistir TV, comendo a torta que havia demorado a tarde inteira para fazer. Por um milagre, dessa vez ela não tinha queimado a receita. Olhou ao redor e viu o quadro com os irmãos, decidida a ligar para a família no dia seguinte. Fazia muito tempo que não os via e estava decidida a reconstruir a amizade que tinha com eles. Ja que não podia mais ajudar com dinheiro, iria ajudar com carinho.
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O Amor Secreto Do Meu Melhor Amigo [Em Revisão]
ChickLitNatasha e Gael são amigos de infância que acabam se encontrando novamente depois de muitas reviravoltas do destino. Ele, prestes a se tornar uma das maiores estrelas do Netflix, acaba indo passar uma temporada na casa dela, que escreve para uma das...